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5g em debate 5g

Há pouca objetividade nos argumentos contra a Huawei

Realidade Brasil-China é vantajosa, e cabe aos governos cultivarem confiança

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Marcos Caramuru de Paiva

Ex-embaixador em Pequim (2016 -2018), é sócio e gestor da KEMU Consultoria

Paulo Hartung

Presidente-executivo da Ibá, membro do conselho do Todos Pela Educação, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010/2015-2018)

A incorporação da internet 5G em nossa realidade é passo essencial para modernizar o Brasil.

Com o 5G vamos ampliar as perspectivas de soluções inovadoras para cidades, facilitar o dia a dia, incorporar graus mais elevados de tecnologia à nossa moderna agricultura, turbinar a eficiência do setor energético e da indústria, abrir portas ao mundo futurista da inteligência artificial, dos carros autônomos e da internet das coisas.

A equação é simples: sem o 5G, ou se postergarmos desnecessariamente a sua instalação, ficaremos para trás. O Brasil tem hoje 100 mil antenas para celulares, enquanto a China tem 800 mil só para 5G.

O debate que se realiza entre nós adquiriu contornos difusos. Por razões ideológicas, mimetismo do governo Trump, medo infundado da China, temores abstratos de perda de soberania ou suspeição de espionagem, há os que acham que a participação da empresa Huawei no 5G brasileiro deve ser proibida.

Vê-se pouca objetividade e nenhuma tecnicidade nos argumentos que estão públicos. Em outro sentido, encontram-se as operadoras de internet e todos aqueles que gostariam de ver menos ideologia e mais pragmatismo no planejamento do 5G.

Como as operadoras são responsáveis pela lisura dos serviços que chegam às empresas e às casas das pessoas, é razoável acreditar que elas saibam o que estão fazendo. Além disso, telecomunicações é um segmento regulado e monitorado pela Anatel.

O Itamaraty associou-se verbalmente a uma iniciativa do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, chamada Clean Network, sem explicar corretamente a que estava aderindo. Como a adesão foi puramente declaratória e não contou com a voz dos órgãos especializados e muito menos a do Congresso, não temos um compromisso real com ela. Melhor assim.

Algumas características do mercado de internet no país não podem ser ignoradas:

  1. 90% da provisão dos equipamentos de telecomunicações está nas mãos de duas empresas: a Huawei e a Ericsson. É possível vislumbrar o tamanho do dano em risco de eficiência e aumento de preços para os usuários em caso de exclusão de uma delas;
  2. há milhares de pequenos operadores de internet em regiões remotas que terão dificuldade de prestar serviços se deixarem de ter acesso a seus fornecedores regulares a custos razoáveis;
  3. o atraso na incorporação do 5G será de, no mínimo, três a quatro anos se as novas antenas não conversarem com os equipamentos de 4G já instalados;
  4. a prática do mercado no mundo todo é que operadoras individuais trabalhem com mais de um fornecedor de equipamentos;
  5. o preço do serviço de banda larga para os consumidores nos EUA, onde há barreiras políticas para a entrada na provisão de equipamentos, é oito vezes superior ao preço no Brasil ou na China.

A Huawei declara publicamente que está no Brasil há 22 anos e nunca deu razões para que se duvide de sua conduta futura. Investe aqui R$ 140 milhões anualmente em pesquisa e tem duas unidades fabris, em Manaus e Sorocaba. Produz equipamentos com 40% de conteúdo nacional.

Além disso, participa de múltiplas iniciativas nos segmentos da agricultura, ambiente e educação, seguindo as práticas de responsabilidade social próprias de empresas brasileiras.

Os especialistas independentes no Brasil têm afirmado que é possível garantir a lisura e a auditoria do processo do 5G, seja pela via da regulação, seja por ações voltadas para assegurar a transparência de quem está no mercado.

Diante desses fatos, são promissoras as notícias mais recentes de que o governo não introduzirá elementos políticos ou de outra natureza no processo de montagem da licitação da internet 5G. Quanto à China, cabe avaliar corretamente os contornos do nosso relacionamento bilateral.

Como tem sido lembrado recentemente, somos fornecedores de produtos estratégicos ao seu mercado. Os chineses, por sua vez, são detentores de ativos estratégicos em nossa realidade. Diversas de nossas empresas literalmente dependem da presença no mercado chinês para lhes garantir rentabilidade e mesmo sobrevivência.

Não estamos sozinhos nisso. O gigantismo chinês criou quadro semelhante para empresas europeias, americanas e asiáticas. Ao mesmo tempo, algumas empresas chinesas acumulam no Brasil experiências necessárias ao aprofundamento de seu processo de internacionalização.

A realidade que foi construída entre os dois países oferece tudo para ser mutuamente vantajosa se os governos brasileiro e chinês souberem cultivar um ambiente de confiança. Política, interna e externa, faz-se assim. Enfrentando os grandes temas, construindo pontes, fomentando o diálogo, abraçando o futuro de maneira determinada, sem hesitação e sem temores infundados.

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