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Até motel e cemitério atraem investimento coletivo via startup

Novas plataformas de financiamento coletivo se especializam em nichos

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São Paulo

O mercado de equity crowdfunding, investimento coletivo em empresas pela internet, vem se diversificando e abrindo espaço para a criação de plataformas especializadas em nichos do mercado.

Estão em operação ou em desenvolvimento startups que permitem aos investidores aplicarem nos mais variados modelos de negócios —empresas de mulheres, de atuação regional, pequenos e médios empreendimentos, marcas de produtos veganos.

Nesses novos serviços, para além das startups e fintechs já oferecidas ao investidor nas maiores empresas de crowdfunding, deverá ser possível encontrar usinas de energia solar, empresa que vende mogno africano, unidades de motéis e cemitérios ou empresa que vende leite feito a partir de plantas.

Retrato da CEO da Beegin e cofundadora do Grupo Solum, Patricia Stille, em seu escritório na zona oeste da cidade - Bruno Santos - 11.ago.2021/Folhapress

Regulado pela CVM desde 2017, o equity crowdfunding permite que empresas que faturem até R$ 10 milhões ao ano captem até R$ 5 milhões de investidores a partir de plataformas online autorizadas.

Felipe Souto, presidente da Bloxs, que se apresenta como plataforma de investimentos alternativos, diz que o investimento em startup costuma ser uma aposta em empresa que pode multiplicar seu valor de mercado, mas que também traz grande risco de fracassar.

Por outro lado, quando se investe em uma usina solar, por exemplo, a ideia é gerar ganhos com dividendos e ter sempre um ativo que, se não irá crescer tanto quanto uma startup de sucesso, também não corre o mesmo risco de perder valor.

Entre as operações feitas pela Bloxs estão captações para a expansão da Rede Drops de motéis, para a produção de grãos em Tocantins pela Invest Mogno, obra de hospital em Alphaville ou na rede de alimentação Espetinho Bom.

A plataforma Beegin, do grupo Solum, é especializada em captar recursos para pequenas e médias empresas da economia tradicional.

Patrícia Stille, presidente da Beegin e ex-sócia da XP, diz que pequenas e médias empresas podem oferecer uma boa relação entre risco e potencial de retorno. Isso porque já possuem modelos de negócios com taxa de mortalidade menor do que o das startups. Além disso, donos desses negócios não costumam estar na mira dos fundos de investimento e, mesmo tendo empresas sólidas, dependem só de crédito bancário.

Entre os negócios que captaram pela plataforma está aclínica de reprodução assistida Engravida, que conseguiu R$ 4,2 milhões de 155 investidores para sua expansão.

Além de oferecer ativos menos comuns no mercado, o crowdfunding de nicho pode aproximar empresas e investidores que compartilham os mesmos interesses ou chamar atenção para empresas em regiões que por vezes ficam fora do radar dos investidores tradicionais de startups.

Christian Wholters, fundador do Vegan Business, hoje um portal de conteúdo sobre veganismo, prepara para o início de 2022 a transformação do site em uma plataforma de crowdfunding em que investidores poderão comprar participação em empresas do setor.

Segundo Wholters, a criação de uma plataforma para o nicho deve ajudar investidores a encontrar negócios que possuam valores semelhantes aos seus e que passaram por uma seleção que leva isso em conta.

O empresário diz estar em conversa com 22 empresas em busca de recursos, incluindo negócios nas áreas de alimentação, moda, cosméticos e construção.

João Paulo Gomes, que está desenvolvendo a plataforma Alt.VC, diz que irá buscar principalmente projetos do Nordeste, região de origem dos sócios, para oferecer aos investidores. O conhecimento dos empresários locais será um diferencial para o grupo, afirma.

Entre as áreas de interesse para sua plataforma, Gomes destaca a produção de energia solar e o agronegócio. Sua empresa analisa projetos de cemitérios para oferecer aos investidores.

Gustavo Menezes, que desenvolve a partir da Bahia a plataforma 3C, também vê como um de seus diferenciais a possibilidade de localizar startups de fora de São Paulo. "Queremos sair um pouco do mercado Faria Lima e trazer ofertas que não necessariamente chegam para o investidor que está acostumado com as principais plataformas", afirma.

Segundo Menezes, sua equipe vai buscar com centros de empreendedorismo espalhados pelo país para encontrar boas oportunidades de investimento para anunciar na plataforma. A expectativa é que a 3C esteja funcionando a partir de setembro, diz.

Ao mesmo tempo que implica aumento da concorrência, a diversificação das plataformas se tornou uma oportunidade para o Kria, uma das primeiras empresas do mercado de crowdfunding no Brasil.

A companhia passou a oferecer sua infraestrutura para que terceiros criassem a partir dela outros sites de financiamento coletivo.

Camila Nasser, presidente do Kria, diz que a decisão de fomentar novas plataformas dá mais escala ao mercado e torna a possibilidade de captar investimentos para startups mais democrática, pois mais empresas passam a fazer a seleção delas para apresentar aos investidores.

Andrezza Rodrigues, sócia da startup HerMoney, decidiu buscar a plataforma Wishe na hora de levantar recursos para sua fintech, um serviço de apoio na gestão financeira para mulheres a partir de inteligência artificial no WhatsApp.

O serviço escolhido por ela para buscar investidores só apresenta captações de startups lideradas por mulheres .

A companhia levantou R$ 250 mil com 25 investidores (22 mulheres e 3 homens), em rodada encerrada em agosto.

Segundo Rodrigues, o uso de uma plataforma de crowdfunding especializada permitiu conseguir investidoras que também são usuárias do produto e, agora como sócias, vão ajudar no desenvolvimento do negócio. Ela conta ter grupo de WhatsApp para troca de informações com o grupo.

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