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Pais de crianças chamadas Alexa protestam contra Amazon

Empresa se diz entristecida e fala que há palavras alternativas para chamar a assistente virtual

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Tim Johns
BBC News Brasil

Pais de crianças chamadas Alexa dizem que suas filhas estão sofrendo bullying por ter o mesmo nome que a Amazon usa para sua assistente virtual.

Alguns chegaram a mudar o nome das filhas porque dizem que a enxurrada de piadas relacionadas ao nome Alexa é "implacável".

Eles pedem que a Amazon mude a palavra de ativação padrão para seus dispositivos para um nome não humano.

A Amazon diz que está "entristecida" com esses relatos, e que palavras alternativas para chamar a assistente virtual estão disponíveis.

A palavra Alexa se popularizou nos últimos anos, à medida que mais famílias usam alto-falantes inteligentes ativados por voz. Os aparelhos Echo e Echo Dot da Amazon usam Alexa como o comando que você diz antes de dar instruções ou fazer uma pergunta.

Mulher sorri para a Alexa, da Amazon
A palavra 'Alexa' é usada em muitas famílias para chamar seus dispositivos da Amazon - Getty

No entanto, isso está causando problemas para pessoas chamadas Alexa, que frequentemente são vítimas de piadas: as pessoas gritam seu nome e emitem um comando.

A filha adolescente de Heather (nome fictício), Alexa, ouviu piadas de outras crianças, e até por professores, por causa de seu nome, assim que ela começou o Ensino Médio.

"Ela começou a não querer se apresentar por causa das piadas e da reação. Ela era e ainda é uma criança, mas os adultos achavam que não havia problema em brincar com ela. É devastador. A escola não ajudou e disse que ela precisava ficar mais resiliente."

'Alexa é uma humana'

Heather diz que a situação afetou muito a saúde mental de sua filha. No final, elas decidiram mudar legalmente o nome de Alexa.

"Ela está em uma situação muito melhor agora. Cortamos amigos e a mudamos para uma nova escola para permitir um novo começo. A injustiça nunca vai deixá-la, ou a nós. A Amazon deve mudar a palavra padrão em seus dispositivos. Claramente não há pesquisas éticas suficientes sobre o uso de Alexa."

Existem mais de 4.000 pessoas chamadas Alexa com menos de 25 anos no Reino Unido, e os pais de algumas delas contaram à BBC histórias semelhantes às de Heather.

Charlotte (também nome fictício) diz que sua filha Alexa tem apenas seis anos, mas já está sendo perseguida.

"Tudo começou na escola. As crianças mais velhas diziam coisas como 'Alexa, toca música disco'. Outros meninos gritavam comandos para ela.

"Nós estávamos no parque outro dia e todos os garotos estavam dizendo isso para ela constantemente. Ela começou a se calar. Acho que está afetando a confiança dela. Os adultos também riem dela."

"Ela me disse: 'Gostaria que as pessoas não soubessem meu nome'. As pessoas que compram esses dispositivos estão inadvertidamente aumentando o problema."

Charlotte acrescentou que a Amazon "não anuncia o fato" de que a palavra de ativação pode ser alterada.

Em resposta, a Amazon disse em um comunicado: "Projetamos nosso assistente de voz para refletir as qualidades que valorizamos nas pessoas - ser inteligente, atencioso, empático e inclusivo."

"Estamos tristes com as experiências que você compartilhou e queremos ser muito claros: bullying de qualquer tipo é inaceitável e nós o condenamos das formas mais fortes possíveis."

'Lute pelo seu nome'

O problema, que atraiu reclamações desde o lançamento de Alexa em 2014, não se limita ao Reino Unido.

Lauren Johnson, de Massachusetts, nos Estados Unidos, iniciou uma campanha chamada Alexa is a Human (Alexa é uma humana).

"Minha filha Alexa está com 9 anos agora. A coisa toda é um passo além das provocações e intimidações 'normais'. É o apagamento de identidade. A palavra Alexa se tornou sinônimo de serva ou escrava. Ela dá às pessoas a licença para tratá-las com o nome Alexa de maneira subserviente", disse.

Lauren acrescentou que, para crianças mais velhas, muitas das piadas envolvendo o nome Alexa podem ser de natureza sexual.

O problema também afeta adultos. Alexa mora em Hamburgo, na Alemanha, e sofre com piadas tanto na vida privada quanto profissional.

"Se faço uma apresentação no trabalho, assim que digo meu nome, alguém sempre faz um comentário", disse ela à BBC.

"Acho que é eticamente inaceitável que uma marca possa sequestrar um nome humano e mudar totalmente seu significado. Meu nome é minha identidade. Eu encorajaria todos que se chamam Alexa a lutar por seu nome. É a Amazon que tem que dar um passo atrás."

Desde que os dispositivos Alexa da Amazon foram introduzidos no Reino Unido, em 2016, a popularidade do nome caiu drasticamente. Na época, era o 167º nome do bebê mais popular na Inglaterra e no País de Gales, mas em 2019 já era o 920º.

No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que há 1.493 pessoas com esse nome, o que o coloca na posição 6.282º no ranking de popularidade.

Amazon respondeu: "Como alternativa ao Alexa, também oferecemos várias outras palavras de alerta que os clientes podem escolher, incluindo Echo, Computer e Amazon. Valorizamos o feedback dos clientes e, como em tudo o que fazemos, continuaremos procurando maneiras para oferecer a eles mais opções nesta área."

Alexa não é a única assistente de voz a ter um nome também usado por pessoas reais.

Siri, o nome do assistente de voz da Apple, é uma abreviação de Sigrid e é usado na Noruega, Suécia e nas Ilhas Faroe. No entanto, sua pronúncia em norueguês é diferente.

Uma adulta chamada Siri, residente no Reino Unido, disse anteriormente à BBC que recebeu muitas piadas de pessoas sobre seu nome, incluindo uma de um funcionário do helpdesk da Apple.


A ONG NSPCC, que trabalha com ações para crianças, recomenda a crianças vítimas de bullying (online ou pessoalmente): procurar um adulto de confiança, como um professor ou pai/mãe, não enfrente os agressores sozinho ou retaliar, pois isso pode causar problemas, evitar situações de conflito, ficando acompanhado por amigos, cuidar da saúde mental (sair, ler um livro, ouvir música, encontrar um amigo). Se houver intimidação nas redes sociais, a recomendação é denunciar e, se for necessário, passar um tempo longe delas.

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