Descrição de chapéu Banco do Brasil

Presidente do conselho do BB renuncia ao cargo e ataca interferência de Bolsonaro

Hélio Magalhães reclama de desrepeito à governança, e conselheiro José Guimarães Monforte também deixa banco; leia as cartas de despedidas

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Brasília

Indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, Hélio Magalhães renunciou ao cargo de presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil nesta quinta-feira (1º) por discordar da interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na instituição, com a indicação de um novo presidente e novos integrantes do colegiado, grupo que determina a direção que o banco vai tomar.

Além de Magalhães, outro conselheiro indicado por Guedes, José Guimarães Monforte, abriu mão do cargo. Ambos deixam os cargos oficialmente na sexta-feira (2), segundo comunicado do BB ao mercado.

Na carta de renúncia, Magalhães critica a interferência de Bolsonaro no banco ao indicar o administrador Fausto de Andrade Ribeiro, 52, como novo presidente. Segundo ele, Ribeiro não passou pelo crivo do Conselho de Administração. Tido como bolsonarista, ele hoje dirige o braço de consórcios do BB.

Hélio Magalhães, que anunciou a saída do conselho do Banco do Brasil - Patricia Monteiro-29.jun.2017/Folhapress

Ambos não foram indicados para uma recondução ao cargo. Magalhães escreve que, mesmo se isso ocorresse, não continuaria no posto.

“No caso do BB, me refiro às tentativas de desrespeito à governança corporativa, ainda que frustradas pela atuação diligente deste conselho e pela higidez dos mecanismos de governança da companhia," escreveu ao justificar a saída.

"Como exemplo, cito as interferências externas na execução do plano de eficiência da companhia aprovado por este conselho e obviamente necessário para adequá-la aos novos tempos e desafios do setor. Ato contínuo, renovo meu protesto ao rito de escolha do novo presidente do banco, o qual simplesmente não considera o desejável crivo deste conselho, vez que baseado em legislação anacrônica e contrária às melhores práticas de governança em nível global."

Segundo ele, o governo, controlador do banco, “vem tratando com reiterado descaso”a instituição e outras estatais de capital aberto.

A Folha teve acesso às cartas de renúncia de Magalhães e Monforte. Executivos do banco afirmam que Monforte deixa a instituição pelos mesmos motivos de Magalhães.

Pessoas que participaram das discussões no banco afirmam que a ideia do governo é retomar um política antiga do BB de indicar secretários da Economia ao conselho. Waldery Rodrigues, atual secretário especial de Fazenda, deverá presidir o conselho. Dessa forma, afirmam esses executivos, o governo terá mais controle sobre as decisões.

Bolsonaro decidiu trocar o presidente do BB, André Brandão, por um nome mais afinado com ele. Brandão é um executivo de mercado, atuou no HSBC e tinha simpatia de Guedes, que escolheu nomes independentes para comandar estatais e as instituições financeiras controladas pelo governo —BB, Caixa Econômica Federal e BNDES.

Brandão conquistou a antipatia de Bolsonaro em janeiro deste ano, depois de anunciar o fechamento de 112 agências do BB e um programa de desligamento de mais de 5 mil funcionários no momento de alta da taxa de desemprego no mercado.

Guedes resistiu e, junto com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tentaram indicar um nome de consenso: Eduardo Dacache, diretor da Caixa Seguridade.

Assessores do Planalto afirmam que Bolsonaro gostou do perfil do executivo, mas queria alguém mais próximo a ele.

A interferência no BB ocorre na sequência da ingerência do governo na Petrobras. Bolsonaro demitiu Roberto Castello Branco porque o executivo não concordava em usar o caixa da companhia para conter os repasses de preços aos combustíveis.

Leia a íntegra da carta de Hélio Magalhães

"Ao Conselho de Administração do Banco do Brasil S.A.

Prezados Conselheiros,

Pela presente, para os fins do disposto no art. 151 da Lei nº 6.404/1976, comunico minha renúncia, com efeitos a partir de 02.04.2021, ao cargo de Conselheiro de Administração do Banco do Brasil S.A., para o qual fui nomeado por esse Conselho em 13.06.2019.

Não o faço por conta da já anunciada e esperada decisão do controlador de não me reconduzir a um novo mandato, até porque o contrário em nada interferiria na presente decisão, mas em razão do reiterado descaso com o que o acionista majoritário vem tratando não apenas esta prestigiada instituição, mas também outras importantes estatais de capital aberto e seus principais administradores.

No caso do Banco do Brasil, me refiro às tentativas de desrespeito à governança corporativa, ainda que frustradas pela atuação diligente deste Conselho e pela higidez dos mecanismos de governança da companhia. Como exemplo, cito as interferências externas na execução do plano de eficiência da companhia aprovado por esse Conselho e obviamente necessário para adequá-la aos novos tempos e desafios do setor. Ato contínuo, renovo meu protesto ao rito de escolha do novo Presidente do Banco, o qual simplesmente não considera o desejável crivo deste Conselho, vez que baseado em legislação anacrônica e contrária às melhores práticas de governança em nível global.

Nestes quase dois anos em que tive a honra de presidir o Conselho de Administração desta Casa, muito fizemos e em muito evoluímos principalmente nas três frentes de atuação que me foram solicitadas pelo Ministro da Economia e que me propus priorizar ao assumir a posição de presidente do Conselho: elevar a governança do BB a um padrão best in class, melhorar a eficiência do Banco e avançar nos projetos de desinvestimento. Infelizmente, entendo que essas não são mais do interesse do acionista majoritário.

Deixo o Banco do Brasil com pesar, mas convicto de que minha decisão é a mais acertada neste momento. Agradeço aos meus colegas de Conselho pela confiança que me foi depositada no período em que estivemos lado a lado, bem como a todo time de executivos, certamente entre os melhores com quem já tive a honra de trabalhar.

Desejo sucesso ao BB e às pessoas que fazem dele o que é, grande e respeitado por mais de dois séculos de história.

Respeitosamente,
Hélio Lima Magalhães"

Leia a íntegra da carta de José Guimarães Monforte

"Ao Conselho de Administração do Banco do Brasil S.A.

Comunico minha renúncia, irrevogável e irretratável, e com eficácia imediata, à posição que ocupo nesse Conselho.

Foi com muito orgulho e e entusiasmo que respondi positivamente ao convite que me foi feito pelo então Secretário Salim Mattar, para fazer parte desse colegiado

A missão a mim proposta foi a de contribuir para a evolução da governança e na busca pelo aumento da eficiência desta instituição, tarefas que realizaria com muito apreço e adequada competência, acredito, pelos 45 anos de atividade profissional no mercado de capitais e em mais de 20 anos dedicados à governança corporativa.

Ocupei por pouco mais de um ano esta cadeira, com muito entusiasmo, em razão do desafiador e belo projeto que havia para os administradores.`

As circunstâncias, representadas por restrição inaceitável a atos da administração emergiram, e impedem efetivar medidas que visam realizar avanços na direção de ganhos de eficiência, em ambiente competitivo de elevada intensidade, tornam inócua minha tentativa de contribuição.

Acredito também que o processo de sucessão na liderança de empresas, principalmente as de capital aberto, não deve ser feita somente porque se detém o poder para fazê-las. Há que haver razões bem fundamentadas para que se inicie esse processo.
Uma das funções mais críticas de um Conselho de Administração é avaliar os principais executivos da empresa, e como resultado conduzir os processos sucessórios se e quando necessário. O desrespeito a isto, não é uma boa prática de governança.

Tenho participado há alguns anos de tormentosa jornada na busca da evolução da governança das empresas estatais. Muitos avanços foram conquistados, não todos os pretendidos, mas conviver com retrocesso estabelece o limite que estou disposto a aceitar.

Agradeço a todos aqueles que tão generosamente me acolheram nesta bicentenária instituição, orgulho de todos os brasileiros.

Foi uma honra ter participado de sua administração, mesmo que por curto período.


Atenciosamente

José Guimarães Monforte."

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