Zonas comerciais nas maiores capitais acumulam prejuízos com quarentena

Mesmo negócios que permanecem abertos, como farmácias, têm queda nas vendas e avaliam fechar

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Salvador , Recife, Porto Alegre , Curitiba , Belo Horizonte e Rio de Janeiro

Comerciantes das principais capitais do país amargam prejuízos, demissões e medo de ter de fechar as portas definitivamente por causa dos efeitos econômicos decorrentes das medidas para conter a pandemia do novo coronavírus.

Tradicionais ruas de comércio estão desertas. Mesmo atividades que podem continuar funcionando, como farmácias, tiveram declínio nas vendas. Associações cobram das autoridades suspensões no pagamento de tributos e pedem que os governos apresentem soluções.

Alguns conseguem vender pela internet, mas não o suficiente para manter o negócio no mesmo volume que antes.

“Tem muita gente que está segurando, mas vai reabrir [quando a quarentena passar] apenas para liquidar o estoque”, diz o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas Salvador, Alberto Nunes.

A entidade estima que as cerca de 7.000 lojas da cidade tenham demitido, ainda no início da crise, pelo menos 30% de seus 120 mil funcionários. Quem ficou está tendo o contrato suspenso ou corte de jornada e salário.

A prefeitura autorizou a abertura de lojas com até 200 m² —além de serviços essenciais como farmácias, supermercados e postos de combustíveis—, mas esses estabelecimentos só estão funcionando mesmo nos bairros. No centro, não há clientes.

Em Porto Alegre, a tradicional rua dos Andradas, com ao menos 75 estabelecimentos comerciais, só não se converteu em um completo deserto porque ali funcionam ao menos 21 farmácias.

Quase dois terços dos comerciantes da cidade estavam completamente parados na segunda quinzena de abril, conforme pesquisa do Sindilojas (sindicato lojista) —os demais mantinham atendimento virtual, que cresceu 26%, ou por delivery.

“Tanto tempo com negócios fechados vai causar uma desestruturação especialmente nas pequenas e médias empresas”, diz Paulo Kruse, presidente do Sindilojas.

Um de cada quatro comerciantes de Porto Alegre já demitiu alguém. Um terço deu férias coletivas. O comércio local tem 80 mil funcionários.

Na sexta-feira (1º), o prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB) anunciou que profissionais autônomos e liberais, microempreendedores e microempresas poderão retomar as atividades em Porto Alegre.

Academias, casas noturnas, cinemas, entre outros, continuam obrigados a manter as portas fechadas. O isolamento social na cidade foi prorrogado até 31 de maio.

No Recife, onde 95% do comércio está fechado há 40 dias, 20% dos empresários não devem conseguir retomar as atividades, projeta o setor.

Na avaliação do presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Recife, Frederico Leal, as lojas maiores, concentradas na av. Conde da Boa Vista, conseguirão sobreviver porque estão localizadas em uma via de melhor acesso.

Outras, menores e concentradas em vias do centro, no bairro de São José, terão mais dificuldade, apesar de estarem no polo tradicional do comércio de rua do Recife.

“A indefinição é tanta que a gente não sabe como vai ser quando voltar”, diz Leal.

Mesmo em cidades onde o comércio está aberto o setor sofre, já que o movimento nas ruas é nulo. É o caso de Curitiba, que reabriu os estabelecimentos há duas semanas por pressão da Associação Comercial do Paraná.

“Não tem movimento, as pessoas não estão com foco em comprar”, diz Sueli Volaco, dona de uma loja no calçadão da rua 15 de Novembro.

Em Belo Horizonte, a Câmara de Dirigentes Lojistas reclama da falta de planos para a reabertura.

“Estamos atrasados e estamos cobrando isso”, diz o presidente da CDL, Marcelo de Souza e Silva.

O prefeito Alexandre Kalil (PSD) criou um grupo de técnicos, secretários e entidades do setor para conduzir estudos e medidas para a flexibilização do comércio local, que deve perder 1 de cada 4 lojas, segundo pesquisa do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas).

A pesquisa aponta que 25% das empresas cortaram salários e 35% demitiram funcionários. Dos 35 mil associados do Sindilojas, cerca de 90% têm comércio nas ruas.

Flávio Assunção, 48, por exemplo, suspendeu o contrato dos 17 empregados de suas duas lojas de variedades e produtos a R$ 1,99 —e projeta que terá que fechar em definitivo uma delas pela dificuldade de pagar o aluguel.

Para o presidente da Associação de Comerciantes do Hipercentro, região da capital mineira que abrange 29 ruas, após a reabertura, o comércio não voltará com a mesma intensidade de antes. “As pessoas vão estar retraídas, a crise está aí”, diz.

No Rio de Janeiro, onde o comércio da capital está fechado desde o dia 24 de março, o setor estima que tenha perdas de R$ 405 milhões por dia de inatividade.

“Lojas fechadas, sem vender, faturamento zero. A perda é de 100%. É uma situação muito terrível”, afirma Aldo Gonçalves, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio (SindilojasRio) e do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio).

Os mais de mais de 30 mil estabelecimentos representados pelas entidades tiveram queda de 85% nas vendas em março, quando estiveram abertos por cerca de 15 dias. Foi o pior resultado da história do comércio, segundo o sindicato.

O setor já fala que 40% das lojas podem fechar, e mais da metade de seus 850 mil trabalhadores, serem demitidos, caso a pandemia perdure por mais de dois meses.

“Como vamos ter uma solução com a pandemia no pico? O comércio não tem uma solução, ela compete ao governo, estamos tentando mitigar os efeitos”, diz Gonçalves.

O setor vem buscando no poder público a suspensão de impostos por 120 dias, como ICMS, IPTU e ISS.
“O governo está prometendo linha de crédito às pequenas e médias empresas, mas não está funcionando, pois os poucos recursos param nos bancos, não chegam à ponta. O comércio está sofrendo muito, pois tem compromissos, aluguel, contas e salários para pagar.”

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