Cabo submarino abre novo capítulo da disputa EUA-China por domínio da internet

Governo norte-americano teme que estruturas construídas por empresa chinesa viabilizem espionagem

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São Paulo

Estados Unidos e China, as duas maiores economias do planeta, estão em uma disputa acirrada pelo domínio da infraestrutura mundial de internet. A batalha mais recente ocorre no fundo do mar: o governo norte-americano teme que cabos submarinos construídos pela empresa chinesa Huawei permitam que a China espione os EUA e outros países.

O governo americano tenta oficialmente bloquear a participação da Huawei na infraestrutura de telecom (incluindo cabos submarinos) desde 2012, quando a empresa foi oficialmente classificada como “ameaça de segurança”.

O medo não é infundado. Cerca de 95% de toda a transmissão de dados intercontinentais passa por estes cabos e em 2013 Edward Snowden, ex-técnico da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA), disse que os próprios Estados Unidos grampearam alguns destes cabos, interceptando inclusive informações pessoais da então presidente brasileira Dilma Rousseff e da chanceler alemã Angela Merkel.

Os EUA entendem que na prática a Huawei funciona como um braço do governo chinês e desde 2017 está em vigor uma norma da Agência Nacional de Inteligência da China que obriga empresas privadas a cooperarem com os serviços do órgão.

A agressiva multiplicação dos cabos submarinos construídos pela Huawei é parte importante de um plano do governo chinês, que pretende aumentar o domínio tecnológico do país. A empresa concluiu em setembro um cabo de mais de 6.000 quilômetros entre Brasil e Camarões, trabalha em um enorme hub que conectará Europa, Ásia e África e tem dezenas de outros projetos.

O recluso fundador da Huawei, Ren Zhengfei, 74, em sua primeira aparição pública desde 2015, falou com a imprensa no início do ano. Ele disse que a empresa “nunca recebeu qualquer pedido de qualquer governo para fornecer informações impróprias” e negou as acusações de espionagem.Meng Wanzhou, filha de Ren e diretora financeira da Huawei, está presa no Canadá desde dezembro, acusada de violar sanções dos Estados Unidos contra o Irã. Em janeiro foi a vez de um diretor de vendas ser preso na Polônia, acusado de espionagem. Na ocasião, a Huawei disse que as “ações alegadas não têm relação com a empresa”. O funcionário foi demitido logo depois.

Muitos outros cabos serão necessários à medida em que pipoca a quinta geração de internet móvel no mundo, a rede 5G, tecnologia a qual a Huawei, maior fabricante de produtos de telecomunicações do mundo, também é distribuidora.

Mas o governo norte-americano já proibiu a Huawei de fornecer tecnologia 5G no país, assim como Austrália e Nova Zelândia. O motivo é o mesmo: os equipamentos da empresa poderiam favorecer a espionagem do governo chinês. Os EUA tentam ainda pressionar a Alemanha e outros aliados a fazerem o mesmo.

À reportagem da Folha, o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) disse por email que o ministério considera “a Huawei um player interessante para o Brasil” e que “até o momento nenhum órgão apresentou nenhuma demanda relativa à espionagem”.

O ministério informou ainda que a posição do ministro Marcos Pontes é a de que “qualquer decisão sobre a empresa depende de vários atores de governo e devem ser tomadas com base em fatos após investigações, se houverem”.

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