Acionistas da Gafisa aprovam Nelson Tanure no conselho e empresa terá aumento de capital

Novo presidente negou que incorporadora possa pedir recuperação judicial

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São Paulo

Acionistas da Gafisa aprovaram nesta segunda-feira (15) chapa com o empresário Nelson Tanure para o conselho de administração da companhia, que tenta se recuperar de sucessivas crises financeiras e institucionais. 

 

O nome de Tanure, especialista em investir em empresas quebradas e assumir litígios, foi antecipado pela Folha.

Na Assembleia Geral Extraordinária também foi autorizada uma nova rodada de capitalização da empresa, que deve emitir em torno de 26 milhões de ações em um prazo de cerca de 30 dias. A Gafisa já tem 43,4 milhões de papéis em circulação e seu regulamento permite até 71 milhões.  

O preço por ação, uma proposta elaborada pela casa de análise Eleven Research, será apresentado ao conselho na tarde desta segunda e, se aprovado, deve ser divulgado ao fim do pregão.

"Tenho que esgotar essa emissão de tal forma que não tenha sobras. Eu preciso desse caixa tanto para a necessidade imediata da empresa quanto para mostrar ao mercado que estamos fortalecidos. É um teste de confiança", afirmou Roberto Portella, presidente da Gafisa, a jornalistas. 

​Nesta segunda, as ações da Gafisa recuavam 3,6%, a R$ 7,54.

Nelson Tanure e a gestora Planner Redwood —que, com a corretora Planner, detém 18,5% da companhia— devem subscrever nessa primeira emissão.

"Nelson Tanure está firmemente empenhado na reestruturação dessa empresa", disse Portella. Segundo ele, Tanure tem hoje 500 ações da incorporadora.

Não houve quórum na assembleia para aprovar, no entanto, a intenção do conselho de ampliar o teto de ações dos 71 milhões para 120 milhões.

Mas Portella disse que os acionistas presentes se demonstraram favoráveis à proposta e que ela será votada em assembleia no dia 23, sob qualquer quórum. Assim, um segundo aumento de capital poderia ocorrer em até 90 dias.

Os acionistas autorizaram ainda a emissão de valores imobiliários (títulos de dívida) de até US$ 150 milhões, no Brasil ou no exterior.

A Gafisa fechou 2018 com uma dívida total de R$ 889,4 milhões, sendo que R$ 348,4 milhões vencem já neste ano, e um prejuízo líquido de R$ 419,5 milhões.

Aurélio Valporto, presidente da Abradin (Associação Brasileira de Investidores), disse que "a única saída para a empresa é o aporte de capital". Para ele, o momento é de apostar "porque essa nova administração tem demonstrado uma seriedade que não vimos nas administração anteriores" e as ações da Gafisa já estão em um patamar muito baixo. 

Portella negou que a Gafisa possa pedir recuperação judicial.

"Esse nome nunca foi cogitado dentro da administração e entre os sócios. Não temos nenhum plano que contemple essa hipótese. Temos passivos que não mereciam estar dentro do nosso balanço e isso não significa que não vamos contestar débitos. Mas a empresa não está insolvente, não está quebrada, tem patrimônio líquido positivo, está cumprindo contratos, fazendo obras e em vias de recuperar recursos", afirmou.

Além de Tanure e o próprio Portella, a chapa aprovada para mandato que termina em 2021 é composta por Antonio Carlos Romanoski, que atuou por 17 anos na companhia de energia Copel, Demian Fiocca, ex-presidente do BNDES, o empresário Thomas Cornelius Reichenheim, o atual diretor operacional da Gafisa, Eduardo Larangeira Jácome, e  Leo Julian Simpson, que já foi diretor jurídico da Oi.

"O novo conselho vai ter uma intimidade muito maior com o corpo executivo da empresa e um perfil muito mais contributivo. Será uma atividade hercúlea nos próximos anos, os anos da recuperação", disse Portella.

Do time original, o grupo sofreu duas baixas: Augusto Cruz, que chegou a assumir o conselho da Gafisa na recente transição de controle da empresa, e André de Almeida.

Almeida decidiu retirar seu nome para evitar acusações de conflito de interesses, conforme antecipou a coluna Painel S.A. Advogado, ele já representou Tanure no caso Oi, mas também a gestora GWI, que tomou o controle da Gafisa em 2018.

 

​Os acionistas deram aval ainda para a contratação de consultorias que devem auxiliar no planejamento estratégico de longo prazo da Gafisa e na radiografia da situação da empresa.

Portella assumiu após Ana Recart renunciar ao cargo, no fim de março, selando o fim de seis meses conturbados para a companhia sob o comando da GWI, do investidor sul-coreano Mu Hak You. 

Mu é conhecido no mercado como “rei do termo” por sua estratégia arriscada de comprar ações a prazo e lucrar caso elas se valorizem.

Chegou a adquirir quase 50% dos papéis da Gafisa, mas, em meio à crise na construtora, se viu pressionado para cobrir margens de garantia de suas posições alavancadas.

Fundos de investimentos representados pela administradora Planner adquiriram então participação relevante na Gafisa em fevereiro, após a GWI promover um leilão de quase 34% das ações da incorporadora, e convocaram a assembleia.

Cogitou-se pedir a suspensão dos direitos de acionista da GWI, já que ela não formulou uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) por ter atingido a participação acionária relevante. Mas, como a GWI não tem mais nenhuma ação da Gafisa, o pedido se tornou inócuo.

Acionistas aprovaram, no entanto, que fosse feita uma varredura na temporada da gestora à frente de companhia, em busca de possíveis danos à empresa que pudessem resultar na solicitação de ressarcimentos.

A gestão de Mu Hak You prometia uma ampla estratégia de recuperação do valor da companhia, com um dos principais pilares sendo a redução de custos. À frente da Gafisa a partir de setembro de 2018, a gestora cortou funcionários —incluindo do alto escalão da construtora—, suspendeu pagamentos a fornecedores e fechou abruptamente a filial no Rio de Janeiro. Em cargos-chave, colocou advogadas sem muita experiência na área, como Ana Recart.

"Vamos estudar do ponto de vista jurídico quais foram os efeitos desses atos sob o aspecto regulatório e também para a empresa. Houve redução de ações que eram ativo da empresa, pessoas de boa qualidade foram excluídas do cargo. Hoje, não sabemos exatamente se essa decisão foi acertada, há suspeita de que não tenha sido", disse Portella.

Segundo ele, a gestão anterior também "queimou o caixa", incluindo o dinheiro de comercialização de imóveis e de uma capitalização feita em fevereiro do ano passado. "Ele foi queimado em vez de ser aplicado na finalidade operacional da empresa, tanto que houve decréscimo de produção. Lógico que o mercado também estava deprimido, mas esse dados de mau uso de caixa podem ter feito com que houvesse efeito negativo", disse.

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