Guedes vê trimestre 'mais trágico', Ciro critica pessimistas, e Campos Neto já fala em rever crescimento

Recuo do PIB no segundo trimestre expõe visões conflitantes entre áreas econômica e política do governo

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Brasília

O recuo de 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre expôs visões conflitantes entre as áreas econômica e política do governo Jair Bolsonaro. Os ministros Paulo Guedes (Economia) e Ciro Nogueira (Casa Civil) apresentaram discursos distintos.

Guedes afirmou que o resultado se deu no "trimestre mais trágico" da pandemia da Covid-19. Ciro, por sua vez, chamou de pessimista quem vê o desempenho da economia como ruim.

Já o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a projeção do PIB para 2021 provavelmente será revisada para baixo devido ao resultado do último trimestre.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Economia, Paulo Guedes - Ueslei Marcelino - 22.jun.2021/Reuters

A variação negativa foi observada em relação ao trimestre anterior, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (1º). O desempenho vem do resultado negativo da agropecuária (-2,8%) e da indústria (-0,2%). Por outro lado, os serviços avançaram 0,7% no período.

"Foi o trimestre mais trágico, quando a pandemia abateu mais brasileiros, foi abril, maio e junho deste ano, com a segunda onda. Foi justamente quando entrou de novo o auxílio emergencial, a expansão dos programas de assistência. Nós mantivemos a responsabilidade fiscal de um lado e o compromisso da saúde dos brasileiros de outro lado", afirmou Guedes.

Em almoço de lançamento da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, o ministro afirmou que o resultado do PIB no trimestre, recuo de 0,054%, foi arredondado para uma queda de 0,1%, mas ressaltou que é um ajuste "mínimo, não faz mal".

"A economia voltou em V, estamos crescendo novamente. Hoje saiu um dado que é praticamente de lado, foi 0,05% a queda do PIB. Quando dá 0,05%, é arredondada para 0,1%. Se fosse 0,04%, seria [arredondado para] zero. É um negócio mínimo, não faz mal", disse.

Pouco antes, Ciro havia dado sua opinião nas redes sociais. Em mensagens publicadas no Twitter, ele usou a comparação com o segundo trimestre de 2020 para argumentar que o resultado "confirma a recuperação da nossa economia".

"O PIB brasileiro no segundo trimestre deste ano cresceu 12,4% em relação ao mesmo período do ano passado e confirma a recuperação da nossa economia, que já está no mesmo patamar do final de 2019 e início de 2020", afirmou.

"Ao comparar com o 1º trimestre de 2021 o PIB recuou 0,1%. O suficiente para pessimistas dizerem que a economia está ruim, mas prefiro o otimismo de ver que o Brasil já está no nível pré-pandemia, confiante na recuperação iniciada com o avanço da vacinação e das reformas em curso", escreveu.

O resultado, porém, veio abaixo das expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam crescimento de 0,2% na comparação com o trimestre anterior.

No relatório Focus desta semana, em que o BC divulga as projeções do mercado, a estimativa para o PIB de 2021 estava em alta de 5,22%.

"A projeção do PIB para 2021 estava em 5,22%, com o número de hoje achamos que pode ser revisada um pouquinho para baixo, vamos observar", afirmou o presidente do BC em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

Em sua apresentação, Campos Neto mostrou o gráfico do desempenho da economia nos últimos trimestres e também falou em recuperação em V, quando a atividade tem retomada em velocidade semelhante à queda.

Além disso, ele ressaltou melhora no mercado de trabalho.

Depois, enquanto respondia perguntas de congressistas, repetiu que os economistas devem piorar as expectativas para o PIB de 2021. Campos Neto ressaltou, contudo, que o desempenho da economia no segundo trimestre ficou dentro do projetado pelo BC.

"Como eu disse na apresentação, o mercado provavelmente vai revisar o número do crescimento de 2021 um pouquinho para baixo, mas ainda está dentro do que imaginávamos", afirmou.

O titular da autoridade monetária destacou novamente a necessidade de credibilidade na política fiscal.

"O importante é crescer o máximo possível e criar um ambiente favorável de credibilidade de negócios. Na medida em que a gente vai avançando com as reformas [econômicas], avançamos com a mensagem de estabilidade fiscal", pontuou.

Para o presidente da autarquia, a inflação descontrolada pode impactar no crescimento. "O que o BC tem feito nisso é ter entendido e passado a mensagem que a pior coisa para o crescimento é inflação descontrolada", afirmou.

Campos Neto ponderou ainda que a escalada de preços penaliza os mais pobres.

O resultado do PIB no segundo trimestre frustrou as expectativas do time de Guedes, que esperava um avanço de 0,25%. Agora, o Ministério da Economia também sinaliza que o país pode encerrar o ano com um crescimento menor do que o previsto.

Nas projeções mais recentes da SPE (Secretaria de Política Econômica), divulgadas em julho, o PIB brasileiro avançaria 5,3% em 2021. Agora, em nota informativa publicada nesta quarta, a pasta disse esperar "crescimento do PIB em 2021 superior a 5,0%".

Técnicos da equipe econômica disseram que não há mudanças na projeção oficial para 2021 "por enquanto", mas lembraram que uma revisão dos números será feita ainda neste mês.

Em nota, a SPE afirmou que a queda de 0,1% do PIB no trimestre foi influenciada principalmente pela queda na indústria e pela redução dos investimentos –indicadores afetados, entre outros fatores, pela escassez de matérias-primas.

A pasta também citou como fatores para a queda do PIB a estiagem no campo e o auge de mortes pela pandemia de Covid-19. "Além do efeito devastador nas famílias brasileiras, há impacto relevante nas decisões econômicas dos agentes", afirmou a SPE.

A secretaria afirma que a escassez de insumos afetou sobretudo o ramo automobilístico. De acordo com os técnicos, no entanto, indicadores mais recentes apontaram melhora nas próximas divulgações enquanto os segmentos de indústria extrativa e construção civil mostraram avanço.

"Observa-se que o elevado nível da confiança dos empresários e a contínua melhora da expectativa de demanda no setor indicam a retomada da produção industrial [no terceiro trimestre]", afirmou a secretaria.

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