Mês da Black Friday frustra previsões e coloca em dúvida ritmo da retomada

Vendas do varejo sobem a metade do estimado em novembro, e Bolsa tem a maior queda do ano

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Rio de Janeiro e São Paulo

O desempenho abaixo do esperado da indústria, do comércio e dos serviços em novembro mostra um quadro oscilante da economia brasileira no fim de 2019, segundo especialistas ouvidos pela Folha.

Nesta quarta-feira (15), o IBGE divulgou que as vendas no varejo subiram 0,6% em novembro sobre outubro, impulsionadas pela Black Friday. Na comparação com novembro de 2018, a alta foi de 2,9%, a oitava taxa positiva seguida.

Os números, porém, frustraram as estimativas do mercado. Economistas ouvidos pela agência Bloomberg projetavam crescimento de 1,1% ante outubro e de 3,9% na comparação com novembro de 2018.

A decepção afetou a Bolsa brasileira, que teve o pior pregão de 2020 nesta quarta, com queda de 1%, a 116 mil pontos.

Foto está divida em duas: no canto direito um homem e uma mulher empurram carrinhos de supermercado com mercadorias; no canto esquerdo está um cartar escrito 'Black Friday' em preto
Supermercado em São Paulo durante liquidações da Black Friday - Rahel Patrasso - 28.nov.19/Reuters

O movimento de aversão a risco também impactou o dólar comercial, que subiu 1,2%, a R$ 4,181 —o pior desempenho entre as principais moedas.

Segundo a XP Investimentos, houve “uma grande frustração de expectativa” com relação ao ritmo da recuperação da atividade econômica no último trimestre de 2019.

Nos últimos dias, o IBGE já havia divulgado que o volume de serviços caiu 0,1% em novembro, interrompendo duas altas seguidas. Já a produção industrial recuou 1,2% em novembro, interrompendo três meses positivos consecutivos.

Para o economista e professor dos MBAs da FGV Mauro Rochlin, os números colocam dúvida sobre o desempenho do país no fim de 2019 e a consistência da retomada da atividade.

“Não dá para dizer que entramos em novo ciclo de crescimento, que o investimento vai voltar forte e vamos ser felizes. Ainda é cedo para esse diagnóstico”, disse Rochlin.

“O mercado continua acreditando no crescimento de 1,2% para o ano passado. Mas o importante é identificar a tendência, e os números que vimos dificultam isso, pois são oscilantes”, afirmou.

Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse que os números de novembro decepcionaram, mas não vê muita influência no resultado fechado de 2019.

“Novembro não foi legal, mas achamos que [o crescimento da economia] fecha o ano próximo de 1,1% e 1,2%. Tira um pouco o ímpeto, mas de qualquer maneira há crescimento, só que o ritmo caiu em relação ao que era esperado”, disse.

Ricardo Jacomassi, economista e sócio da TCP Partners, afirmou que os números do comércio no ano, com crescimento acumulado de 1,7%, estão um pouco acima do esperado e citou a questão sazonal para o mês de novembro.

“Se pegar o histórico, entre agosto e setembro a indústria cresceu. Trabalhou, produziu e vendeu ao comércio. Era natural que tivesse queda ou estabilidade entre novembro e dezembro, só que a queda foi acima do que era esperado.”

Jacomassi é otimista em relação aos números do comércio no último mês do ano. “Dezembro teve um crescimento e acreditamos que comércio vai ficar de 3% a 5%. Temos clientes de supermercados, importante no varejo, que informaram que as vendas ficaram acima do que estavam prevendo. Previam 5% e ficou em torno de 7%. De uma maneira geral, os dados de dezembro parecem positivos”, afirmou.

Felipe Sichel, estrategista do Modalmais, disse ter ficado decepcionado com os dados de novembro e demonstrou cautela com as revisões para o fim de 2019.

“Ante o maior otimismo observado ao final de 2019 e as expectativas de revisões paulatinas para cima nas projeções de atividade, há evidente decepção dos dados para novembro, em indústria, serviços e comércio. Assim, a possibilidade de revisões positivas no cenário de final de 2019 e começo de 2020 fica, por enquanto, contida”, afirmou.

Em novembro, o comércio teve alta impulsionada pela Black Friday. Das 8 atividades pesquisadas pelo IBGE, 4 subiram —três delas diretamente influenciadas pelo dia promocional: farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (4,1%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,0%) e móveis e eletrodomésticos (0,5%).

O setor de maior peso no varejo, de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, ficou estável.

No comércio varejista ampliado, que vinha de oito meses de crescimento, o volume de vendas recuou 0,5% em novembro na comparação com o mês anterior. O resultado foi puxado pela queda no setor de veículos, motos, partes e peças (-1,0%), enquanto material de construção apontou estabilidade (0,1%).

Na indústria, o setor de veículos automotores, reboques e carrocerias caiu 4,4% e foi uma das principais influências negativas para o período.

Segundo o IBGE, a alta do comércio no acumulado de janeiro a novembro foi de 1,7%. O indicador dos últimos 12 meses foi de 1,8% em outubro para 1,6% em novembro, sinalizando perda de ritmo.

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