Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Salim Mattar pede demissão e Guedes fala em debandada na equipe econômica

Além de secretário de Desestatização, também deixa o governo Paulo Uebel, responsável pela área de Desburocratização

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Brasília

O ministro Paulo Guedes (Economia) disse nesta terça-feira (11) que sua equipe econômica sofreu “uma debandada”. Dois secretários especiais pediram demissão.

Segundo Guedes, Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) decidiram deixar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Salim era o responsável pelas privatizações e Uebel pela reforma administrativa. ​Guedes reconheceu que ambos estavam insatisfeitos com o ritmo da execução de seus projetos.

“Hoje houve uma debandada? Hoje houve uma debandada”, disse Guedes. “Salim falou: ‘A privatização não está andando, prefiro sair’. Uebel disse: ‘A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair’. Esse é o fato, essa é a verdade.”

O anúncio foi feito ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Se referindo ao poder de decisão da cúpula do Congresso e de Bolsonaro, o ministro disse: “Senhores, quem dá o timing das reformas é a política. Quem tem voto é a política”.

“Se o presidente da República quiser mandar alguma reforma é mandada, se não quiser, não é mandada”, disse.

Uma proposta de reforma administrativa chegou a ser elaborado por Uebel em 2019, mas ela sequer foi apresentada ao Congresso diante da resistência de Bolsonaro. Em relação às privatizações, a equipe econômica cita entraves políticos e burocráticos.

Mais tarde, em entrevista à CNN Brasil, Mattar disse que privatização mexe no “jogo de interesses”. Então, o establishment não deseja que aconteça privatizações”.

Escolhido para ser secretário em novembro de 2018, o empresário Salim Mattar, um dos fundadores da Localiza, comandou a agenda de gestão de estatais, enxugamento de quadros de funcionários, e também a política de desinvestimento de empresas públicas, como a venda de participações. ​

Paulo Uebel, assim como Caio Megale, que também já deixou a pasta recentemente, veio do governo de João Doria (PSDB), quando o tucano ainda era prefeito da cidade de São Paulo.

O advogado gaúcho Uebel foi secretário de Gestão de Doria e também foi presidente-executivo do Lide, empresa de eventos fundada pelo governador paulista. Ele ainda foi diretor do Instituto Millenium, uma think tank de difusão de ideias liberais, onde se aproximou de Guedes.

A ida de Uebel para a esfera federal era de uma tentativa de implementar em maior escala o que iniciou na Prefeitura de São Paulo em 2017 e 2018: um programa de enxugamento de gastos da máquina pública, com renegociação de contratos, corte de gastos considerados desnecessários e controle de produtividade de funcionários públicos.

A saída dos secretários reflete uma aceleração nas baixas do Ministério da Economia.

Em julho, Mansueto Almeida deixou o comando do Tesouro Nacional, e foi substituído por Bruno Funchal. Apesar de a troca ter sido esperada, foi a queda mais relevante da equipe de Guedes até então.

Depois, foram anunciadas as saídas do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, e do diretor de programas do Ministério da Economia, Caio Megale.

Em abril, Marcos Troyo foi escalado para assumir a presidência do banco dos Brics (sigla para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Nesse caso, saiu, portanto, com apoio do próprio governo.

No ano passado, Joaquim Levy e Marcos Cintra deixaram, respectivamente, a presidência do BNDES e o comando da Receita Federal.

A debandada desta terça teve, nas palavras de Guedes, como principal fator a demora na execução de planos do Ministério da Economia.

Além da avaliação do timing político para apresentar projetos estruturantes, a equipe econômica vem sofrendo resistência dentro do próprio governo. A dificuldade em apresentar a reforma administrativa, por exemplo, tem como origem críticas do Palácio do Planalto, inclusive do presidente Jair Bolsonaro.

Em relação ao plano de privatizações, Guedes já vinha demonstrando publicamente a insatisfação dele e de Mattar diante dos atrasos. Ainda na campanha eleitoral, Guedes apresentou a intenção de privatizar todas as estatais e, com isso, arrecadar R$ 1,2 trilhão —dinheiro que seria usado para abater a dívida pública.

Mas esse plano ainda está longe de ser executado. Guedes, após assumir o governo, já reconheceu que esse projeto também tem que passar por um crivo político e, por isso, não consegue realizar uma privatização tão ampla.

Apesar dos entraves, especialmente burocráticos, para as privatizações, o ministro costuma repetir que nas próximas semanas irá anunciar três ou quatro grandes operações de vendas de estatais. Para isso avançar, porém, precisará de apoio no Congresso.

A principal aposta do governo para 2020 era a venda do controle da Eletrobras, que poderia render R$ 16 bilhões à União. A ideia foi abandonada, mas o secretário esperava ao menos a aprovação de um projeto que viabiliza a privatização, o que ainda não ocorreu.

O plano audacioso de privatizações não andou no primeiro ano de governo. Em 2020, o plano foi interrompido pela pandemia do novo coronavírus. Após o agravamento da crise sanitária, Mattar anunciou a desistência do governo privatizar estatais neste ano por, segundo ele, não haver ambiente no mercado.

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