Sob o argumento de que assume os próprios erros, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta segunda-feira (5) que foi "indelicado" e "grosseiro" com o ministro Paulo Guedes (Economia) e pediu desculpas.
Após jantar de reconciliação entre o presidente da Câmara e o ministro, que contou com a presença de outras autoridades, Guedes negou ter ofendido Maia, mas, depois, pediu desculpas "caso o tenha ofendido".
Maia e Guedes fizeram trocas públicas de acusações nas últimas semanas. Na terça-feira (29), o presidente da Câmara publicou uma pergunta em suas redes sociais: "Por que Paulo Guedes interditou o debate da reforma tributária?", escreveu.
Menos de 24 horas depois, Guedes afirmou, em transmissão ao vivo pela internet, que há boatos de que haveria um acordo de Maia com a esquerda para travar as privatizações. Em seguida, Maia chamou Guedes de desequilibrado.
Com a ampliação da tensão, membros do governo e congressistas entraram em campo para tentar apaziguar a relação.
Com negociações dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Katia Abreu (PP-TO), os dois aceitaram participar de jantar na casa de Bruno Dantas, ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).
No encontro, Maia fez um discurso, pediu desculpas a Guedes e foi aplaudido pelos presentes.
Durante o jantar, o presidente da Câmara ainda disse que não bastará cortar a gordura, mas será necessário "cortar no músculo", em referência aos gastos públicos.
Governo e Congresso vivem impasse em torno da fonte de financiamento do Renda Cidadã, programa que deve substituir o Bolsa Família.
Já se chegou a cogitar o uso de precatórios (dívidas da União reconhecidas pela Justiça) e parte do Fundeb (fundo da educação básica). As medidas foram criticadas e já descartadas.
Segundo pessoas que participaram do jantar, Maia afirmou que não é suficiente encontrar uma receita para o novo programa, uma vez que o teto de gastos não dá margem para mais despesas. A regra limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior.
O presidente da Câmara, então, defendeu cortes nas despesas para liberar recursos para a expansão do programa. Seriam, com isso, priorizados gastos inadiáveis e eliminados os supérfluos.
Em pronunciamento após o jantar desta segunda, Guedes e Maia emitiram sinais de que se reconciliaram.
"Nos meses seguintes à [reforma da] Previdência, por divergências, por erros, e eu assumo os meus, fomos nos afastando, agora na pandemia mais ainda. Na semana passada, deixo aqui meu pedido de desculpa, fui indelicado e grosseiro, não é do meu feitio", afirmou Maia.
Guedes, que estava ao lado do presidente da Câmara, disse que não proferiu uma ofensa pessoal quando falou das privatizações e classificou a declaração como "troca de opiniões".
"Caso eu tenha ofendido o presidente Rodrigo Maia ou qualquer político que eu possa ter ofendido inadvertidamente, eu peço desculpas também. Não há problemas", disse o ministro da Economia nesta segunda.
"Eu às vezes dou alguns exemplos genéricos, e às vezes posso estar ofendendo alguém, eu sempre faço questão de pedir desculpas e esclarecer", afirmou Guedes.
Maia disse que a agenda de reformas não pode parar por causa das eleições municipais e afirmou que é preciso encontrar soluções para o novo programa social do governo que respeitem o teto de gastos.
"Terá sempre uma polêmica, uma dificuldade, mas não fomos eleitos apenas para ficar esperando o tempo passar, fomos eleitos para assumir responsabilidades. A agenda de reformas não pode parar independentemente de eleição municipal", afirmou.
As declarações foram feitas no hall de entrada do prédio onde mora Dantas, que está em obras. O jantar teve duração de aproximadamente três horas.
Também estiveram presentes no encontro o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o presidente do TCU, José Mucio Monteiro, o ministro do TCU Vital do Rêgo e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
Além dos senadores Renan e Katia, o jantar contou com a presença do líder do MDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), e do senador Eduardo Braga (MDB-AM).
O governo tem no Congresso uma extensa agenda à espera de aprovação. Além do Orçamento de 2021, estão em debate por deputados e senadores a reforma administrativa, a tributária e as PECs (Propostas de Emenda à Constituição) Emergencial e do Pacto Federativo.
De acordo com um dos participantes do jantar, não foi fechada nenhuma proposta. Foram estabelecidos os compromissos de defesa de uma agenda de reformista e de análise das ideias na mesa, sem preconceitos.
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