Descrição de chapéu Financial Times

Criador de fundo que lesou investidores volta ao mercado um ano depois

Principais corretores descartaram preocupações sobre a Archegos visando empréstimos lucrativos

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Tabby Kinder Leo Lewis
Hong Kong e Tóquio | Financial Times

Em 2012, o fundo hedge Tiger Asia Management, sediado em Nova York, se declarou culpado por usar informação privilegiada para vender ações de bancos chineses, resultando em um enorme acordo com os órgãos reguladores dos Estados Unidos.

Isso marcou a queda em desgraça de seu fundador, Bill Hwang, um dos veteranos dos chamados "Filhotes de Tigre" do fundo Tiger Management de Julian Robertson.

Na teoria, Hwang poderia ter-se visto permanentemente na lista negra dos bancos de investimentos de qualquer lugar. Mas apenas 12 meses depois que foi obrigado a devolver o dinheiro aos investidores Hwang estava novamente no jogo. Ele montou um novo escritório familiar sigiloso chamado Archegos Capital Management. E em breve muitos dos principais bancos de investimentos do mundo estavam competindo ferozmente por seus negócios.

Placa de Wall Street perto da Bolsa de Valores de Nova York - Carlo Allegri - 16.abr.2021/Reuters

Bancos que incluem Credit Suisse e Nomura advertiram na segunda-feira (19) os investidores e reguladores que enfrentam prejuízos de bilhões de dólares por seus negócios com a Archegos depois que ela falhou em dar garantias financeiras, as chamadas de margem. Entre eles, os bancos tinham estendido bilhões de dólares em crédito ao escritório familiar para permitir que ele fizesse apostas de alto nível em ações americanas e chinesas.

Enquanto os mercados de todo o mundo digeriam os anúncios do choque, banqueiros e investidores ficaram se reviravam para responder a uma série de perguntas: por que os bancos se esforçaram tanto para tratar com um diretor de fundo hedge com um histórico tão problemático? Como a Archegos tinha conseguido ficar amplamente fora do radar, apesar de reunir grandes posições de empresas blue-chip? E qual será a consequência regulatória do desastre?

"Ninguém jamais viu algo parecido com isto", disse um executivo de um banco de Wall Street. "A escala, as potenciais implicações para nossa empresa, e como tantos bancos podem ter sido levados por sua própria cobiça ou por um investidor que parecia interessante."

'Gênio agressivo para ganhar dinheiro'

Depois de seu conflito com a lei, os departamentos de risco dos bancos inicialmente tiveram profundas reservas sobre negociar com Hwang.

Quando Hwang começou a dirigir a Archegos, o Goldman Sachs foi o que mais demorou para tirá-lo da lista negra. O banco americano começou a trabalhar com ele novamente apenas no ano passado, segundo duas pessoas próximas da questão, mas só depois de anos de lobby de seus banqueiros para convencer o departamento de risco a autorizá-lo.

Hwang era considerado um cliente prospectivo atraente por corretores prime, a divisão potencialmente lucrativa mas arriscada dos bancos de investimento que emprestam dinheiro e títulos para fundos hedge e processam seus negócios.

Preocupações sobre a reputação e a história dele foram compensadas pela sensação das enormes oportunidades de negociar com Hwang, segundo dois corretores prime da Archegos. Ele é conhecido como um "gênio agressivo para ganhar dinheiro", segundo uma nota de analista, que elevou os ativos da Archegos de aproximadamente US$ 200 milhões em seu lançamento em 2012 para quase US$ 10 bilhões em apenas nove anos.

Os bancos de investimento famintos por honorários ficaram vorazes pelas comissões de corretagem de Hwang e desesperados para lhe emprestar dinheiro para que ele ampliasse suas apostas. Estas incluíam assumir posições exageradas em ações como a companhia chinesa de tecnologia Baidu e a gigante de mídia americana Viacom.

"É muito difícil para mim defender por que lhe emprestamos tanto", disse um executivo de um banco com bilhões de dólares de exposição à Archegos.

O Nomura advertiu na segunda de manhã que enfrentava prejuízos estimados em US$ 2 bilhões, e o Credit Suisse disse depois que suas potenciais perdas podem ser "altamente significativas e materiais para nossos resultados do primeiro trimestre". Três pessoas próximas ao banco suíço sugeriram que o número poderá chegar a US$ 3 bilhões ou US$ 5 bilhões.

A rápida queda da Archegos levou a exames de suas relações com seus corretores prime. O Goldman e o Morgan Stanley conduziram uma liquidação de ações de quase US$ 20 bilhões em investimentos de Hwang na sexta. Credit Suisse, Nomura e UBS poderão tentar descarregar mais bilhões em ações nesta semana.

A grande dissolução foi provocada quando a Archegos falhou em chamadas de margem (margin calls) —pedidos para aumentar o caixa ou caução de suas contas de corretagem— depois de uma queda em alguns de seus papéis. Isso levou os bancos a liquidar suas posições para reduzir sua exposição às ações.

A liquidação até agora impactou nove companhias: Baidu, Tencent Music, Discovery, Farfetch, GSX Techedu, Shopify, Vipshop, iQIYI e ViacomCBS. Os bancos colocaram imensos blocos de títulos à venda —a maior coleção em pelo menos uma década, segundo nota de um analista.

Negócios com derivativos

Como Hwang conseguiu formar apostas tão grandes em companhias e continuar basicamente sem ser detectado? A resposta está em um tipo de instrumento financeiro chamado swaps de retorno total.

Também conhecidos como contratos por diferença, os swaps são derivativos que permitem que os investidores paguem uma taxa e em troca recebam dinheiro com base no desempenho de um ativo subjacente. O banco possui esse ativo, e no caso de algum prejuízo os pagamentos são feitos pelo fundo hedge ao banco.

Os swaps ganharam grande popularidade, mas foram criticados porque permitem que os investidores acumulem posições em companhias sem revelar seus patrimônios, como teriam de fazer com posições em ações do mesmo tamanho. Eles são muitas vezes usados por fundos ativistas para esconder suas posições enquanto formam posições em companhias alvo.

A Archegos transacionava quase exclusivamente em swaps de retorno total, segundo várias pessoas inteiradas das operações do fundo. E depois aumentou sua pegada detendo os swaps com diversos bancos.

As corretoras prime talvez não tivessem ciência da extensão de sua própria exposição à Archegos ou de estar acumuladas em bancos rivais, segundo diversas pessoas envolvidas.

"A realidade é que as corretoras prime continuam juntando as peças", disse um corretor, horas depois dos negócios em bloco começarem a atingir o mercado.

Outros discutiram isso. "É inconcebível que lhe emprestamos tanto ou que não tivéssemos ciência das posições dos outros bancos", disse um executivo de um banco com exposição de milhões de dólares à Archegos.

Menos de dez bancos acumularam mais de US$ 50 bilhões em exposição de crédito à Archegos, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Um investidor baseado em Hong Kong disse: "Algum banco sabia como esse fundo estava crescendo e como estava realmente alavancado? Se sabia, por que continuou emprestando em termos tão agressivos?"

Alguns bancos estavam emprestando tanto à Archegos que ela estava alavancada até oito vezes, o que significa que para cada ação que o fundo comprava o banco lhe emprestava mais sete, segundo pessoas inteiradas. Em alguns pregões, a proporção de alavancagem pode ter chegado a 20 vezes, disse uma pessoa informada sobre o fundo.

Isso significava que a Archegos pôde acumular grandes posições alimentadas a dívida sem revelar publicamente as posições ou possuir os papéis subjacentes.

"Se você detém tudo como swaps, a realidade do que você tem de declarar aos seus bancos é muito pequena", disse um executivo de fundo hedge conhecedor dos instrumentos de corretagem.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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