'Auxílio Japão' vai parar na poupança e frustra o governo

Cidades chegaram a pagar auxílio em cupom para evitar que recurso fosse guardado

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Daniel Leussink Akiko Okamoto
Tóquio | Reuters

Quando o Japão entregou ao motorista de ônibus de Tóquio Keiki Nambu e a sua mulher, Takako, US$ 870 (R$ 4.500) por cada um de seus nove filhos, eles os gastaram exatamente como o governo temia: pagando uma hipoteca, em vez de fazer compras.

Esse tipo de prudência financeira ajudou as famílias japonesas a reunir incríveis US$ 17 trilhões (R$ 89,4 trilhões) em ativos ao longo dos anos, com mais da metade deles estacionados em poupanças. Mas também representa uma dor de cabeça para os formuladores de políticas, que lutam para estimular o consumo e reforçar uma economia moribunda.

O governo do primeiro-ministro Fumio Kishida pagou quase US$ 17 bilhões em estímulos em dinheiro para famílias. Mas, ao contrário do estímulo nos Estados Unidos, que fez aumentar os gastos de consumo, o impacto é considerado limitado no Japão, onde as famílias são mais propensas a poupar o dinheiro ou pagar dívidas, como os Nambu.

Filhos de Keiki Nambu e sua esposa, Takako, posam para foto enquanto vão às compras, durante a pandemia de Covid-19, em Tóquio, Japão - Akiko Okamoto - 7.jan.2022/Reuters

Isso salienta um problema constante na terceira economia do mundo, cuja dívida pública já é mais que o dobro do tamanho do PIB (Produto Interno Bruto).

"Se o salário do pai ficar igual, mas os preços continuarem subindo, tudo o que podemos fazer é pedir que ele trabalhe o máximo possível", disse Takako, 39.

Seu marido ganha cerca de US$ 44 mil por ano (R$ 231 mil), incluindo o "bônus" optativo pago duas vezes por ano pelas empresas japonesas, mas cortado quando as coisas vão mal, como durante a pandemia. Afinal, o dinheiro do estímulo está apenas ajudando a compensar aquela escassez, disse Keiki.

Os filhos dos Nambu variam em idade de menos de um ano a 17. As crianças só recebem água e leite para beber —a família consome cerca de cinco litros de leite por dia. O pai faz questão que as crianças tomem banhos rápidos, para economizar na conta.

Em termos de tamanho, os Nambu não são típicos —a família média japonesa encolheu para 2,21 pessoas no final de 2020, contra 2,82 em 1995, segundo dados do censo. A média em Tóquio pode ser até menor, 1,92.

Mas sua frugalidade é comum.

Grandes poupadores

Filhos de Keiki Nambu e sua esposa, Takako, vão às compras em Tóquio, Japão - Akiko Okamoto - 7.jan.2022/Reuters

O consumo privado representa mais da metade do PIB do Japão. Mas as famílias podem estar gastando apenas 10% do dinheiro do estímulo e guardando o resto, disse Koya Miyamae, economista sênior na SMBC Nikko Securities.

A insegurança econômica mantém o consumo estagnado, acrescentou Myanmae, e um aumento recente das infecções pela variante ômicron da Covid também deixou as pessoas hesitantes para gastar.

Outro economista, Hideo Kumano, do Instituto de Pesquisas da Vida Dai-ichi, admite que cerca de 75% dos benefícios vão acabar em poupança, embora ele acredite que o número poderá ser maior se os pais decidirem reservar mais para a educação dos filhos.

A preocupação de que o dinheiro vá para poupanças levou alguns municípios a pagar a metade do estímulo em cupons. Tóquio não foi um deles.

Outros pagamentos em dinheiro para todos os habitantes do Japão no início da pandemia tiveram cerca de 27% do dinheiro gasto, segundo uma pesquisa de julho de 2020 do Instituto de Pesquisas Mitsubishi.

Os Nambu receberam cerca de US$ 8.700 (R$ 45.762) desta rodada de estímulo —​US$ 870 por filho e mais um pagamento único do governo.

Eles inicialmente pensaram em passar uma noite num hotel do bairro. Afinal a frugalidade venceu, mas eles gastaram US$ 210 (R$ 1.100) em sushi e sorvete.

A família também usará parte do dinheiro para comprar uma mochila e roupas de ginástica para Keifu, 6, que inicia a escola primária em abril. As roupas que ela herdou dos irmãos estavam muito gastas depois de serem usadas por seis deles.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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