Em visita ao Brasil na última semana, Mike Manley, presidente do grupo FCA Fiat Chrysler, anunciou investimentos no país e evitou falar de fusões com outras empresas. Contudo, disse que parcerias favoráveis ao negócio não poderiam ser descartadas, fala que vinha sendo repetida em todos os encontros do executivo com a imprensa.
Naquele momento, as negociações com a Renault já estavam avançadas, embora ainda não houvesse uma definição.
A fala de Manley se encaixa no cenário atual, em que a Renault oferece o que falta ao grupo ítalo-americano.
A empresa francesa tem os veículos que não queimam combustível, principal deficiência do grupo FCA.
Enquanto a Renault produz o Zoe, carro elétrico mais vendido da Europa em 2018, a Fiat entrega o 500e.
Em 2014, o ex-presidente do grupo ítalo-americano, Sergio Marchionne (1952-2018), pediu para que os consumidores não comprassem aquele carro, pois cada unidade era comercializada com prejuízo.
Do lado do grupo FCA, a colaboração deve vir com utilitários esportivos e motores a combustão com alta eficiência energética.
A marca Jeep se consolida como a principal do segmento de SUVs em grandes mercados –um desses é o brasileiro— e haverá também versões com a marca Fiat.
Os utilitários Jeep e Fiat serão maioria entre os lançamentos previstos para a América do Sul até 2024, resultado dos investimentos de R$ 16 bilhões que estão sendo feitos nas fábricas de Betim (MG) e de Goiana (PE).
Uma das possibilidades é a produção conjunta no Brasil. A Renault tem um grande complexo em São José dos Pinhais (PR), dedicado apenas aos carros da marca. Contudo, no passado, modelos Nissan foram feitos lá.
Com o desenvolvimento de futuros produtos em parceria, os moldes dessa operação no país pode seguir o que feito nas linhas de montagem do grupo PSA Peugeot Citroën, em Resende (RJ), e da Volkswagen Audi, também em São José dos Pinhais.
A diferença estará no volume. Hoje, o grupo FCA Fiat Chrysler é o maior produtor de automóveis no Brasil. Se a conta incluir a Renault, abrirá vantagem considerável.
Segundo a Reuters, membros do conselho de administração da Renault vão se reunir informalmente dentro de alguns dias, com o objetivo de decidir no início da próxima semana se avançarão nas negociações sobre a fusão proposta.
Somadas, as empresas envolvidas na fusão detêm 27,3% do mercado nacional de carros de passeio e veículos comerciais leves. Os números são do primeiro quadrimestre de 2019, divulgados pela Fenabrave.
A General Motors tem 18,02% de participação no período.
A fusão entre empresas é um movimento que se tornou comum no setor automotivo. Neste momento, as experiências das empresas envolvidas --algumas frustadas-- dão base para uma relação sólida.
A Chrysler fez parte do grupo Daimler (dono da Mercedes-Benz) de 1998 a 2007. A empresa americana saiu combalida dessa empreitada, sendo repassada ao grupo investidor Cerberus.
A Fiat, que conseguiu se capitalizar após o desfecho de sua parceria com a General Motors (entre 2000 e 2005), costurou há cinco anos a fusão com os fabricantes da Jeep e hoje forma um grupo sólido.
A Renault passa por um momento turbulento em sua relação com Nissan e Mitsubishi.
O lado japonês é contrário à fusão plena entre as partes, embora a parte francesa seja detentora de 43% das ações da Nissan.
A Nissan reúne hoje as duas necessidades de Renault e FCA: utilitários de sucesso global e um programa robusto de eletrificação, que foi desenvolvido sob o comando de Carlos Ghosn, ex-presidente das empresas.
Com a chegada do grupo FCA ao negócio, haverá uma reorganização de forças. Após a fusão das empresas europeias e americana, o próximo movimento dos japoneses é aguardado pelo mercado.
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