Informalidade no trabalho volta a bater recorde, diz IBGE

24,4 milhões de pessoas trabalham por conta própria, e 11,8 milhões não têm carteira assinada no setor privado

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Rio de Janeiro

A informalidade continua batendo recordes no mercado de trabalho brasileiro, informou nesta quinta-feira (31) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com o instituto, 11,8 milhões de pessoas trabalhavam sem carteira assinada no setor privado no terceiro trimestre do ano, um crescimento de 2,9% (338 mil pessoas) com relação ao trimestre encerrado em junho.

Os trabalhadores por conta própria, atividade em que a maioria deles é informal, atingiram 24,4 milhões de pessoas, alta de 1,2% (293 mil pessoas).

Ambas as marcas são novos recordes na série histórica do IBGE.

"Temos mais pessoas trabalhando nesse trimestre, mas a questão é a qualidade dessa forma de inserção informal”, disse a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

O número de informais considera empregados do setor privado e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e empregadores sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.

O total de trabalhadores domésticos sem carteira fechou em 4,5 milhões no período, enquanto os trabalhadores familiares auxiliares e empregadores sem CNPJ ficaram em 2,1 milhões e 800 mil, respectivamente.

Os aumentos também são vistos na comparação com o mesmo período de 2018. As altas foram de 3,4% (384 mil) entre os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada e de 4,3% (1 milhão) entre os conta própria.

No trimestre encerrado em setembro, 38,8 milhões dos trabalhadores eram informais, ou 41,4% do total.

O economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, disse que o perfil dos postos de trabalho mudou após a crise, o que motivou a criação dos empregos informais.

"O trabalho informal é um colchão amortecedor da crise, absorve pessoas no mercado quando a economia ainda não tem condições de trazer as pessoas de volta", disse.

Segundo ele, o fechamento de postos parou desde que o país começou a sair da crise. "A economia cresceu pouco e as empresas ainda estão sem condições de contratar na CLT, mas apareceram novas formas de trabalho, com o crescimento de postos sem carteira e por conta própria".

Por conta da informalidade, a população ocupada registrou um recorde na série histórica que teve início em 2012: 93,8 milhões de pessoas. Desse total, 33,1 milhões têm carteira assinada, número que ficou estável, segundo o IBGE.

Para Renan Pieri, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da FGV, os dados são positivos e indicam recuperação econômica. "É menor do que a gente precisava ter, mas ela é positiva, os empregos estão acontecendo", analisou.

Pieri afirmou o trabalho formal deve voltar a crescer quando o mercado melhorar. O informal, disse, serve em um primeiro momento como forma de expandir a produção em cenário ainda de incertezas.

Com o avanço do emprego calcado na informalidade, a taxa de desocupação caiu de 12% para 11,8% na passagem do trimestre que teve fim em junho para aquele terminado em setembro.

No mesmo trimestre de 2018, a taxa era de 11,9%.

Segundo a analista do IBGE, a queda na taxa é comum nos meses de setembro. "É uma sazonalidade típica do mercado de trabalho", apontou Beringuy.

"O ano geralmente começa com mais pessoas procurando trabalho. No terceiro trimestre, há tendência de reversão."

O aumento na população ocupada foi de 459 mil pessoas (0,5%) na comparação com o trimestre encerrado em junho, e 1,5 milhão de pessoas (1,6%) na análise com o mesmo período de 2018.

A categoria construção foi a que mais cresceu: 254 mil pessoas (3,8%), mas também por conta da informalidade.

"São obras e reformas em pequenos prédios, com profissionais que trabalham por conta própria”, disse Beringuy.

Já na comparação com igual período do ano passado, o destaque foi a categoria transporte, armazenagem e correio registrou aumento de 279 mil pessoas (6,1%). É nesta categoria que estão, por exemplo, os motoristas de aplicativos.

Outro ramo com alta foi informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, com mais 404 mil pessoas (4%).

Já o número de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas caiu 4,2% (311 mil pessoas) na comparação com o trimestre móvel anterior, atingindo 7 milhões de brasileiros.

De acordo com o IBGE, 12,5 milhões de pessoas ainda estão desempregadas no Brasil.


93,8 milhões

foi o total de brasileiros empregados no trimestre encerrado em setembro​

38,8 milhões

foi o número de trabalhadores na informalidade no período

Colaborou Arthur Cagliari, de São Paulo

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