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Eleições 2022

Após 'saudação', parte da elite econômica, intelectuais e ativistas preparam movimento de apoio a Tebet

Grupo se parece com antiga elite tucana, critica 'conformismo' com disputa polarizada e já esteve junto em outros 'manifestos'

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Vinicius Torres Freire

Colunista da Folha

Simone Tebet tem recebido apoio de uma certa elite que um dia foi tucana, que fez parte dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) ou tem as características do grupo de políticos, intelectuais, empresários e executivos que fundou o PSDB no final dos anos 1980. No partido, esse tucanato está praticamente extinto, embora Tasso Jereissati seja um dos adeptos de Tebet e nome preferido para o cargo de vice.

Esse grupo está para lançar uma espécie de manifesto explícito à candidatura da senadora de Mato Grosso do Sul, pré-pré-candidata do MDB à Presidência da República. A ideia é, pelo menos, evitar que a eleição seja reduzida muito cedo a duas candidaturas.

Faz uma semana, pessoas desse grupo lançaram o que chamavam de "saudação" ao nome de Tebet como mais uma opção para a disputa do Planalto. João Doria era ainda pré-candidato do PSDB e pelo menos alguns organizadores do manifesto não queriam fechar portas a nomes do que se chamava de "Terceira Via".

Moça de cabelos castanhos escuros lisos repartidos de lado, argolas nas orlehas, blusa cinza de gola alta e paletó cinza alulado escuro segura microfone com a mão direita e gesticula com a mão esquerda, onde se vê uma alinaça, enquanto elha ligeiramente para cima
A senadora Simone Tebet, do PMDB, em entrevista em Brasília - Sergio Lima - 25.mai.2022/AFP

O "manifesto", publicado na plataforma Change.org, chamava-se "Vamos Reconstruir o Brasil", tinha nesta quinta-feira mais de 4.200 assinaturas e foi noticiado pelo jornal O Estado de S.Paulo. Lá se lia o seguinte sobre seus autores: "Somos um coletivo em apoio à pré-candidatura à Presidência da Senadora Simone Tebet".

O grupo de apoio agora explícito a Simone Tebet não é um "movimento de empresários", como se escreve por aí, até porque tal coisa não existe. Há grupos muito diversos de "empresários" (ou financistas, executivos de grande empresa etc.), por filiação política diversa (como bolsonaristas) ou interesses díspares.

Por falar nisso, o grupo pró-Tebet tem ideias muito diferentes daquelas de confederações ou associações patronais maiores do agronegócio ou da indústria, por divergências radicais em relação a políticas ambientais ou reformas (o grupo é muito mais liberalizante que o industrial padrão), "costumes" (são liberais) e enfatizam "preocupações sociais".

Maioria silenciosa estaria 'conformada' com disputa entre Lula e Bolsonaro

Além do mais, como diz um ex-presidente de grande banco, em nada ligado ao pessoal pró-Tebet, a maioria dos "empresários" é "neutra" (ou "omissa ou interessada apenas no mero sucesso de seus negócios", como diz um empresário pró-Tebet), não quer associar seu negócio a esta ou aquela candidatura. Mais do que isso, essa maioria estaria "conformada" com a hipótese, "politicamente realista", de que a disputa final ficará mesmo entre Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

No dizer do banqueiro, essa maioria silenciosa espera pelo menos que ocorra um segundo turno. Por qual motivo? Se houver uma segunda rodada de votação, haveria possibilidade maior de os candidatos finalistas apresentarem propostas mais claras e procurarem alianças, políticas, sociais e econômicas. "Fica mais fácil haver algum acordo mais sério sobre o que fazer com o país", diz.

Um empresário que está na organização dos manifestos pró-Tebet diz que de seu grupo fazem parte "8 ou 10 grupos de pessoas que conversam pelo Whatsapp ou se encontram em jantares" mais políticos. Diz de modo enfático que trabalham para evitar a ideia de que a eleição está definida e para dar "visibilidade" a alternativas.

Porque não está [definida, a eleição], porque falta ainda muito tempo, porque o povo ainda não começou a pensar a sério em quem vai votar e porque as eleições estão sendo decididas cada vez mais tardiamente, explica, criticando o "conformismo" de "muita gente no país, até da mídia e dos jornalistas" com uma disputa reduzida a Lula e Bolsonaro.

Além disso, continua, seria muito ruim para o país que não exista debate. Para ele, Lula e Bolsonaro querem acabar logo com as alternativas e reduzir a eleição a um mero confronto de escolhas entre candidatos de que você desgosta menos. O empresário diz esperar "alguma discussão séria do que fazer do país" e considera Tebet um "grande nome".

Artistas, ambientalistas e cientistas participam de movimento pró-Tebet

O primeiro texto de simpatia por Tebet teria sido articulado por Teresa Bracher e pela empresária Marisa Moreira Salles. Segundo alguns de seus organizadores, foi motivado por um jantar em 28 de abril, organizado por Teresa em sua casa (que também é a de seu marido Candido Bracher, ex-presidente do Itaú), em parte por iniciativa de Elena Landau, do movimento Livres, um dia tucana, que fez parte do governo FHC e ora coordena o programa de Tebet.

Nem o primeiro manifesto simpático a Tebet e menos ainda o segundo, de adesão, é um "movimento de empresários", dizem seus organizadores. Teria, claro e obviamente, "empresários", executivos, gente da cúpula da finança, mas ao lado de ambientalistas, representantes de povos indígenas, gente da cultura (teatro, cinema), economistas, cientistas.

Teresa Bracher tem preocupações ambientais, milita na causa, por exemplo; Marisa Moreira Salles, entre outros interesses, tem preocupações urbanísticas e com o problema social de moradia. Organizadores do segundo manifesto pró-Tebet dizem que economistas ou outros profissionais que trabalhavam nos programas de João Doria e de Sergio Moro estão se juntando ao grupo que apoia a senadora do MDB.

No dizer mais irônico de um financista que deve assinar o segundo manifesto, depois do bolsonarismo, está difícil "limpar o nome do liberalismo" e mais ainda daqueles que se dizem de ‘direita’. Rindo, ele comenta que é preciso mostrar que existe "gente civilizada no país até na elite econômica". Falando sério, acrescenta que o debate público, fora do mundo restrito de sempre, está meio morto no país.

Entre os signatários do primeiro manifesto estavam Armínio Fraga (que ressalta a diversidade do grupo que elaborou o texto, de resto capitaneado por duas mulheres), a economista Eliana Cardoso, a executiva Maria Silvia Bastos Marques, Landau, o economista e executivo financeiro Henri Philippe Reichstul, o financista Luís Stuhlberger, Candido Bracher, Pedro Wongtchowski, do grupo Ultra, Fábio Barbosa, ex-presidente do Santander.

Não raro, era possível ver muitos desses e outros signatários do "manifesto" em reuniões no Instituto FHC, ou, até faz um tempo, em reuniões de mães e pais (ou avós) do Colégio Santa Cruz, da elite paulistana, ou do Santo Inácio, do Rio, ou similares. Em uma nota menos pitoresca, vários dos primeiros signatários e organizadores do manifesto simpático a Tebet e do segundo, de apoio explícito, já assinaram outras cartas públicas nos anos de governo Bolsonaro.

Por exemplo, encabeçavam a carta de março do ano passado em que pediam medidas eficazes e racionais no combate à epidemia (assinada também por Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, co-presidentes do Conselho do Itaú Unibanco. Pedro é casado com Marisa Moreira Salles, articuladora da carta pró-Tebet). Vários do grupo pró-Tebet estavam entre os primeiros signatários da carta de agosto do ano passado de defesa do sistema eleitoral brasileiro. Organizaram uma carta entregue a Arthur Lira (PP-AL) em junho de 2021 contra retrocessos na área ambiental. Etc.

O grupo pró-Tebet já combinou com os russos, com a cúpula do MDB? Boa parte do partido não acredita no sucesso de Tebet ou já se debandou para Lula ou Bolsonaro. Um organizador da coisa diz ver "manifestações positivas" de gente graúda do partido. Outro diz que o movimento "é mais uma coisa sociedade civil". Em resumo, o contato do grupo com a máquina política do MDB é mínimo.

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