Bolsa cai 0,69%, mas encerra semana no azul, mesmo com caso Evergrande

Recuperação após três semanas foi desacelerada nesta sexta pela crise na China

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira encerrou a semana com uma alta acumulada de 1,65%, mesmo depois de ter recuado 0,69% nesta sexta-feira (24), a 113.282 pontos. O dólar encerrou o dia em elevação de 0,60%, a R$ 5,3440.

Após três quedas semanais potencializadas por crises domésticas, a recuperação do Ibovespa ocorre justamente em uma semana que começou com a desvalorização de índices acionários em todo o mundo após a Evergrande, uma gigante do ramo imobiliário chinês, comunicar que estava sem liquidez para quitar parte de suas dívidas, cujo total é estimado em mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão).

Sem que o governo da China comunicasse claramente sobre uma eventual intervenção para evitar a contaminação da economia local, o mercado passou a avaliar na última terça-feira (21) que Pequim tinha controle sobre a crise, o que proporcionou três dias consecutivos de altas nas Bolsas.

Nesta sexta, porém, a incorporadora chinesa Evergrande não entrou em contato com investidores estrangeiros para discutir o pagamento de US$ 83,5 milhões (R$ 445 milhões) em juros de títulos que venceram nesta quinta-feira (23).

A falta de comunicação elevou a percepção de risco dos investidores, afetando os mercados globais.

Em outro episódio preocupante sobre a crise na China, o mundo financeiro passou a observar com preocupação nesta sexta a situação de um banco regional do qual a Evergrande é a principal acionista.

O Shengjing Bank, um banco comercial da província de Liaoning, detém um valor substancial em títulos de dívida da Evergrande.

Com o avanço da crise da dívida na gigante dos imóveis, o governo de Liaoning está tentando recomprar algumas das ações do banco regional que estão nas mãos da Evergrand. Com isso, o governo local tenta reduzir os riscos econômicos e sociais que a quebra do banco poderia causar na economia local.

A situação do Shengjing Bank tem sido analisada como um exemplo de como um calote da Evergrande poderia resultar em uma quebradeira na economia chinesa e mundial.O Shengjing é apenas uma das centenas de empresas que têm muito a perder, dependendo do resultado.

O banco também enfrenta problemas. No primeiro semestre de 2021, seu lucro líquido caiu em 63,6%, para 10,3 bilhões de yuan (R$ 8,433 bilhões).

Em maio, a Comissão Regulatória de Bancos e Seguros da China multou quatro agências do Shengjing em 5,52 milhões de yuan (R$ 4,52 milhões) por violação de regras e por concederem empréstimos a projetos imobiliários não autorizados. A agência regulatória está examinando as transações entre a Evergrande e o banco.

A Evergrande adquiriu um bilhão de ações do Shengjing de acionistas existentes por 10 bilhões de yuan (R$ 8,188 bilhões), em 2016, e se tornou a maior acionista do banco, com uma participação de 17,28%.

O preço pago pela Evergrande incorporava a absorção pela companhia de 50 bilhões de yuan (R$ 40,94 bilhões) em ativos problemáticos do Shengjing. Como parte da transação, o banco transferiu esses ativos de seu balanço para o da Evergrande.

Em 2019, a Evergrande ampliou sua participação no Shengjing a 36,4%, por meio de uma emissão privativa de 18 bilhões de yuan (R$ 14,738 bilhões) em ações.

Entre os demais acionistas do banco, Lau Luen Hung, da incorporadora imobiliária Chinese Estates Holdings, de Hong Kong; Suen Cho Hung, da Zhengbo; e Lo Ki Yan, da Future Capital, são amigos do fundador e o presidente do conselho da Evergrande, Hui Ka Yan.

O mercado está especulando que a Evergrande tenha sob seu controle mais de 50% das ações do banco.

Ações da Vale refletem crise

No pregão desta sexta na Bolsa brasileira, as ações da Vale (VALE3) caíram 1,55%, na esteira das incertezas sobre a China, principal comprador da produção de minério de ferro da empresa brasileira.

Em sentido oposto, Petrobras (PETR4) e PetroRio (PRIO3) subiram 0,22% e 3,87%, respectivamente. As petroleiras foram beneficiadas pela valorização da commodity. O barril do Brent, referência para o mercado, avançou 1,02%, cotado a US$ 78,04 (R$ 417,00).

O noticiário econômico doméstico, apesar de ofuscado pelos apuros trazidos pela quebra da Evergrande, teve destaques relevantes, como a elevação da taxa Selic para 6,25% ao ano, o que o mercado entendeu como um acerto da autoridade monetária na contenção da inflação.

Também houve a divulgação do IPCA-15 (a prévia da inflação oficial) de agosto, que avançou 0,89% e é a maior taxa para o período desde 2002.

Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones subiu 0,10%, enquanto o S&P 500 avançou 0,15%. O Nasdaq caiu 0,03%.

Os resultados fracos desta sexta em Wall Street contrastam com o bom humor que predominava desde a quarta-feira (22), quando o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) agradou ao mercado ao informar que manterá a cautela na redução da compra de ativos e na elevação da taxa de juros, medidas de estímulo à economia adotadas para conter os efeitos econômicos da pandemia.

Na Europa, as Bolsas de Londres, Paris e Frankfurt fecharam com quedas de 0,38%, 0,95% e 0,32%.

(Com Reuters)

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