Taubaté tenta diversificar economia um ano depois de perder a Ford

Para gestão municipal, impacto só não foi pior porque setor de serviços ficou fechado no início de 2021

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São Paulo

Dos quase 20 anos de linha de produção na indústria automobilística, o único hábito que ainda acompanha o engenheiro Vagner Montemor, 37, é a necessidade de rotina. Todos os dias, ele acorda, se arruma e sai para trabalhar, ainda que sua nova atividade permita o home office.

"Sempre tive a rotina de ir até a empresa, então, eu mantive isso", diz. Há pouco mais de seis meses, Montemor virou day trader e trabalha com operações diárias de compra e venda de ações.

Metalúrgicos de Taubaté fizeram uma série de assembleias e manifestações nos dias seguintes ao anúncio da Ford - Claudio Capucho-12-jan.21/Folhapress

Um ano antes, ainda batia cartão diariamente na fábrica da avenida Charles Schnneider, em Taubaté (interior de São Paulo), onde desde a década de 1970 funcionava uma planta industrial da Ford. Nos últimos anos, aquela unidade fabricava motores e transmissões.

Em 11 de janeiro de 2021, a montadora de origem norte-americana anunciou a decisão de se retirar do Brasil, o que resultaria no fechamento de três fábricas. Além de Taubaté, também foram encerradas as linhas em Camaçari (BA) e Horizonte (CE).

Montemor e os cerca de 830 empregados da linha de Taubaté estavam em casa, em licença remunerada, no dia do anúncio. A certeza de que a fábrica seria fechada veio mesmo ao longo de conversas nos grupos de WhatsApp.

Montemor integrou os primeiros grupos que aderiram ao plano de demissão fechado pela Ford em negociação com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. O valor mínimo de indenização fixado foi de R$ 130 mil.

"Logo que o acordo foi anunciado, as áreas de suporte já podiam aderir. Só a manutenção ainda continuaria trabalhando. Achei melhor já sair do que ficar assistindo à fábrica ser desmontada", afirma.

Agora, um ano depois do anúncio, Montemor diz que o tempo como metalúrgico ficou no passado. É hora de virar a página. "Por uns três meses, fiquei em casa digerindo a situação, não procurei nada. Com o tempo, descartei voltar para uma fábrica", afirma.

Como ele, muitos dos ex-metalúrgicos da Ford disseram à Folha que os anos de trabalho na fábrica são águas passadas. "Já não me sinto confortável em falar disso mais. Acabou, passou", disse um deles.

O prefeito José Saud (MDB) estava no cargo há uma semana quando a notícia do encerramento chegou. "Tínhamos acabado de assumir uma nova gestão e, para nossa infelicidade, recebemos a notícia do fechamento. Eram quase 1.500 empregos diretos e indiretos, ficamos muito apreensivos", diz o secretário Alexandre Ferri, de Desenvolvimento e Inovação.

Para Ferri, o impacto do fechamento das vagas só não foi pior porque veio em momento de atividade econômica em baixa, com o setor de serviços –a base da economia no município, ao lado da indústria– ainda fechado.

As cifras dos acordos fechados pela montadora com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté também ajudaram a conter o baque. Foi acertado o pagamento de salários adicionais e bonificações por ano de trabalho na fábrica para quem estava afastado pelo INSS. Os valores variaram de R$ 150 mil a R$ 300 mil.

A adesão ao plano era opcional. Quem não quis teve estabilidade até 31 de dezembro e pode ser demitido mediante indenização.

"Começamos um trabalho para abrir vagas e ao menos melhorar o nível do emprego, ainda que os salários fossem menores", afirma o secretário de Desenvolvimento e Inovação.

A Alstom, fornecedora de estrutura para o transporte ferroviário, expandiu a fábrica de Taubaté e abriu 750 vagas em outubro de 2021. Depois, em novembro, a Volkswagen anunciou um plano de investimentos de R$ 7 bilhões na América Latina, começando pela produção do Polo Track na fábrica da cidade.

"Em plena pandemia ainda conseguimos garantir a oferta de empregos e passamos a investir em diversificação, com mais atenção para turismo e agronegócio e em um hub de tecnologia e inovação que, sozinho, abriu 421 novos postos de trabalhado", diz Ferri.

Segundo dados do Caged (Cadastro de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Previdência, Taubaté chegou a novembro de 2021 (dado mais recente disponível) com saldo positivo em vagas com a criação de 4.440 postos de trabalho. O pior momento do ano foi abril, quando 672 posições foram cortadas no município.

A Ford diz, em nota, que tudo o que estava previsto no acordo com o Sindicato de Taubaté foi cumprido, e os desligamentos, concluídos em 2021. "Continuamos no processo de venda da fábrica e não temos nada relevante para anunciar no momento."

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