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Anastasia vira bombeiro entre os Poderes durante crise do coronavírus

Senador mineiro tem ponderado disputas pelas pautas econômicas entre Legislativo e Executivo

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Brasília

O vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG), tem sido escalado como uma espécie de equilibrista nas disputas pelas pautas econômicas entre Legislativo e Executivo.

O principal foco de tensão são as divergências entre o governo Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), especialmente as que envolvem o socorro aos estados.

Mineiro, em segundo mandato na Casa, o senador é caraterizado pelos colegas como contido. Com esse perfil, é visto como um dos únicos capazes de chegar a um consenso em projetos conflituoso. Para manter a escalação, ele não entra em divergência. Evita críticas tanto para o governo quanto para a Câmara, esquivando-se das perguntas. "Não adianta tentar. Não entro em polêmica. Sempre busco a convergência."

Como vice-presidente da Casa, o senador do PSD se transformou em um "testa de ferro" do presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP), que tem se aproximado do presidente Jair Bolsonaro, ao contrário do presidente da Câmara e em desacordo com vários senadores.

Antônio Anastasia (PSDB-MG) durante sessão remota do Senado Federal - Pedro Ladeira - 20.amr.2020/Folhapress

Anastasia tenta colocar panos quentes, alegando que o problema que gera embates nas Casas está na falta de paciência entre os comandantes.

Ele, contudo, ressalta que não quer servir de "conselheiro dos colegas" nem ser responsável por desarmar projetos chamados de pautas-bomba pelo governo, vindos da Câmara. Mas sua atuação nesta linha não tem sido poupada.

Ainda nesta semana, a proposta de ajuda financeira aos estados, encabeçado por Maia com o aval dos governadores, chegou para apreciação do Senado sob críticas do governo.

Na Casa, foi anexado a um projeto de Anastasia que trata de tema semelhante, com o apoio de Alcolumbre, que tem se mostrado insatisfeito com Maia pela falta de diálogo.

"Embora o projeto seja meu, a ideia [de anexar ao projeto do Maia] não foi minha. Desse abacaxi estou livre já que não vou nem relatar, mas entendo que meu projeto pode buscar a convergência entre os Poderes que está faltando", diz.

O mais recente trabalho de Anastasia foi o relatório da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do Orçamento de guerra, que foi aprovada em segundo turno na tarde de sexta-feira (17). Com as mudanças, o texto foi encaminhado novamente à Câmara.

Embora o texto restrinja a atuação do BC (Banco Central) durante a crise do coronavírus, ele foi construído com o aval do próprio presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

"Eu sou uma pessoa do diálogo, e era preciso diálogo. Dialoguei com o presidente do Banco Central, e acho que o BC entendeu que as modificações eram positivas para eles mesmos. Tudo foi feito com consenso", afirma o senador.

O texto aprovado veta o uso de dinheiro da autoridade monetária para lucro e dividendos de bancos durante o período de calamidade pública, que se estende até 31 de dezembro. Ainda na terça-feira (14), Anastasia acatara novas emendas ao relatório, atendendo com isso complementações de diferentes alas do Senado.

"Sempre busco a convergência, me colocar no lugar do outro. Ainda que existam muitos conflitos, é preciso entender que isso não pode atrapalhar a questão pública", diz.

"Entendi que, mesmo que a atitude do presidente Rodrigo Maia tenha sido correta em encaminhar a proposta, havia muita resistência e era preciso suprir isso", afirma.

Entre as mudanças consideradas mais polêmicas e contrárias ao que foi aprovado pela Câmara, o Senado acrescentou alterações como a que prevê a proibição de as instituições financeiras que venderem ativos para o BC usarem os recursos para distribuição de lucros e dividendos.

Nas palavras da senadora Simone Tebet (MDB-MS), Anastasia é como um "Michelangelo da política", capaz de unir diferentes interesses sem que entre em conflito com nenhuma das partes.

Em meio às propostas que tratam de recursos no período da pandemia, Anastasia conseguiu até o apoio de senadores do PDT e do PT. Os opositores ligaram ao senador para ajudar na elaboração do texto.

"Não há dúvida que o que falta é diálogo, e isso não é uma exclusividade do mundo político. É um reflexo da sociedade. A sociedade está muito radicalizada e as pessoas precisam aprender a respeitar umas às outras. Esse é meu estilo. Eu não funciono no grito", define-se o senador.

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