Descrição de chapéu CRISE ENERGÉTICA

Crise hídrica gera pacote de socorro para cidades banhadas por Furnas

Baixo nível de reservatório prejudica cerca de 50 atividades econômicas, dizem prefeituras e associação

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Capitólio (MG)

Turistas deixaram de frequentar cidades, pescadores passaram a ter prejuízos com sua atividade. Hotéis ficaram vazios e agricultores familiares têm dificuldade para irrigar suas lavouras.

Esses são alguns dos exemplos dos prejuízos apontados nas cidades mineiras banhadas pelo lago da hidrelétrica de Furnas, que a cada dia vê seu volume útil reduzir com a escassez hídrica. Um pacote de medidas para auxiliar os municípios foi anunciado pela empresa.

Imagem mostra baixo nível do reservatório de Furnas em Capitólio (MG)
Embarcações ancoradas em Escarpas do Lago, bairro de luxo de Capitólio (MG); reservatório de Furnas está com menos de 14% de seu volume útil - Joel Silva/Folhapress

O chamado “Mar de Minas”, que em alguns pontos viu a água sumir e áreas de pastagem surgirem em seu lugar, é responsável por cerca de 50 atividades econômicas em seu entorno, segundo prefeituras, Alago (Associação dos Municípios do Lago de Furnas) e o comitê da bacia hidrográfica. O recuo da água chegou a 8 quilômetros em cidades como Alfenas e Areado.

Para não prejudicar as atividades econômicas, entidades e o setor turístico afirmam que o volume útil do reservatório deveria ficar acima de 55%, mas na última quinta-feira (7) estava em apenas 13,76%, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema). Setembro teve o pior índice para o mês desde 2001, quando o país passou por racionamento de energia elétrica.

Em reunião em Alfenas em que se discutiu o cenário atual da região, o presidente de Furnas, Clovis Torres, anunciou medidas para auxiliar os municípios, que incluem programas para pescadores e o setor de turismo, renovação de balsas e reabertura do escritório da empresa em Belo Horizonte (MG). As cidades pediram também a construção de diques.

“Nosso objetivo aqui é trazer uma palavra de conforto e mais atenção à região, com medidas imediatas, como a total renovação das balsas, pois atende todas as prefeituras que possuem atividades no seu dia a dia na travessia da população”, disse Torres durante a reunião.

Segundo a empresa, já teve início a fase de inscrição para o programa assistencial aos pequenos piscicultores e pescadores artesanais dos reservatórios de Furnas e Peixoto.

“A empresa também está na fase de contratação de um rebocador e reforma de balsa que irão auxiliar no transporte de carros e passageiros entre os municípios de Cássia e Delfinópolis”, diz Furnas.

O reservatório está mais de 8 metros abaixo do considerado ideal. A água estava em 753,88 metros acima do nível do mar na quinta-feira (7), enquanto as prefeituras e a associação defendem a chamada cota 762. O nível mínimo de operação da barragem é 750 m.

Minas Gerais anunciou o início do processo de tombamento do lagos de Furnas, o que manteria a água no nível desejado pelas prefeituras e permitiria praticamente todas as atividades hoje prejudicadas. O governo Jair Bolsonaro (sem partido), porém, ingressou com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) questionando a lei de Minas que definiu o reservatório como patrimônio estadual.

“O presidente de Furnas reconheceu que há um passivo da empresa com a região, que teve suas melhores terras alagadas ao longo dos anos, e disse que buscaria formas alternativas [para ajudar]. Com a água, ficamos sem a terra fértil da produção agrícola que existia [no passado] e, agora sem água, prejudicados em setores como o turismo”, disse Fausto Costa, secretário-executivo da Alago e vice-presidente do comitê da bacia.

As atuais nove balsas usadas no transporte entre as cidades têm mais de 60 anos, segundo ele. Só em Guapé são três, já que o município teve a sua sede dividida de distritos rurais com a criação do reservatório.

“A cota 762 é nossa principal ação. Se estabelecesse a geração de energia da 762 para cima, isso representaria mais de 50% do volume útil, e poderia oscilar até 768 m [máximo], e não deixar entre 750 e 762, como é hoje.”

A construção de pequenos diques nas pontas do lago, na avaliação da associação de municípios, não prejudicaria o ambiente nem o turismo e a água poderia ser usada pelas cidades para abastecimento.

Em audiência pública da comissão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável da Assembleia Legislativa mineira, no último dia 29, dirigentes de Furnas disseram que a empresa cumpre “as determinações dos órgãos reguladores na operação dos empreendimentos hidrelétricos sob sua concessão”.

“Os níveis dos reservatórios e a energia despachada são programados pelo ONS, responsável por operar o conjunto de reservatórios brasileiros de forma integrada, com o objetivo de garantir a segurança energética”, disse a empresa à Folha.

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