FMI reduz projeção de crescimento global em 2019 de olho em China, EUA e Alemanha

Estimativa para o Brasil também caiu para 2,1% neste ano; reforma da Previdência é necessária, diz relatório

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São Paulo

Com a projeção de que 70% da economia mundial deve desacelerar neste ano, o FMI (Fundo Monetário Internacional) voltou a cortar sua estimativa para o crescimento global em 2019.

O "World Economic Outlook" de abril, divulgado nesta terça-feira (8), prevê um PIB (Produto Interno Bruto) mundial de 3,3% neste ano. Era 3,7% no relatório de outubro de 2018 e já havia sido revisado para 3,5% em janeiro.

Após forte crescimento em 2017 e no início de 2018, diz o FMI, a atividade mundial desacelerou no segundo semestre do ano passado, refletindo escalada nas disputas comerciais --notadamente entre Estados Unidos e China--, declínio na confiança das empresas, aperto de condições financeiras e maior incerteza política em diversos países.

"Há um ano, a atividade econômica estava acelerando em quase todas as regiões do mundo. Um ano depois, muita coisa mudou", escreveu no blog do FMI Gita Gopinath, conselheira econômica e diretora do departamento de estudos do Fundo.

Além da disputa com os EUA, a China sofreu com um aperto regulatório para controlar dívidas e um sistema financeiro paralelo. O enfraquecimento da demanda por importações no gigante asiático, por sua vez, impacta parceiros comerciais como a Europa.

Soma-se a isso a queda na confiança de consumidores e empresários da zona do euro, que perdeu mais ímpeto econômico do que o esperado. 

O relatório cita a produção de veículos na Alemanha --principal força econômica do bloco--, que foi abatida por novos padrões para emissão de poluentes, além de preocupações com a inviabilidade de um acordo para o brexit (retirada do Reino Unido da União Europeia).

"Tensões comerciais, cada vez mais, prejudicaram a confiança das empresas e, portanto, o sentimento do mercado financeiro se agravou", diz o relatório. 

Essas condições até se acomodaram no início de 2019, após o banco central americano sinalizar cautela em sua política monetária e os mercados ficarem otimistas com um possível acordo entre EUA e China. Ainda assim, o FMI afirma que o clima está um pouco mais restritivo.

Também houve redução na estimativa de crescimento para 2020, de 0,1 ponto percentual ante outubro, a 3,6% --mesmo ritmo registrado em 2018. 

Embora seja um avanço em relação à projeção de 2019, Gopinath destaca que a recuperação prevista para 2020 é precária, já que está atrelada à retomada de economias em desenvolvimento cheias de incertezas, como Argentina e Turquia.

Emergentes como um todo devem crescer 4,4% neste ano e 4,8% em 2020, num movimento liderado pela China, que avança na casa dos 6%, e pela Índia, que supera 7%. 

As projeções para o PIB do Brasil são mais modestas: 2,1% em 2019, um corte de 0,4 ponto percentual ante janeiro --mas ainda acima da estimativa do Boletim Focus, do Banco Central brasileiro, de 1,97%. 

Rigidez estrutural, termos de trocas comerciais moderados e desequilíbrios fiscais pesam sobre as perspectivas do país, de acordo com o FMI.

A prioridade do governo brasileiro, segundo o relatório, deve ser conter o aumento da dívida pública, o que inclui reformas no funcionalismo público e no sistema de aposentadorias, "protegendo, ao mesmo tempo, programas para os vulneráveis".

Para 2020, no entanto, a previsão do Fundo para o PIB do Brasil subiu de 2,2% para 2,5%. O Focus aponta para 2,7%.

Com reformas trabalhistas e no crédito, "esforços para melhorar a infraestrutura e a eficiência da intermediação financeira ajudariam a elevar a produtividade e impulsionar as perspectivas de crescimento a médio prazo", diz o FMI.

Em nível global, devem contribuir para uma recuperação no segundo semestre, por exemplo, a continuidade das políticas de aquecimento na China e uma acomodação significativa e mais generalizada das políticas monetárias.

A atividade nas economias avançadas, por outro lado, deve seguir desacelerando, conforme o impacto do estímulo fiscal dos EUA se dissipa.

Gopinath diz que uma recessão global não está nas projeções de referência do Fundo, mas afirma que "há muitos riscos negativos" e "este é um momento delicado para a economia global". 

Entre os desafios, cita a possibilidade de tensões em políticas comerciais voltarem a crescer e se alastrarem para outras áreas, como a indústria automobilística.

Ela reforça a necessidade de cooperação entre os países para resolver conflitos comerciais, enfrentar mudanças climáticas e riscos cibernéticos e melhorar a eficácia da tributação internacional.

"Se qualquer um dos principais riscos se materializar, a recuperação esperada em economias estressadas, dependentes de exportações e altamente endividadas pode ser prejudicada."

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