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Expectativas de juros e inflação aumentam pelo mundo, e mercado teme estagflação

Taxas e preços em alta e crescimento mais lento da economia derrubam Bolsas

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Financial Times

As ações americanas, europeias e brasileiras caíram acentuadamente em meio às expectativas de aumento das taxas de juros e da inflação, combinadas com o crescimento econômico mais lento, que derrubaram a política monetária branda e a narrativa de recuperação que sustentou os preços dos ativos durante meses.

O índice de ações de grandes empresas S&P 500 em Wall Street caiu 2,04%, enquanto o Nasdaq Composite, forte em tecnologia, baixou 2,83%. Os declínios dos dois índices foram as piores perdas diárias desde maio, com mais de 85% das ações do S&P 500 em baixa durante o dia. O índice europeu Stoxx 600 fechou em queda de 2,2%.

No Brasil, o Ibovespa caiu 3,05%, a 110.123 pontos, e o dólar subiu 0,87%, a R$ 5,4260

O rendimento dos papéis do Tesouro americano para 10 anos, que servem de referência para custos de financiamento para empresas e famílias no mundo todo, subiu 0,04 ponto percentual, para 1,53%, nível não visto desde junho.

Operadores de pregão durante simulação na Bolsa brasileira - Alessandro Shinoda - 8.ago.2011/Folhapress

O rendimento de títulos do governo americano de curto prazo, que se move inversamente aos preços, subiu na última semana para acompanhar aumentos de taxas previstos pelos bancos centrais dos Estados Unidos e do Reino Unido. Os formuladores de políticas sinalizaram cada vez mais sua disposição a começar a retirar o estímulo monetário da era pandêmica diante da inflação persistentemente alta. Títulos de prazo maior, que se movem com a inflação e expectativas de crescimento, também foram liquidados drasticamente.

"Nos últimos três ou quatro dias, o mercado vem tentando precificar um Fed mais rápido", disse Priya Misra, chefe global de estratégia de taxas na TD Securities. "É uma mensagem mais agressiva que está ganhando espaço no mercado de taxas. É por isso que o longo prazo vem abrindo o caminho."

Na semana passada, o Federal Reserve disse que poderia facilmente avançar com uma redução de suas aquisições de títulos de US$ 120 bilhões (R$ 650 bilhões) por mês. O banco central mais influente do mundo também revelou que a metade de seus formuladores de políticas monetárias espera o primeiro aumento de taxas de juros pós-pandemia para 2022.

Um dia depois, o Banco da Inglaterra advertiu que a inflação no Reino Unido poderá superar 4% no próximo ano, provocando expectativas de que está se aproximando de elevar as taxas de juros de seus pisos históricos.

O rendimento da nota do Tesouro para 10 anos, que foi negociada em torno de 1,3% uma semana atrás, também é usado por investidores para avaliar o valor de ganhos futuros de empresas de capital aberto, fluxos de caixa e dividendos.

O rendimento dos títulos do governo britânico (gilts) passou brevemente de 1% na terça-feira (28) pela primeira vez desde março do ano passado, e estava em alta de 0,04 ponto percentual, a 0,99%. A libra britânica caiu quase 1,3% em comparação com o dólar, a US$ 1,35 (R$ 7,31) para compra.

Entre os setores mais atingidos na terça estavam as companhias do setor tecnológico, com um índice do Goldman Sachs de grupos tech negociados em Bolsa não rentáveis caindo quase 5% no dia.

"Quando as taxas dos títulos sobem, tornam as ações menos atraentes, especialmente aquelas cujo rendimento em dividendos é muito pequeno, como no setor tecnológico", disse Rebecca Chesworth, estrategista sênior de equities nos negócios SPDR ETF da State Street Global Advisors.

As ações tecnológicas foram particularmente sensíveis a movimentos das taxas de juros e expectativas de políticas monetárias, dadas suas avaliações muitas vezes ligadas estreitamente ao crescimento futuro em muitos anos. Se as taxas de juros e a inflação estão ambas aumentando, os investidores tendem a reduzir suas expectativas de crescimento futuro.

Depondo no Congresso dos EUA na terça, o presidente do Fed, Jay Powell, disse que as restrições pelo lado da oferta que mantiveram a inflação total acima de 5% por três meses consecutivos foram "maiores e mais duradouras do que o previsto".

Powell fez esses comentários horas depois que o petróleo Brent, o padrão de referência internacional, foi negociado brevemente acima de US$ 80 (R$ 433) o barril pela primeira vez desde outubro de 2018, empurrado pelos furacões que reduzem a produção dos EUA e o aumento dos preços do gás natural.

O índice de confiança do consumidor do Conference Board dos EUA, publicado na terça, também atingiu uma baixa de sete meses em setembro. Os autores do estudo citaram preocupações sobre a altamente infecciosa variante delta do coronavírus para explicar a queda.

"A narrativa principal do mercado é de estagflação", disse Samy Chaar, economista-chefe do banco suíço Lombard Odier, referindo-se ao espectro de inflação alta e expansão econômica mais lenta.

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