País cria 260 mil vagas de trabalho formal em janeiro

Dados do Caged mostram 1,5 milhão de contratações e 1,2 milhão de demissões no mês

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Brasília

O mercado de trabalho brasileiro registrou abertura líquida (contratações menos desligamentos) de 260,3 mil vagas em janeiro.

O dado ficou acima do ano passado, quando o saldo líquido foi de 117,7 mil (com ajustes), e representa o melhor resultado da série histórica para um mês de janeiro.

Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado nesta terça-feira (16) pelo Ministério da Economia e que abrange apenas contratos regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

O saldo de janeiro é resultado de 1,5 milhão de admissões e 1,2 milhão de desligamentos. ​

De acordo com a pasta, o resultado é o melhor na série iniciada em 1992 –o Caged sofreu mudanças metodológicas no começo do ano passado. A dificuldade de adaptação das empresas às novas regras e a própria pandemia fizeram mais dados serem informados com atraso, segundo os próprios técnicos.

As regras do Caged estabelecem que as admissões devem ser informadas diariamente ao governo –enquanto os desligamentos têm mais prazo (que ficou ainda maior com a mudança da metodologia).

Os técnicos afirmam, por outro lado, que os dados estão cada vez mais acurados e que usam medidas para corrigir eventuais descompassos, como o cruzamento de informações com outros números –como pedidos de seguro-desemprego.

Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, diz que os dados dessazonalizados por ele mostram desaceleração no mercado de trabalho. Com ajuste sazonal, a criação de 216,1 mil em janeiro ficaria menor que os 300,2 mil postos em dezembro de 2020.

Além disso, ele afirma que sondagens apontam para nova desaceleração de emprego e que a piora da pandemia deve pressionar ainda mais os números.

"Observamos um aumento expressivo nos indicadores de isolamento social em março. Cremos que essas medidas [de restrição] devem perdurar por todo o mês de março e possivelmente serão estendidas para o mês de abril, pondo em xeque nossa projeção de criação líquida de 750 mil postos formais para 2021", afirma Imaizumi.

Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que o resultado surpreendeu positivamente, mas é retrato de um movimento que ficou no retrovisor.

"É para se comemorar, mas com cautela. Porque a situação piorou muito com as medidas de restrição, principalmente em março. Então os dados refletem mais aquele momento do final do ano em que a gente observava uma recuperação da economia, com uma sensação mais próxima de normalidade", disse Tobler.

O ministro Paulo Guedes (Economia) participou brevemente do anúncio do Caged e destacou a criação líquida, dizendo que iniciativas como o programa de manutenção de empregos (criado em 2020 e ainda em vigor para uma parcela de trabalhadores) foram fundamentais para sustentar os dados.

O programa proporcionou suspensão de contrato ou redução de salário e jornada, com pagamento de um valor dos cofres públicos ao trabalhador afetado.

Guedes sugeriu que os dados do Caged, que medem o emprego com carteira assinada, são beneficiados em relação ao mercado de trabalho como um todo já que "a máquina de geração de empregos formais está girando" e o impacto da pandemia ocorre de maneira mais intensa no setor informal.

Para resolver o problema, defendeu a vacinação em massa da população –em especial dos mais vulneráveis. "A mensagem que eu queria deixar agora é 'vamos vacinar'".

"Esses 38 milhões de invisíveis ganham a vida na rua. Eles vendem refrigerante na praia, água nos sinais, ficam nas saídas das obras, na entrada dos prédios em construção vendendo alimentos. Eles estão sem condições de trabalho sem as vacinas. Por isso, tem que ter vacinação em massa, para esse pessoal voltar com segurança ao trabalho", disse.

Guedes ainda disse que o governo vai lançar novas medidas anticrise, como a nova edição do programa de manutenção do emprego, o relançamento do Pronampe (linha de crédito para empresas) e o que chama de seguro-emprego –algo que, segundo os técnicos, ficará dentro da lógica do programa de manutenção do emprego (ou seja, manterá o funcionário na empresa e evitará o pagamento do seguro-desemprego).

O ministro aproveitou para destacar outros dados positivos da encomia, como o crescimento de 1,04% em janeiro do IBC-Br (do Banco Central), divulgado nesta semana, e a arrecadação federal recorde em fevereiro (ainda não divulgada). "Há sinais por toda a parte que a economia brasileira está de novo decolando", afirmou Guedes.

Tobler, da FGV, porém, afirma que indicadores mais recentes mostram maior cautela de consumidores entre fevereiro e março e até o IBC-Br, comemorado pelo governo, deu sinais de alerta ao registrar queda nos dados de varejo.

MÊS POSITIVO

No mês de janeiro de 2021, todos os setores apresentaram saldo positivo no Caged. A indústria liderou gerando 90,4 mil novos postos de trabalho formais, com destaque para a confecção de peças de vestuário e a fabricação de calçados de couro.

O setor de serviços apresentou o segundo melhor saldo (83,6 mil), com os melhores resultados no segmento de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas.

Em seguida, ficaram construção (43,4 mil), agropecuária (32,9 mil postos) e comércio (9,8 mil).

O secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, afirmou que os dados mostram um acerto das políticas econômicas elaboradas por governo e Congresso. "Estamos de fato demonstrando um potencial do mercado de trabalho brasileiro e um acerto muito significativo das medidas que adotamos", disse.

Na divisão geográfica, as cinco regiões do país registraram dados positivos. Os resultados foram liderados pelo Sudeste (criação de 105,7 mil postos), seguido por Sul (83,5 mil), Centro-Oeste (35,7 mil), Nordeste (28,4 mil) e Norte (6,9 mil).

Apesar da melhora, os dados apontam piora na renda do trabalhador em território nacional na comparação com janeiro de 2020. O salário médio de admissão passou de R$ 1.831,89 para R$ 1.760,14 em um ano.

O uso da reforma trabalhista de 2017 influenciou os números de forma limitada. Houve criação de 3 mil empregos na modalidade intermitente e corte de 610 empregos na jornada parcial.

Os dados dos últimos 12 meses (iniciados em fevereiro de 2020), que contemplam quase todo o cenário da pandemia, mostram uma geração de 254,9 mil empregos durante o período. A indústria abriu 123,1 mil vagas no intervalo; a construção, 117,4 mil; a agricultura, 76 mil; e o comércio, 64,3 mil.

Já os serviços fecharam 125,2 mil postos em 12 meses (principalmente com a perda de 268,5 mil nos segmentos de alojamento e alimentação, e de quase 90 mil em educação).

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