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Startup ajuda pessoa com deficiência a fazer compras; veja teste

Repórter usou agendamento da Inclue, que facilita compras em supermercado

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São Paulo

É comum que pessoas com deficiência visual, caso do autor deste texto, evitem ir ao supermercado sozinhas.

Fazer compras nesses locais é difícil porque são espaços grandes, onde não costuma haver uma regra muito clara sobre onde ir para conseguir alguém que possa nos guiar nem qualquer certeza de que haverá um funcionário disponível rapidamente.

Além disso, apesar de haver muita gente com boa vontade para ajudar, nada garante que encontraremos um funcionário com preparo e paciência para ler quais os sabores de sorvete disponíveis ou o preço das diferentes marcas de arroz.

Com essa desconfiança em mente, decidi experimentar o serviço que a startup Inclue (http://www.inclue.com.br) começou a testar neste ano com a rede Pão de Açúcar.

Por um aplicativo, é possível agendar o atendimento em duas lojas, uma na avenida Washington Luiz, em São Paulo, e uma em São Caetano. Também está disponível em duas unidades da rede Prezunic no Rio de Janeiro.

A companhia foi criada em 2019 por Rodrigo Piris, que está no espectro autista, e Sonny Polito, que tem deficiência visual.

A parceria com o GPA (Grupo Pão de Açúcar) veio a partir de projeto de um gerente de loja que queria tornar seu espaço mais inclusivo e que foi levado ao GPA Labs para busca de parceiros, conta Monique Cavaletti, gerente da iniciativa de inovação da rede.

Os sócios da startup Inclue Rodrigo Pires e Sonny Pólito, ao lado da gerente de Inovação do GPA, Monique Cavaletti, posam para foto no corredor de supermercado
Os sócios da startup Inclue Rodrigo Pires (de máscara preta) e Sonny Pólito, ao lado da gerente de Inovação do GPA, Monique Cavaletti - Bruno Santos/ Folhapress

O cadastro no aplicativo e o agendamento foram rápidos e acessíveis. Logo no início, o sistema pergunta qual a deficiência do cliente, o que passou confiança.

Por outro lado, apesar de o horário marcado ficar disponível para consulta no app, indicando que tudo deu certo, não recebi email, Whatsapp ou ligação de confirmação. Talvez por estar acostumado a ter de fazer malabarismos até conseguir apoio, fiquei em dúvida se tudo daria certo e como proceder ao chegar no mercado. Tentei telefonar, mas não consegui contato. Resolvi ir mesmo assim.

Dez minutos antes da hora marcada, já estava na porta da loja. Pedi que a motorista de aplicativo que me levou até lá me indicasse um segurança que, depois, me conduziu ao balcão de informações. Por alguns instantes, temi voltar para casa de sacola vazia.

Após escutar alguma troca de informações entre os funcionários, ouvi que estava tudo certo e buscariam a pessoa para me atender. Logo a Fernanda Monteiro, que é especialista de clientes na loja, chegou sorridente, contando que teria me encontrado lá na porta mesmo e se programou para estar me esperando cinco minutos antes do combinado.

Também disse que o contato prévio para orientar o cliente antes de ele chegar na loja faz parte do procedimento padrão e que isso seria reforçado para os próximos agendamentos.

Vencido o temor inicial de não ter ninguém me esperando, abri a lista de compras anotada no celular que foi lida para nós com a voz robótica do sistema que identifica as informações na tela do aparelho para mim. Com a informação, a Fernanda montou logo um mapa mental sobre quais corredores percorrer antes de começar.

Ela levou o carrinho e eu descobria para onde ir segurando seu cotovelo. Não houve dificuldade para andarmos pelos corredores. Fernanda contou que parte da implantação do novo atendimento incluiu assistir a treinamentos sobre como ajudar pessoas com diferentes deficiências.

Também não me faltaram informações para comparar preços e tamanho de embalagens das marcas de lâmina de barbear, chocolates, macarrão e cerveja. Quando a informação falada não era suficiente, minha ajudante colocava rapidamente a embalagem nas minhas mãos para que eu entendesse melhor se a quantidade seria muito ou pouca.

Ela me ajudou a escolher os caquis mais maduros e contou sobre produtos que eu nem sabia e saí de lá com sucrilhos sabor churros para experimentar, depois de darmos risada de minha lista de compras, com muito mais carboidratos do que fibras.

Após colocadas as sacolas no carrinho e o pagamento, minha companhia de compras aguardou a chegada do próximo carro que iria me conduzir, ajudou a localizá-lo e a colocar as compras no porta-malas. Só soube que eu era jornalista e poderia escrever sobre seu atendimento, muito cuidadoso e gentil, na hora de nos despedirmos.

A sensação, no fim, é a de, ao menos dessa vez, ter circulado na loja com a certeza de estar sendo percebido como um consumidor, não como um problema que ninguém sabe muito bem como resolver e fica sendo passado de uma pessoa para outra —o que é frequente na hora de andar por shoppings centers.

Torço para que ideias como essa se espalhem para que uma atividade tão simples e básica que é trazer comida para casa possa ser realizada com conforto e independência por todos.

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