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Lula e Rodrigo Garcia atacam subsídio a combustíveis de Bolsonaro

No Rio, presidente diz que não vai intervir na estatal 'como fez o PT'

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São Paulo e Rio de Janeiro

A proposta de subsídio a combustíveis do governo Bolsonaro, que inclui a redução da cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), foi alvo de ataques nesta quarta (8) de adversários políticos.

Possível concorrente direto do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a proposta do governo de diminuir o ICMS de combustíveis não resultará na redução do preço da gasolina e do botijão de gás.

Ele disse ainda que Bolsonaro não tem "coragem" para determinar a redução do preço de combustíveis com a Petrobras.

Lula de roupa vermelha e máscara vermelha
O ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva - Reuters

"O aumento da gasolina ao preço internacional não foi feito com votação no Congresso, foi canetada do Pedro Parente [ex-presidente da Petrobras na gestão Michel Temer]. Se para aumentar o preço do combustível e transformar ao preço internacional foi numa canetada, para você tirar também pode ser numa canetada. O presidente, se tivesse coragem e não fosse um fanfarrão, um embusteiro, já teria feito isso", afirmou Lula.

Saída semelhante, de usar a posição de controle sobre a estatal para reduzir os preços, foi defendida em rede social pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB).

"Fundamental que o governo dê o exemplo e comece a fazer isso pela Petrobras, que é quem manda no preço do combustível. Querer reduzir preço começando pelo ICMS é como colocar o paciente para examinar o médico", escreveu o tucano.

Lula, em entrevista à rádio Itatiaia Vale do Aço, de Timóteo (MG), na manhã desta quarta, afirmou: "Vocês vão ver que toda essa briga da redução do ICMS não vai resultar na bomba, no botijão de gás e no diesel. Aquilo que ele [Bolsonaro] está criando de expectativa, ele faria muito mais simples se tivesse coragem de chamar a Petrobras e dizer que é preciso parar. A mesma caneta que assinou para que a gente internacionalizasse o preço [dos combustíveis], a mesma caneta pode tomar a decisão de não internacionalizar."

O petista disse ainda que Bolsonaro "quer jogar a culpa nos governadores" e que, ao mexer no ICMS, "os municípios vão perder dinheiro".

"E com isso a educação e a saúde vão perder dinheiro. Como você reduz ICMS para o governo, você vai reduzir dinheiro dos municípios. Para beneficiar as pessoas que têm carro, que não são a maioria, que usam gasolina, o presidente vai jogar o peso da culpa em toda a sociedade brasileira", continuou.

"Quando ele [Bolsonaro] diz que vai fazer compensação, ele vai fazer até dezembro. Depois de dezembro quero saber quem vai arcar com a falta de arrecadação dos municípios", seguiu o petista.

O governador tucano, por sua vez, aproveitou para chamar a atenção para dados recentes que mostram a dificuldade de parcela significativa de brasileiros para se nutrir.

"É necessário que o governo federal faça de tudo para reduzir o preço do combustível e ajude a controlar a inflação da comida que traz fome e miséria para as pessoas", escreveu ele em rede social.

Já Bolsonaro também criticou seus adversários petistas quando falou sobre preços de combustíveis em evento com empresários no Rio nesta quarta.

"A Petrobras é uma grande empresa, é realmente um orgulho para nós, mas tem sua função social. Grandes petrolíferas baixaram a margem de lucro, aqui se faz o contrário ainda. Vamos tentar mudar isso daí. Não vamos interferir na Petrobras como o PT interferiu lá atrás nos preços dos combustíveis. Não vamos interferir no preço da energia elétrica como a Dilma interferiu lá atrás", disse o presidente.

Bolsonaro afirmou que o governo reconhece a inflação, mas que "está tratando do assunto" nos combustíveis.



Qual é a proposta do governo?

O pacote anunciado por Bolsonaro prevê a redução a zero das alíquotas de PIS/Cofins e Cide sobre a gasolina e o etanol. No caso da gasolina pura, hoje são cobrados R$ 0,89 por litro, sendo R$ 0,79 de PIS/Cofins e R$ 0,10 de Cide. No etanol, há incidência apenas de PIS/Cofins, no valor total de R$ 0,24 por litro.

Outra frente é a redução a zero do ICMS, imposto estadual, sobre diesel e gás de cozinha, mediante uma compensação a ser paga pela União.

Como deve funcionar a redução do ICMS?

O Congresso discute um projeto de lei complementar que pretende fixar um teto de 17% para a alíquota do imposto estadual sobre combustíveis e energia, incorporando uma decisão já proferida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de que esses itens são bens essenciais e, portanto, não podem ter tributação acima da alíquota modal do estado. Hoje, há quem cobre 25% sobre o diesel e 34% sobre a gasolina.

O governo federal quer que as perdas de arrecadação com essa mudança sejam absorvidas pelos próprios estados. Na prática, a queda de uma alíquota de 34% para 17%, por exemplo, não seria compensada pela União. Os governadores resistem a isso.

Adicionalmente, o governo propõe que, até o fim do ano, sejam zeradas as alíquotas de ICMS sobre diesel e gás de cozinha. Para isso, a União bancaria uma compensação, proporcional à perda de arrecadação em relação ao teto de 17%. A estimativa é de que esse valor fique em R$ 25 bilhões.

Qual pode ser o impacto do corte no ICMS?

Uma ideia preliminar do que pode ser o impacto na bomba decorrente da redução do ICMS é o próprio cálculo feito pelos estados quando houve a regulamentação da lei que determinou a mudança do tributo estadual. Eles estimaram que, mantendo a arrecadação atual, a alíquota ad rem (medida em reais por litro) ficaria entre R$ 0,50 e R$ 1 por litro do diesel, a depender do estado (em São Paulo, seria próxima a R$ 0,66). Esse seria o tamanho potencial da redução.

Por que é necessário aprovar uma PEC?

O repasse dos recursos aos estados ficaria sujeito ao teto de gastos, regra fiscal prevista na Constituição que limita o avanço das despesas à variação da inflação. Recentemente, o governo precisou cortar R$ 7 bilhões de ministérios e extinguir uma reserva de R$ 1,7 bilhão para reajustes salariais, justamente porque outras despesas obrigatórias cresceram mais que o esperado. Ou seja, não há espaço sobrando no teto.

A PEC vai autorizar que o repasse seja feito fora do teto de gastos. Também deve afastar outras restrições previstas na LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e na lei eleitoral.

Quando o impacto das medidas será sentido pelos consumidores?

Em primeiro lugar, as iniciativas dependem da aprovação do Congresso Nacional. O projeto de lei sobre o ICMS já está em tramitação, mas a PEC ainda não foi formalmente protocolada.

Após a aprovação dessas medidas, o brasileiro ainda pode levar um tempo até sentir o impacto no bolso. Isso ocorre porque os tributos sobre combustíveis são pagos na etapa de distribuição, não pelos postos que comercializam aos consumidores.

Portanto, qualquer alteração terá efeito somente quando o revendedor (posto de combustível) receber uma nova remessa do produto faturada segundo as regras mais recentes —ou seja, tributação zero. O efeito, portanto, não é imediato.

A redução no preço será equivalente ao corte de tributo?

Não necessariamente. Embora a intenção do governo seja proporcionar alívio aos consumidores, há fatores que podem limitar esse repasse. Um deles é a decisão de distribuidores e revendedores de ampliar suas margens, fazendo com que parte da redução seja absorvida em forma de lucro ao longo da cadeia.

Outro risco é a Petrobras anunciar um novo reajuste no preço dos combustíveis antes de a desoneração de tributos chegar na ponta. Nesse caso, é possível que as medidas do governo apenas amorteçam o aumento da companhia.

Essa possibilidade existe porque a defasagem do preço dos combustíveis em relação ao mercado internacional tem aumentado. Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), essa diferença está em 15% no caso da gasolina e 13% para o diesel.

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