Em uma tática nada usual, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi indicado como o relator do projeto que prevê ajuda financeira aos estados e municípios durante a crise do coronavírus.
A decisão pelo nome do senador foi articulada entre o governo e partidos do centrão, que negociam espaço no governo Jair Bolsonaro em troca de apoio na Câmara e também no Senado.
A indicação de Davi Alcolumbre foi decidida nesta segunda-feira (22), após reuniões no Palácio do Planalto e anunciada pelo líder do governo, Senador Fernando Bezerra (MDB-PE).
No Ministério da Economia, o nome do senador era colocado como o adequado, uma vez que o governo já abriu um canal de negociação com o presidente da Casa.
"Essa é uma forma de estabelecer uma relação política e institucional com o governo", disse o presidente do Senado aos líderes.
Segundo a assessoria de Alcolumbre, o texto do projeto deve ser finalizado até o final desta semana. Durante o fim de semana, Alcolumbre esteve reunido com técnicos do Senado e a equipe econômica acertando a medida.
"Independentemente de ele ser o relator, ele vai ajudar a construir o texto. Ele tem sido a única fonte de conversa com o governo", afirmou a assessoria.
A reunião virtual que selou o nome de Alcolumbre não foi transmitida pelos canais oficiais do Senado, mas foi acompanhada pela Folha.
"O mais adequado para a missão de relatar esse projeto é o presidente Davi. Eu concordo com o líder Bezerra nesta indicação", disse o líder do MDB, Eduardo Braga (AM).
Quem também apoiou a indicação foi o líder do PP, senador Esperidião Amin (SC). "O presidente Davi já está negociando com o governo. Da forma como ele está agindo, já é de fato o relator deste projeto", afirmou aos colegas.
A indicação do presidente do Senado foi apoiada pela maioria dos líderes, entre eles o do PT, Humberto Costa (PE).
Durante a reunião virtual, senadores se manifestaram contrários, como a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), Simone Tebet (MDB-MS) e o líder do PSL, Major Olímpio (SP). Eles, contudo, foram voto vencido.
"O presidente Davi é adequado e moderado para fazer essa intermediação com o governo", disse o líder o PT.
O projeto do governo que será votado no Senado vai engavetar o texto aprovado pelos deputados sem contrapartidas de estados e municípios. O projeto foi articulado pelo presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), com governadores.
Para alguns senadores, a decisão de Alcolumbre de aceitar a relatoria o coloca em divergência direta com Maia. Alcolumbre tem mantido conversas regulares com a equipe do governo, inclusive com o presidente Bolsonaro, com quem esteve reunido ainda nesta quarta-feira (22).
De acordo com um dos senadores ouvidos pela reportagem após a reunião, o governo está usando Alcolumbre para enfraquecer Maia e a Câmara.
Para tentar barrar o plano da Câmara, o governo, por meio do ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou aos senadores contraproposta de R$ 127,3 bilhões. Isso inclui R$ 49,9 bilhões com medidas já adotadas e R$ 77,4 bilhões de novas ações.
Na segunda-feira (20), o ministro disse que poderia ampliar o plano do governo. Para isso, o Senado teria de aprovar o congelamento de salários do funcionalismo por dois anos.
Apesar da promessa, técnicos da economia veem pouco espaço para que esse auxílio financeiro seja expandido. Davi, contudo, falou aos colegas que o congelamento de salários estará na proposta.
"Servidor público tem de aprender a contribuir também", disse o presidente do Senado durante a reunião com os líderes.
O governo tem insistindo no argumento de que a proposta da Câmara prejudica os estados do Nordeste e do Norte, para convencer os senadores a alterarem o modelo de divisão dos recursos defendido por Maia.
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