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Entenda o que é a Selic e como ela afeta a sua vida

Desde 2017, taxa não atingia os dois dígitos; alta começou em março do ano passado

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Samuel Costa
Rio de Janeiro | Agência Lupa

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reúne ao longo do ano para definir a taxa básica de juros, conhecida como Selic.

Entre agosto de 2020 e março de 2021, ela esteve em seu nível mais baixo da história, aos 2% ao ano. Porém, desde então, ela vem sofrendo sucessivos aumentos.

Para entender o que é a Selic e qual é o seu impacto na vida das pessoas, a Lupa consultou o Banco Central e conversou com especialistas para responder às principais dúvidas sobre esse tema.

Fachada do Banco Central, em Brasília - Leonardo Sá/Agência Senado

O que é a Selic?

A Selic é a taxa básica de juros da economia. Isso significa que ela é um valor referencial para a fixação dos juros cobrados por instituições financeiras. O valor real não é exatamente o mesmo do fixado pelo Banco Central, podendo ser maior ou menor.

O seu nome vem da sigla Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia). Esse sistema é uma plataforma do Banco Central onde são realizadas as operações de compra e venda de títulos públicos federais. A oferta desses títulos é como se o Estado estivesse pegando empréstimo com investidores (que podem ser pessoas físicas, empresas ou bancos) para pagar as suas dívidas. A média dos juros cobrados do governo pelo dinheiro que lhe foi emprestado corresponde à taxa Selic.

Segundo o BC, essa é sua principal ferramenta de controle da inflação. Isso porque ela interfere diretamente na tomada de empréstimo ou de uso do crédito. Se o juro está alto, fica mais caro pegar dinheiro emprestado e, logo, pressiona-se para uma redução do consumo. Havendo a diminuição da demanda pela aquisição de bens e serviços, a tendência é que a inflação caia ou entre em estagnação.

O efeito sobre a inflação, porém, não é imediato. Segundo Juliana Inhasz, professora e coordenadora da graduação em economia do Insper, e Joelson Sampaio, professor de economia da FGV EESP, o resultado começa a ser percebido em um período entre seis a oito meses depois da determinação da nova meta da Selic. Para este ano, Joelson Sampaio estima que o impacto seja sentido durante o segundo trimestre. "A taxa [Selic] estava em um nível muito baixo no ano passado. Os aumentos foram sendo implementados paulatinamente. A alta significativa se deu nos últimos três meses", explica.

Juliana Inhasz, professora do Insper, destaca que o índice fixado pelo Copom é uma meta. Sendo assim, não é só o anúncio do novo valor que promove a redução da inflação, há outros fatores que são necessários para que isso ocorra: como a reativação da economia, redução do desemprego e a atração de dinheiro para os cofres públicos.

Ela diz que atualmente duas questões devem ser observadas: a política fiscal e a estrutura administrativa do Estado. "Repensar a tributação no Brasil é mostrar algum apreço pela condição fiscal. Não há uma fórmula certa, mas há de se discutir como podemos deixar a tributação mais previsível e eficiente. Assim como discutir a reforma administrativa não é necessariamente sair cortando servidor. Há de se pensar na estrutura do Estado, nos gastos do governo, deixá-lo mais transparente. Porque assim é possível atrair mais investidores e mais capital", afirma a professora.

Como é feita a definição da Selic?

A fixação da taxa Selic é realizada pelo Copom, que é formado pelo presidente (atualmente, Roberto Campos Neto) e por oito diretores do Banco Central. O comitê se reúne a cada 45 dias para discutir a conjuntura econômica e decidir se altera a taxa Selic vigente.

Os especialistas ouvidos pela Lupa avaliam que o fator que mais influencia na fixação da Selic é a inflação. Mas outras questões interferem na sua definição, como a geração de empregos, produtividade e atividade econômica. Via de regra, os fatores internos impactam mais no seu valor do que os externos (valor do dólar, preço do petróleo, etc).

"O BC considera basicamente dois fatores: a atividade econômica e a inflação. Quando temos uma inflação alta, como a observada em 2021, a taxa de juros é aumentada para tentar arrefecer a inflação. Esse é o critério", diz Joelson Sampaio, professor de economia da FGV. "A lógica inversa também acontece: no primeiro ano da pandemia, em que a gente tinha uma atividade econômica muito baixa e uma inflação relativamente pequena, o BC diminuiu a taxa Selic para estimular o consumo", explica.

​Porque a Selic está aumentando?

De acordo com os últimos comunicados feitos pelo BC, a Selic vem sendo elevada principalmente para combater a inflação doméstica. Além disso, a autoridade monetária leva em conta outros fatores, como os riscos que a Covid gera para a atividade econômica e a situação no exterior —os EUA, por exemplo, também vêm aumentam seus juros, o que impacta o real e, por consequência, os preços domésticos.

​A Selic pode aumentar ainda mais?

Sim. O BC afirmou em seu comunicado mais recente que deve continuar com o ciclo de aperto monetário, sinalizando uma nova alta da Selic na próxima reunião.

​É verdade que, recentemente, a taxa Selic estava no patamar mais baixo da história?

Sim. A taxa Selic chegou a ser de 2% ao ano entre agosto de 2020 e março de 2021. Entre julho de 2015 e agosto de 2016 —ela ficou em 14,25%, patamar mais alto desde 2006. Depois desse período, ela foi caindo gradualmente até atingir o patamar de 2%. O modelo atual de definição de taxa de juros nominais pelo Copom começou em março de 1999.

A taxa Selic afeta as contas públicas brasileiras? Como?

Sim. Os juros pagos pelo governo aos investidores que compraram títulos públicos federais são fixados pela Selic. A venda desses papéis é como empréstimos tomados pelo Estado para financiar suas dívidas. Assim como nos empréstimos, a União deve pagar com correção de juros o dinheiro que tomou emprestado depois de um período determinado. Dessa forma, se a Selic está alta, o valor devido aos agentes de mercado fica maior —ou seja, quanto mais alta a taxa, maiores os juros pagos pelo governo.

Por outro lado, os títulos públicos passam a ser mais vantajosos para quem investe. Isso desencadeia a entrada de dinheiro nos cofres públicos. "O investidor tem duas opções: ele pode ficar aqui ou levar o seu dinheiro para fora. O aumento da taxa de juros deixa o Brasil mais atrativo como opção de investimento para o agente de mercado estrangeiro", diz Juliana Inhasz, professora de economia do Insper. Uma entrada de recursos estrangeiros pode ter impacto positivo na atividade econômica por seu efeito no câmbio, o que também afeta as contas públicas.

Como isso afeta a vida das pessoas comuns?

Para as pessoas comuns, o efeito imediato acontece sobre o acesso ao crédito e empréstimo. Em situações em que a Selic está alta, tomar dinheiro emprestado fica mais caro, porque os juros que os bancos pagam em transações entre si ficam mais caros —e as instituições financeiras repassam esse aumento ao consumidor comum.

A professora do Insper Juliana Inhasz explica que a tomada de dinheiro emprestado entre as instituições financeiras é algo corriqueiro. Em dias em que há maior saída de dinheiro dos bancos do que entrada, eles acionam seus pares para realizar empréstimos de curto prazo para não fecharem seus caixas no vermelho.

Por essa transação é cobrada uma taxa de juros diária, que ao ser anualizada corresponde à taxa Selic. Sendo assim, se a taxa de juros está alta, essas operações interbancárias também ficam mais caras. "O banco repassa esse custo ao cliente", diz. "É a mesma relação que rege um fabricante de bem de consumo, que encarece o preço do seu produto quando os custos para produzi-lo aumentam", conclui.

A ideia é que com o juro mais alto, as pessoas sejam desestimuladas a consumir —porque os empréstimos e crédito estão mais caros. Por outro lado, há um incentivo para que o consumidor poupe dinheiro, uma vez que a poupança passa a render mais e a compra de títulos públicos federais também fica mais vantajosa. Sendo assim, a expectativa é que a redução da demanda pressione pela queda dos preços e, logo, da inflação. Esse impacto, porém, não é imediato.

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