Mirando Apple, Google tenta convencer usuários de que se importa com privacidade

Empresa anunciou em evento nos EUA novas ferramentas de proteção de dados dos usuários

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Bruno Fávero
Mountain View (EUA)

Lançamentos de novos aparelhos e tecnologias como inteligência artificial e realidade aumentada costumam ser os destaques de eventos do Vale do Silício, mas ferramentas de privacidade também estiveram no palco do Google I/O deste ano, conferência anual da marca para desenvolvedores.

A empresa mostrou uma série de medidas voltadas para aumentar o controle dos usuários sobre seus dados e tentou mostrar que se preocupa com a proteção dessas informações.

Ainda neste ano, os serviços de mapas e de buscas da empresa ganharão um modo anônimo, que desativa o armazenamento de informações da navegação no perfil do usuário, e uma ferramenta que deleta os dados guardados periodicamente.

Já a próxima versão do Android contará com uma seção de fácil acesso dedicada às configurações de privacidade do telefone. E a Nest, divisão de equipamentos para a casa, divulgou uma nova política em que promete ser transparente com relação a como seus aparelhos coletam e processam informações.

Numa indústria marcada por sucessivos escândalos de mal uso de informações de usuários e brechas de segurança, a privacidade se tornou um diferencial e terreno para disputas.

Ao enumerar essas iniciativas do Google em um artigo para o "New York Times" publicado na terça-feira (7) o presidente da companhia, Sundar Pichai, alfinetou a Apple, defendendo que "privacidade não pode ser um bem de luxo oferecido apenas a pessoas que possam bancar produtos e serviços de primeira linha".

A fabricante dos iPhones tem feito da proteção de dados uma estratégia de vendas, se aproveitando do fato de que, diferentemente de Facebook e Google, ela ganha dinheiro principalmente com a venda de equipamentos, não com a distribuição de publicidade refinada pela coleta em massa de dados.

A Apple diz em seu site que considera privacidade "um direito humano" e frequentemente enfatiza a questão em seus anúncios publicitários, usando slogans como "Privacidade. Isso é o iPhone" e "Se privacidade é importante na sua vida, também deveria ser no seu telefone".

Num momento em que o Google investe para também se tornar uma grande fabricante de hardware, especialmente para a casa, convencer o público de que toma cuidado com os dados sensíveis coletados por esses aparelhos pode ser a diferença entre falhar ou ser bem sucedido no segmento.

Em uma pesquisa do instituto Survey Monkey, 93% das famílias que possuem caixas de som inteligentes nos EUA disseram se preocupar com questões de privacidade.

Homem tira foto de novos produtos Google durante o Google I/O deste ano, conferência anual da marca para desenvolvedores, em Mountain View, na California (EUA) - Josh Edelson/AFP

Talvez ainda mais importante seja evitar os danos que podem ser causados por uma postura displicente com a proteção de dados, como ilustra bem o escândalo recente do Facebook com a Cambridge Analytica, consultoria de marketing político que usou indevidamente dados de 86 milhões da rede social.

Depois que o episódio se tornou público, no primeiro semestre de 2018, o preço das ações da empresa de Mark Zuckerberg chegou a cair de US$ 185, em março, para US$ 124, em dezembro, e só recentemente recuperou seu valor original.

Uma pesquisa de opinião encomendada pelo site Recode também sugere que o episódio afetou a imagem pública da empresa: 56% dos americanos entrevistados disseram que a companhia de Zuckerberg é a menos confiável entre as gigantes da tecnologia.

Por fim, o Facebook ainda está espera a conclusão das investigações sobre o caso por autoridades que, além dos desgastes, devem resultar em punição financeira.

No relatório de resultados do último trimestre, a empresa reservou US$ 3 bilhões para pagar uma provável multa da FTC (Federal Trade Comission), órgão americano de proteção dos consumidores.

O jornalista viajou a Mountain View a convite do Google

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