Os EUA deflagraram uma operação para impedir um boicote na eleição à presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), marcada para este sábado (12) e domingo (13), e assim garantir que Mauricio Claver-Carone assuma o comando da instituição.
Indicado por Donald Trump ao posto, Carone vai quebrar uma tradição de seis décadas caso seja eleito, já que o banco é chefiado por um nome da América Latina desde 1959.
Com a escolha de Carone, Trump atropelou o Brasil —que queria respaldo dos EUA a seu candidato e agora pode perder espaço em áreas estratégicas do banco, mesmo após ter sido um dos poucos países da região a apoiar publicamente o americano.
Nas últimas semanas, os EUA têm agido para desmobilizar uma articulação de países opositores a Carone, que inicialmente incluía integrantes da União Europeia, do México, do Chile e da Argentina, mas parece ter perdido força na tentativa de somar 25% dos votos necessários para adiar o pleito para março de 2021.
Caso a eleição do BID acontecesse em 2021, como quer o grupo, o presidente dos EUA poderia ser o democrata Joe Biden, que hoje lidera pesquisas nacionais e em estados-chave e não é alinhado a Carone.
Mas autoridades dos governos da Argentina e do México, dois integrantes-chave ao movimento de oposição, admitiram publicamente nesta semana que não deve haver voto suficiente para postergar a eleição, o que chancelaria a vitória do americano.
Na quarta-feira (9), o vice-ministro das Finanças mexicano, Gabriel Yorio, disse à agência Reuters que o país é a favor de adiar a votação, mas que o cenário não parece o mais provável.
“A posição do México era levar algum tempo para discutir isso, mas parece que não vai acontecer. Parece que a votação será no fim de semana.”
O ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, por sua vez, afirmou a uma rádio local que o mais plausível é haver quórum para a eleição de Carone. “O candidato americano parece ter o quórum e os números para vencer”, disse Solá.
Para o argentino, a decisão da Europa de se juntar ao boicote não se concretizou, já que os países europeus não devem votar em bloco. A Argentina anunciou na noite desta quinta-feira (10) que vai se abster da votação, estimulando os demais membros a fazerem o mesmo, ainda na esperança de alcançar os 25% para adiar o pleito.
A eleição do BID é feita pela assembleia de governadores da instituição. Os EUA têm 30% dos votos, enquanto o Brasil tem cerca de 11%, assim como Argentina, os dois maiores percentuais da região.
Para vencer, é preciso alcançar a maioria dos votos e ter 15 dos 26 apoios regionais. Para adiar o pleito, os países signatários não devem fazer login no sistema virtual do BID nos dias marcados para a votação.
Caso 25% ou mais não compareçam —em razão da pandemia, nesse caso, remotamente—, a votação é adiada.
Os europeus, somados ao Reino Unido, têm 10,9% do capital de voto se votarem em bloco —o que não deve ser o caso—, argentinos contam com 11,3%, mexicanos, 7,2%, e chilenos, 3,1%.
Até agosto, a expectativa era que o grupo alcançasse os 25%, pois houve defesa pública do adiamento da eleição por parte de autoridades de México, Chile e UE.
Mas, nas últimas semanas, representantes de países europeus disseram a americanos que não votariam em bloco e que muitos apoiariam Carone.
Do lado do México, circulou até a versão de que o próprio Trump atuara para conter a oposição a Carone, firmando acordo com o presidente Andrés Manuel López Obrador.
Alijado das negociações, o Brasil pode perder poder dentro do banco se ficar com a vice-presidência-executiva do BID, que, na prática, não tem grandes funções decisórias.
Carone tem sinalizado que pode dar o cargo aos brasileiros, mas, segundo pessoas a par das negociações, o americano tem feito promessas semelhantes a diversos países.
Até agora, o Brasil comandava a vice-presidência de setores, cargo de relevância e diálogo com todos os países para determinar a demanda de empréstimos. Antes, teve a gerência de infraestrutura. Os postos devem ser redistribuídos.
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