Bolsa cai e dólar sobe com incerteza fiscal e fragilidade de Guedes

Investidores temem que aumento de popularidade de Bolsonaro leve a mais gasto e furo no teto

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira teve forte queda nesta segunda-feira (17) com o temor de investidores com a situação fiscal do país.

A leitura do mercado é que o aumento de popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pode levar a um furo no teto de gastos, contrariando o ministro Paulo Guedes (Economia), cuja saída do governo também é alvo de especulação.

O Ibovespa chegou a cair 2,8%, mas fechou em queda de 1,7%, a 99.595 pontos, menor patamar desde 13 de julho.

O volume financeiro somou R$ 45,28 bilhões, patamar acima da média pelo vencimento de opções sobre ações nesta sessão, que movimentou R$ 12,8 bilhões.

Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 subiu 0,3% e o Nasdaq, 1%. Dow Jones caiu 0,3%.

O dólar subiu 1,2%, a R$ 5,4960, maior valor desde 22 de maio, quando a moeda americana estava a R$ 5,57. O real teve a segunda maior desvalorização entre todas as moedas do mundo no pregão, atrás apenas do tugrik da Mongólia.

Os juros futuros tiveram mais uma sessão de alta, com o juro de três anos se aproximando de 5%.

Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos com base na evolução dos indicadores econômicos atuais e são a principal referência para os juros de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

"Desde a semana passada, o discurso divergente do governo entre a manutenção do teto de gastos e a responsabilidade fiscal versus verba para obras de infraestrutura está levando os investidores a buscarem proteção, afinal uma queda de braço entre a ala desenvolvimentista e a ala liberal do governo não é bem vista por ninguém, ainda mais que coloca em xeque a permanência de Guedes", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Segundo Ribeiro, a inclinação da curva de juros mesmo com sinalizações do Banco Central de mais um corte na Selic ainda este ano é um sinal da fragilidade fiscal. "A saúde fiscal é um dos requisitos para a manutenção da política monetária expansionista".

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada na noite de quinta (13), Bolsonaro está com a melhor avaliação desde que começou o seu mandato.

"O presidente pode se ver mais forte, tomar mais decisões por conta própria e se utilizar dos gastos públicos. Com o aumento de popularidade, ele pode ser quem ele é de fato, o que preocupa o mercado com a questão fiscal porque dá margem para o presidente agir com menos rigor técnico", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Segundo reportagem da Folha, animado com o aumento da popularidade, o presidente tem cobrado de Guedes uma postura menos resistente ao aumento de gastos públicos, com foco em obras e benefícios sociais.

“Bolsonaro furar o teto conversa com uma possível saída do Guedes, que é o grande medo do mercado, porque ele é o porto seguro liberal do governo, mas vemos a saída do ministro como improvável”, diz Henrique Esteter, analista da Guide.

Para Esteter, sem Guedes no governo, há caminho para uma política fiscal expansionista, o que elevaria o déficit fiscal no médio a longo prazo, aumentando o risco de se investir no Brasil.

O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu 0,8% nesta segunda e foi a 230 pontos, maior patamar desde julho, após alta de 5,3% na semana passada.

O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.

“O risco de desrespeitar o teto dos gastos, junto com a saída de vários integrantes da equipe do Guedes gera um cenário de desconforto no mercado, que já aventa até quando o ministro aguenta”, diz Rodrigo Moliterno, sócio de Veedha Investimentos.

Nesta segunda, a equipe do ministro teve mais uma baixa. O subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, deixou o cargo.

Após os pedidos de demissão dos secretários especiais Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização), Guedes reconheceu uma debandada da sua equipe.

A saída de Teles, contudo, não vem na esteira desse último movimento.

Segundo a assessoria de imprensa do ministério, o pedido se deu por uma situação pessoal e a partida já estava combinada previamente para ocorrer em agosto.

Em julho, deixaram o governo o então secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, e o diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda, Caio Megale. O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, também pediu demissão.

Antes disso, o então secretário especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, havia saído do cargo para assumir, em maio, a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos Brics.

“O entendimento do mercado é que as perdas da semana passada até que foram boas. Estávamos vendo um desgaste, especialmente na saída do Mattar, o que dá um fôlego na pasta de privatização”, diz Abertman.

Por outro lado, parte do mercado teme que o movimento seja uma fragilização do ministro, que também estaria de saída do governo.

“A saída dos secretários tem sinalizado que as políticas que foram propostas no início do governo, de controle fiscal, desburocratização, e livre mercado, talvez, não sejam a política que está sendo adotada hoje no governo e que, mesmo que estejamos passando por um período complicado, talvez não venha a se concretizar nos próximos anos também”, diz Igor Cavaca, analista da Warren Investimentos.

Dentre os destaques do pregão, a Hering teve a maior queda (-8,3%), devolvendo os ganhos da última sexta, quando o papel da verejista de moda fechou com elevação de mais de 10%.

As ações da Gol caíram 6% e as da Azul, 5,5%, em meio ao ambiente ainda difícil para o setor em razão da pandemia de Covid-19.

Já a Marfrig teve a maior alta (5,4%), capitaneando os ganhos no setor de proteínas, beneficiado pelo dólar em alta ante o real e perspectivas favoráveis para a demanda.

(Com Reuters)

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