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Silvio Campos Neto

Silvio Campos Neto: Piora no balanço de riscos para inflação requer alta de juros

Ajuste gradual na política monetária tende a acomodar as expectativas e o câmbio

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Silvio Campos Neto

Economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada

O Copom deve elevar a Selic em 0,5 ponto percentual na próxima reunião, diante dos claros sinais de persistência da inflação mais elevada e da contínua deterioração das expectativas para o IPCA. O esperado ajuste monetário, que terá prosseguimento nos próximos meses, visa reduzir o estímulo extraordinário fornecido em 2020 no auge dos impactos econômicos da primeira onda da pandemia, em um contexto atual de inflação bem superior à própria Selic. De fato, em conjunto com outros fatores, os juros negativos em termos reais têm contribuído para a forte desvalorização cambial, outro componente importante a explicar a piora do quadro inflacionário.

Nosso cenário contempla Selic em 4,5% em setembro, patamar que seria mantido até o final do ano. A Tendências projeta ajuste residual no primeiro semestre de 2022, que levaria a taxa básica para 5,5% no próximo ano.

Casal observa a flutuação do mercado pela Bolsa de Valores brasileira - Amanda Perobelli - 9.mar.2021/Reuters

As últimas semanas foram marcadas por uma clara piora do balanço de riscos para a inflação. Tomando como base a evolução das expectativas de mercado, compiladas pela Pesquisa Focus, a mediana do IPCA para 2021 subiu de 3,32% na última coleta de 2020 para 4,60% no levantamento publicado em 15 de março. Assim, o patamar atual já está acima da meta estabelecida para o ano, em 3,75%. Além disso há o risco de contaminação da projeção de mercado para 2022, ainda alinhada à meta de 3,50%, em caso de não reação por parte da autoridade monetária.

Além da tentativa de ancorar novamente as expectativas, o ajuste visa reduzir o nível excessivo de estímulo monetário, que, neste momento, tem sido contraproducente, seja pelo efeito na taxa de câmbio, seja por manter a curva de juros demasiadamente inclinada, o que é adverso para a atividade econômica. Nesse sentido, uma pronta reação do Banco Central contribuiria com suporte ao real e o esfriamento das pressões na parte longa da curva, dado que os mercados ficariam menos preocupados com uma eventual leniência diante da piora inflacionária no curto prazo. É fato que o cerne do problema é exógeno à política monetária, ligado às incertezas fiscais, mas cabe ao Banco Central atuar para conter as repercussões inflacionárias deste evento.

Do ponto de vista da atividade econômica, o quadro recomenda atuação moderada do Copom. Neste aspecto reside um argumento contrário a uma elevação mais incisiva, de 0,75 ponto percentual, considerada por parte do mercado. O agravamento da pandemia tende a estancar a retomada econômica observada ao longo do segundo semestre de 2020, o que prescreve uma redução gradual, e não abrupta, dos estímulos. As incertezas ainda elevadas com o desempenho econômico devem ser mencionadas no comunicado, ainda como um fator baixista ao balanço de riscos.

De qualquer forma, os riscos altistas são suficientes para recomendar um início de ajuste monetário na próxima reunião. Com o IPCA em 12 meses tendo acumulado 5,19% em fevereiro e a perspectiva de novas elevações nos próximos meses, uma Selic nominal de 2,0% não se mostra adequada para lidar com tal piora do quadro inflacionário. Ainda que não se possa atribuir à demanda interna parcela das pressões observadas, mas sim a choques de custos e do câmbio, cabe ao Banco Central agir para limitar os efeitos de segunda ordem destes choques.

A princípio, em um contexto de preservação das principais diretrizes econômicas nos próximos meses, um ajuste gradual na política monetária tende a acomodar as expectativas e o câmbio, contribuindo para equilibrar o balanço de riscos.

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