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O futuro da negociação de criptomoedas é o mercado futuro

Enquanto corretoras tradicionais investem no mercado de criptomoedas, plataformas especiais vendem derivativos regulamentados

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Eva Szalay
Washington | Financial Times

As fronteiras entre criptomoedas e classes de ativos tradicionais estão cada vez mais imprecisas, à medida que os players estabelecidos em Wall Street incluem a negociação de ativos digitais em seus negócios principais –e as empresas nativas do bitcoin avançam nos mercados tradicionais.

Com a chegada de investidores institucionais ao mercado de ativos digitais de US$ 1,3 trilhão (R$ 6,24 trilhões), a influência de grandes bancos e traders profissionais aumentou. Em consequência, a relação entre o preço dos principais ativos, como ações e títulos, e as criptomoedas encolheu.

Até agora, porém, a maioria desses investidores estabelecidos só pode negociar derivativos de bitcoin, e não contratos em dinheiro, o que concentrou a influência de Wall Street em mercados futuros e contratos de balcão (OTC), como "não entregáveis no futuro".

Bitcoins são as criptomoedas mais populares atualmente - Dado Ruvic/Reuters

E esse foco em derivativos intensificou a competição das corretoras por uma parte cada vez maior do mundo dos ativos digitais. A influência de traders profissionais no mercado já é perceptível, diz Adam Farthing, diretor de risco para o Japão na market maker especializada em criptomoedas B2C2.

Nas últimas semanas, os mercados de criptomoedas tiveram um dos maiores abalos de todos os tempos depois que o Tether, uma stablecoin líder que deve ser avaliada em linha com o dólar americano, quebrou sua atrelagem à moeda. Isso enviou marolas pelos mercados de ativos digitais, eliminando bilhões de dólares em posições de negociação.

Bitcoin e ethereum, os dois maiores tokens de criptografia por valor de mercado, registraram perdas de dois dígitos desde o início do mês.

No entanto, Farthing observa que as oscilações de preços foram muito mais suaves nos futuros de criptomoedas do que em outros lugares, e os deslocamentos entre as corretoras –que podem dar origem a oportunidades de arbitragem (lucros obtidos pelo diferencial entre taxas)– foram menores do que em momentos anteriores de turbulência do mercado.

"Com todo o caos em torno dos mercados de criptomoedas, vale a pena notar que os mercados futuros estão se comportando cada vez mais de forma madura", diz Farthing.

A volatilidade recente também causou recordes de negociação de contratos futuros de criptomoedas na CME (Chicago Mercantile Exchange), já que traders profissionais buscam limitar seus negócios com ativos digitais a um mercado altamente regulamentado.

Mas os clientes de varejo negociam volumes ainda maiores de contratos futuros por dia em bolsas offshore, que são menos regulamentadas. Isso inclui FTX, Binance e OKex.

Os derivativos, como os futuros e as opções, são atraentes porque permitem que os investidores apostem em movimentos de preços dentro de um prazo pré-acordado, enquanto reduzem antecipadamente apenas uma pequena fração do valor de suas negociações. No entanto, essa capacidade de alavancar negociações amplifica o resultado, o que significa que a escala de perdas potenciais é muito maior.

Para instituições altamente regulamentadas, como bancos, os futuros também são mais fáceis de gerenciar dos pontos de vista de crédito, compliance e jurídico, porque não envolvem a entrega física do ativo subjacente.

Com essas vantagens agora alimentando negociações mais profissionais de futuros de criptomoedas, as exchanges estão correndo para se tornar as maiores neste mercado.

A concorrência entre as corretoraspor uma fatia do mercado de moedas digitais tornou-se mais acirrada que nunca –mesmo quando os mercados de criptomoedas experimentam um de seus maiores colapsos de todos os tempos e aumentam os temores de que um período prolongado de baixa atividade possa prejudicar as receitas.

"Embora não haja um limite rígido para o número de corretoras que o mercado de criptomoedas pode suportar, é provável que alguns atores principais surjam com o tempo", prevê Nicky Maan, executivo-chefe da Spectrum Markets, que oferece derivativos de criptomoedas securitizados aos investidores.

"Espero que tenhamos um crescimento significativo [nas corretoras] em comparação com OTC nos próximos cinco anos", acrescenta.

As corretoras tradicionais também desejam obter uma fatia do lucrativo mercado de negociação de criptomoedas, pois passaram anos observando seus pares iniciantes em ativos digitais colherem recompensas atraentes.

A Cboe e a CME foram as primeiras a lançar contratos futuros de bitcoin em 2017. Agora, a bolsa SIX da Suíça e a Eurex também estão oferecendo tipos de derivativos.

Ao mesmo tempo, as corretoras especializadas em criptomoedas entram lentamente nos mercados de derivativos altamente regulamentados dos EUA. Elas estão fazendo isso em parte para satisfazer clientes de varejo exigentes, que desejam comercializar produtos e contratos que abrangem todos os mercados.

Mas as principais corretoras de criptomoedas também estão de olho em entrar nos mercados profissionais tradicionais. Nos últimos meses, várias corretoras de criptomoedas fizeram aquisições de pequenas corretoras tradicionais para acelerar sua entrada nos mercados convencionais, principalmente em derivativos.

Novas corretoras de criptomoedas também estão fazendo incursões. Existem hoje 526 corretoras para negociação de criptomoedas, de acordo com o site de dados Coinmarketcap, e alguns participantes recentes vêm ganhando força, especialmente os que visam investidores profissionais.

A plataforma Bullish, apoiada por vários proprietários de fundos de hedge bilionários, teve um início promissor desde o final do ano passado. "Lançamos a Bullish na época do Natal, e hoje temos mais de US$ 2 bilhões em volumes negociados em bitcoin, o mesmo valor da Coinbase", diz Tom Farley, executivo-chefe do veículo de propósito especial da Bullish, que usará para flutuar na Bolsa de Valores ainda este ano.

E algumas das ideias que as corretoras de criptomoedas estão trazendo para os mercados tradicionais são inovadoras. Uma delas é a negociação 24 horas por dia, sete dias por semana –uma programação normal para os mercados digitais computadorizados, mas estranha até mesmo para a negociação de câmbio, que opera apenas cinco dias por semana.

Outras iniciativas de criptografia são mais controversas. Sam Bankman-Fried –bilionário proprietário da FTX, uma das maiores corretoras de criptomoedas do mundo– abalou o mercado de futuros ao fazer uma proposta aos reguladores dos EUA que poderia eliminar os corretores dos mercados.

Ele argumenta que o gerenciamento de risco deve ser feito por computadores em todos os mercados, assim como é na criptomoeda. Essa sugestão não caiu bem entre os corretores, pois na verdade não lhes daria nenhum papel. No entanto, a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), o regulador do mercado de derivativos dos EUA, lançou uma consulta sobre a proposta, que pode fazer com que grandes bancos, como o Goldman Sachs, deixem de negociar.

A CFTC está considerando se permitirá que Bankman-Fried venda derivativos de criptomoedas alavancados para investidores de varejo e liquide seus negócios diretamente, eliminando corretores financeiros intermediários do processo.

Em criptomoedas, essa já é a norma, pois a maioria das negociadoras também atua como corretoras. Elas não apenas combinam negócios, como gerenciam as posições de seus clientes, provocando certo desconforto entre os reguladores sobre potenciais conflitos de interesses.

A ideia de Bankman-Fried já tem alguns fãs, embora os reguladores ainda não tenham decidido concordam com sua sugestão.
Chris Perkins, presidente da empresa de gestão de investimentos CoinFund, é a favor, tendo aceitado a ideia.

Ele administrou uma das maiores empresas de intermediação de futuros do mundo quando trabalhou no banco americano Citi –exatamente o tipo de negócio que a proposta de Bankman-Fried poderia fechar.

"Passei minha carreira construindo uma das empresas de derivativos regulamentadas mais proeminentes do mundo", explica Perkins. "Eu era o intermediário."

Mas, após entrar para o mundo das criptomoedas, Perkins mudou de ideia. Os intermediários devem sumir, ele acredita. "Vou ser honesto comigo mesmo e dizer você sabe o que: [Bankman-Fried] está certo."
Resta ver se os reguladores vão concordar com Perkin.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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