Descrição de chapéu Financial Times

Dona da Louis Vuitton fecha acordo para adquirir Tiffany

Transação foi fechada por valor pouco abaixo do proposto inicialmente

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Paris, Nova York e Londres | Financial Times

O grupo LVMH, dona da marca de luxo Louis Vuitton, chegou a um acordo para levar adiante sua aquisição da Tiffany por um preço ligeiramente mais baixo, aprovando uma transação em valor de US$ 15,8 bilhões (R$ 91 bilhões) e pondo fim a um amargo conflito deflagrado pela pandemia da Covid-19, que ameaçou tirar dos trilhos a maior aquisição de todos os tempos no setor de bens de luxo.

O grupo francês de produtos de luxo que controla marcas como Louis Vuitton e Christian Dior anunciou na quinta-feira que pagaria US$ 131,50 (R$ 757) por ação pela joalheria americana, ante um preço original de US$ 135 (R$ 777), o que avalia a capitalização de mercado da empresa em US$ 15,8 bilhões. Além disso, a Tiffany pagará aos seus acionistas um dividendo de 0,58 centavos de dólar por ação.

Em declaração conjunta, as duas companhias anunciaram que retirariam os processos judiciais contrapostos que abriram no estado de Delaware, nos Estados Unidos, em setembro, gerados pela ameaça da LVMH de abandonar a transação.

Os conselhos das duas empresas aprovaram os termos alterados em reuniões na noite de quarta-feira. Os novos termos do acordo terão de ser aprovados pelos acionistas da Tiffany, e por isso a conclusão da transação deve acontecer apenas no início do ano que vem. Todas as autorizações antitruste requeridas já foram obtidas.

Presidente da LVMH, Bernard Arnault
Presidente da LVMH, Bernard Arnault - Christian Hartmann - 28.jan.2020/Reuters

O acordo de paz significa que Bernard Arnault, o bilionário presidente-executivo e do conselho da LVMH, economizará cerca de US$ 425 milhões (R$ 2,44 bilhões) ante o preço original, ou menos de 3%.

Também demonstra que Arnault, que tem a reputação de ser um negociador feroz e construiu seu império por meio de aquisições, não desejava de fato abandonar a tomada de controle, ainda que estivesse manobrando em busca de um corte de preços há meses. Ele permitiu que os advogados do LVMH criticassem pesadamente a Tiffany em suas petições, pelo desempenho “catastrófico” e pelas perspectivas “sombrias” quanto ao futuro da companhia, depois que irrompeu a pandemia do coronavírus, no começo deste ano.

O homem mais rico da França agora deixou para trás esses sentimentos acrimoniosos. “Estamos convencidos como sempre estivemos do potencial formidável da marca Tiffany e acreditamos que o LVMH é a casa certa para a Tiffany e seus empregados durante esse novo e empolgante capítulo”, afirmou Arnault em comunicado.

Roger Farah, presidente do conselho da Tiffany, disse que o conselho da empresa havia concluído que o compromisso “servia aos melhores interesses de nossos acionistas, ao garantir a execução do acordo”.

“Estamos muito satisfeitos por termos chegado a um acordo com o LVMH a um preço atraente e por podermos ir adiante com a fusão”, ele acrescentou.

A transação, assinada originalmente um ano atrás, estava parada desde setembro, quando o LVMH anunciou que teria de desistir dela depois que o governo francês solicitou que postergasse a aquisição devido às tensões comerciais entre Paris e Washington. Antes disso, Arnault havia tentado por diversas vezes baixar o preço da transação, sem sucesso, afirmando que a pandemia havia alterado fundamentalmente o valor da Tiffany.

A Tiffany então se defendeu abrindo um processo para forçar o LVMH a concluir a transação nos termos originais.

Alguns analistas questionaram os motivos do LVMH para iniciar uma guerra como essa com a Tiffany para obter um corte de preços que terminou sendo modesto. “Se confirmada, a magnitude do corte de preço seria estranha”, escreveu Flavio Cereda, analista do banco Jefferies, em nota divulgada antes do anúncio. “Não está claro para nós por que o LVMH e sua equipe legal seguiram o curso que adotaram desde o início de setembro para garantir um desconto mínimo nos termos originalmente acertados”.

Mas Cereda disse que a estratégia para a união permanecia é válida, porque a LVMH quer ganhar porte nos relógios e joias, onde é menor do que rivais como a Richemont, que controla a joalheria Cartier.

Essa categoria de bens de luxo “duros” respondeu por apenas 8% das vendas e 6,5% dos lucros operacionais do LVMH no ano passado, e a maioria de seus lucros veio da venda de produtos “macios” como as bolsas Louis Vuitton e produtos de vestuário.

A Covid-19 abraçou as perspectivas do setor de bens de luxo, porque lojas foram forçadas a fechar temporariamente e as restrições a viagens impediram os turistas chineses, que em geral consomem pesadamente, de viajar para fora do país. Analistas previram que as vendas do setor podem cair em até 30% este ano, e que a recuperação pode demorar até três anos.

Vendas mais fortes que as esperadas no terceiro trimestre para a LVMH e Hermès trouxeram novas esperanças de recuperação, depois que consumidores da Ásia e dos Estados Unidos começaram a comprar bens de luxo uma vez mais, a partir da metade do ano. As ações da LVMH reverteram uma queda de quase 35% registrada nos primeiros meses do ano e agora estão sendo negociadas a cerca de 402 euros, apenas 8% abaixo de seu pico histórico.

A recuperação do setor pode estar em risco, agora, já que uma segunda rodada de lockdowns está sendo implementada na Europa, e a França e a Alemanha ordenaram o fechamento dos negócios não essenciais nos próximos dias.

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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