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Cientista de IA do Google é demitida e acusa empresa de racismo

Timnit Gebru diz que foi demitida após enviar um email a colegas manifestando frustração com a política de diversidade de gênero da big tech

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Paresh Dave Jeffrey Dastin
Oakland (Califórnia) | Reuters

Uma importante cientista do Google em ética da inteligência artificial disse que foi demitida depois de criticar as iniciativas de diversidade da empresa controlada pela Alphabet Inc. O Google contestou na quinta-feira (3), no mais recente atrito entre a gigante da internet e trabalhadores ativistas.

Timnit Gebru, que é negra, disse no Twitter que foi demitida na quarta-feira (2) após enviar um email a colegas manifestando frustração com a política de diversidade de gênero na unidade de IA do Google. Ela também questionou se os chefes da empresa revisavam seu trabalho com mais rigor do que o de pessoas de outras origens. Gebru foi cofundadora da organização sem fins lucrativos Black in AI [Negros em IA], que visa aumentar a representação de pessoas negras no campo de inteligência artificial, e foi coautora de um artigo importante sobre o preconceito na tecnologia de análise facial.

Jeff Dean, chefe da unidade de IA do Google, disse aos funcionários em um email examinado pela Reuters que Gebru havia ameaçado se demitir a menos que soubesse quais colegas consideraram impublicável um rascunho de trabalho que ela escreveu. Dean rejeitou a exigência.

"Aceitamos e respeitamos sua decisão de se demitir do Google", escreveu Dean no email, acrescentando: "Todos nós sinceramente compartilhamos a paixão de Timnit por tornar a IA mais justa e inclusiva".

Gebru disse em uma série de postagens no Twitter que o Google a cortou de seus sistemas sem avisar ou conversar com ela sobre suas preocupações.

Timnit Gebru, que era cientista de Inteligência Artificial do Google - Cody O'Laughlin - 29.dez.2017/The New York Times

A saída abrupta de Gebru se soma a anos de angústia, incluindo várias renúncias e demissões no departamento de IA e outras organizações do Google relacionadas à diversidade e aos esforços da empresa para minimizar os potenciais danos de seus serviços.

Mais de 150 funcionários expressaram apoio a Gebru, exigindo que o Google reforce seu compromisso com a liberdade acadêmica e explique por que decidiu "censurar" o artigo dela, segundo um abaixo-assinado publicado online. Sherlyn Ifill, presidente do Fundo de Defesa Legal e Educacional da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP na sigla em inglês), escreveu no Twitter que a demissão de Gebru foi "totalmente enfurecedora" e "um desastre".

Também na quarta-feira (2), o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas emitiu uma queixa acusando o Google de monitorar e questionar ilegalmente vários trabalhadores que depois foram demitidos por protestar contra as políticas da empresa e tentar organizar um sindicato.

O artigo de Gebru argumentava que as empresas de tecnologia poderiam se empenhar mais para que os sistemas de IA destinados a imitar a escrita e a fala humana não reforcem os preconceitos históricos de gênero e o uso de linguagem ofensiva, de acordo com um rascunho visto pela agência de notícias Reuters.

Em seu email enviado aos funcionários, Dean disse que o artigo não foi entregue à empresa para revisão em tempo hábil e foi apresentado em uma conferência sem a permissão do Google.

Ele também questionou algumas de suas conclusões, que no seu entendimento se baseiam em preocupações antiquadas, incluindo sobre o impacto ambiental de um grande número de computadores processando dados.

Em resposta à rejeição de seu trabalho pela empresa, Gebru escreveu no Twitter na semana passada: "Nada como um bando de homens brancos privilegiados tentando esmagar a pesquisa feita por comunidades marginalizadas para comunidades marginalizadas, ordenando-lhes que PAREM, com ZERO de conversa. O nível de desrespeito é incrível".

O Google se recusou a comentar sobre a demissão de Gebru além do email de Dean, relatado pela primeira vez pelo site de notícias de tecnologia Platformer.

Gebru trabalhou anteriormente na Microsoft Research e é coautora de um artigo de 2018 amplamente citado que encontrou taxas de erro mais altas na tecnologia de análise facial de mulheres com tons de pele mais escuros.

Seu novo artigo, em coautoria com pessoas que não trabalham no Google, ainda deve ser apresentado em uma conferência de ciência da computação em março, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves  

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