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Eleições 2022 datafolha

Datafolha mostra dificuldade de Bolsonaro em contrapor Auxílio Brasil ao Bolsa Família de Lula

Projeto de presidente de obter dividendos eleitorais de seu programa ainda não saiu do papel

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São Paulo

A pesquisa Datafolha mostrou como é complexo criar uma marca social e recolher dividendos políticos dela.

Até o momento, a tentativa do presidente Jair Bolsonaro (PL) de faturar eleitoralmente o Auxílio Brasil revelou-se um fiasco.

No grupo dos que recebem o benefício de R$ 400, Bolsonaro tem avaliação pior que a do conjunto da população brasileira, mostra o levantamento. Apenas 19% consideram seu governo ótimo ou bom neste segmento, contra 25% do total.

Da mesma forma, 62% dos que contam com essa política social dizem que jamais votariam no atual presidente, sete pontos percentuais acima do patamar geral.

A lógica eleitoral, portanto, está invertida, e numa primeira avaliação é difícil encontrar explicação plausível para esse paradoxo. Para decifrá-lo, a primeira coisa a se fazer é olhar os números de seu principal adversário no pleito de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os números do ex-presidente espelham quase à perfeição os de Bolsonaro nesse quesito.

Lula tem até 59% de intenções de voto entre quem recebe o auxílio, patamar consideravelmente superior ao dado geral da população, de 43%. O petista é rejeitado neste segmento por 25%, contra 37% do total dos brasileiros.

Uma conclusão evidente é que a população ainda não vê o Auxílio Brasil como uma política fundamentalmente diferente de seu antecessor, o Bolsa Família, cria dos governos petistas. O lucro eleitoral segue recaindo sobre Lula.

Embora esteja se esforçando para melhorar na comunicação digital, o PT ainda come poeira dos bolsonaristas nesta área.

Em compensação, na estratégia de comunicação mais tradicional, a de criação de marcas facilmente identificáveis pela população, Bolsonaro pecou, e está sofrendo as consequências desta negligência.

É quase impossível chamar pelo nome um programa de governo de Bolsonaro. Já os petistas tiveram, além do Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Prouni e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), para ficar apenas em alguns.

Doze anos após a saída de Lula do poder, e seis após o impeachment de Dilma Rousseff, a maioria destas ações continuam sendo o carro-chefe eleitoral do PT.

A dificuldade de Bolsonaro de capitalizar seu principal programa social se intensifica no Nordeste, região do país em que percentualmente há mais beneficiados pelo Auxílio Brasil, e que segue sendo uma fortaleza lulista. São 37% os nordestinos contemplados pelo programa, contra 14% no Sul e 17% no Sudeste, mostra o Datafolha.

Aliados de Bolsonaro dizem não ter a ilusão de que o benefício seja capaz de reverter a vantagem pró-Lula no Nordeste, ao menos no atual ciclo eleitoral. Mas gostariam de pelo menos fazer emagrecer um pouco a dianteira do petista, algo que até o momento ainda não ocorreu.

Há, por fim, outro fator a se considerar, que dialoga com a expectativa futura sobre o programa. Entre eleitores de Lula, 73% dizem que o auxílio não é suficiente e deveria ser maior. Para bolsonaristas, esse patamar cai a 54%.

É razoável supor que esse segmento acredita que, com o petista na Presidência, o valor possa aumentar, talvez para os R$ 600 que ele chegou a defender publicamente durante a pandemia.

Bolsonaro, por outro lado, colhe os efeitos de anos minimizando a necessidade de políticas sociais e de um discurso que caracteriza os que recebem benefícios governamentais como indolentes, ou coisa pior. Sua credibilidade nessa área é baixa, e a de Lula, altíssima.

É possível que nos próximos meses o Auxílio Brasil passe a ser mais associado pela população como uma ação do atual governo, dando alguma recompensa política para Bolsonaro em termos de pontos nas pesquisas.

Mas a largada capenga do programa, ao menos como ativo eleitoral, mostra que não é fácil simplesmente apagar do mapa o Bolsa Família e seu principal padrinho.

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