Negociação com FMI vai levar meses, diz ministro da Argentina

Martín Guzmán afirmou que reforçar relação com Brasil é importante para ambos os países

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Buenos Aires

Agora que a Argentina evitou o calote, chegando a um acordo de renegociação da dívida com os credores privados externos, o ministro da Economia, Martín Guzmán, 37, enfrenta pelo menos dois desafios.

Um é a renegociação da dívida contraída pelo governo anterior, de Mauricio Macri, no valor de US$ 44 bilhões, com o FMI. O outro é a reativação da economia, em recessão agravada pela pandemia.

Em apenas três meses, foram perdidos 300 mil empregos, e o país deve encolher, pelo menos, 10%, segundo o FMI. O peso se desvalorizou 80% em 2020. Com a compra de dólares por particulares de, no máximo, US$ 200 ao mês, o dólar paralelo (chamado de “blue”) voltou a disparar. E hoje é praticamente 100% mais caro que o oficial.

Além disso, em razão das medidas do governo para conter a crise social e econômica, o país vem emitindo moeda em grande escala—1,4 bilhão de pesos. Eles integram as medidas de ajuda à população mais carente.

Ministro da Economia da Argentina, Martín Guzmán
Ministro da Economia da Argentina, Martín Guzmán - Agustin Marcarian/Reuters

Em entrevista a jornalistas estrangeiros, da qual a Folha participou, Guzmán disse que a negociação com o FMI “levará meses, e não semanas”. E criticou o modo como a gestão anterior contraiu a dívida.

“A dívida contraída em 2018 foi feita em pouco tempo, e não houve debate público. Além disso, ocorreu um ano antes das eleições presidenciais”, afirmou, sinalizando a possibilidade de ter finalidade política.

“Acabou culminando num esquema de contração fiscal em contexto de recessão, o que gerou uma que da na demanda do que se produz no país. E com isso se agravou a recessão.”

Guzmán diz esperar que as novas discussões “sejam mais profundas e que a sociedade esteja mais envolvida e melhor informada”. Disse que “é provável que só cheguemos a um entendimento a princípios do ano que vem”.

Embora reconheça que a parte final da renegociação da dívida com os credores privados tenha sido por reuniões no Zoom, Guzmán usa a pandemia para esquivar-se de perguntas sobre a relação da Argentina com o Brasil, praticamente congeladas desde que, há oito meses, a atual gestão assumiu na Argentina.

Até agora, não houve encontros nem conversas, formais ou informais, entre os presidentes Alberto Fernández e Jair Bolsonaro, ou entre Guzmán e seu par brasileiro, Paulo Guedes. “Está difícil realizar encontros. Mas é certo que temos de aprofundar a relação, que é importante para os dois países e para a América Latina.” Acrescentou que a falta de diálogo não tem a ver com “questões ideológicas, nós somos pragmáticos com relação a isso”.

Desde que Fernández disse ao Financial Times que não gostava de “planos econômicos”, a expressão tem sido evitada. Guzmán disse que se trata de uma “questão semântica”, e que seu ministério já vem desenhando “estratégias” para o pós-pandemia, mas que preferem não falar em “plano”.

“A prioridade está sendo administrar uma situação de emergência que é a que resulta da combinação da Covid-19 e a crise macroeconômica."

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