Pior momento da inflação no Brasil já passou, diz Campos Neto

Para presidente do BC, grande parte do trabalho da autoridade monetária já foi feito

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira (27), no X Fórum Jurídico de Lisboa, em Portugal, que o pior momento da inflação no Brasil já ficou para trás e que o choque de juros será capaz de desacelerar o processo inflacionário.

"A gente ainda tem no Brasil um componente de aceleração de inflação, os últimos dois números [de inflação] foram, acho que pela primeira vez, dentro da expectativa. A gente acha que o pior momento da inflação no Brasil já passou", disse.

Em fevereiro, Campos Neto havia dito que o pico de inflação no Brasil deveria ocorrer em abril ou maio. As projeções anteriores indicavam o ápice em dezembro de 2021 ou janeiro deste ano.

No acumulado de 12 meses até maio, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu 11,73%, segundo informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 9 de junho. No mês, desacelerou para 0,47%, abaixo das expectativas dos economistas.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Adriano Machado - 25.mai.22/Reuters

A apresentação preliminar do relatório trimestral de inflação, feita na última quinta-feira (23), mostrou que autoridade monetária prevê que o IPCA fique em 11,31% no acumulado de 12 meses até agosto. A estimativa do BC para a inflação de 2022 é de 8,8%, acima do teto da meta (5%).

Nas projeções de curto prazo, considera altas de 0,81% em junho, de 0,84% em julho e 0,33% em agosto. No trimestre, estima avanço de 1,99%.

Com a entrada dos dados de junho, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) passou a acumular alta de 12,04% em 12 meses ao subir 0,69%, ligeiramente acima das expectativas do mercado financeiro.

Em resposta à inflação persistente e disseminada, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou, em 15 de junho, a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano. Para o próximo encontro, em agosto, sinalizou uma nova alta de igual ou menor magnitude.

"Acreditamos que a nossa ferramenta é capaz de frear esse processo inflacionário e vai frear o processo inflacionário. A gente acha que grande parte do trabalho já foi feito", afirmou Campos Neto.

Segundo ele, o Brasil está próximo de finalizar o ciclo de aperto monetário, iniciado em março de 2021. "O Brasil já está muito perto de ter feito o trabalho todo, alguns outros países estão no meio do caminho", disse.

No painel "Erosão da ordem pública internacional e o futuro", o presidente do BC comentou também que a autoridade monetária ainda avalia quais serão os impactos das medidas de desoneração tributária aprovadas pelo governo e em tramitação no Congresso sobre a inflação.

"A gente tem algumas medidas que estão sendo desenhadas pelo governo, a gente precisa entender qual vai ser o efeito dessas medidas no processo inflacionário, ainda não está claro", disse.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou na quinta-feira (23) a lei que fixa um teto de 17% ou 18% para as alíquotas de ICMS sobre combustíveis, energia, transporte e telecomunicações.

A mudança faz parte da ofensiva do Palácio do Planalto para tentar reduzir o preço da gasolina e do diesel a menos de quatro meses das eleições. Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). ​

Para Campos Neto, a grande dúvida atual é se o mundo enfrentará uma recessão com a disparada da inflação global após sucessivos choques, sendo a Guerra da Ucrânia o mais recente, e a elevação dos juros tanto em economias emergentes quanto desenvolvidas.

"O que isso vai gerar em termos de economia mundial? Será que vamos ter uma recessão mundial? Qual é o tipo de desaceleração a gente vai ter? Acho que essa é a pergunta mais importante", disse o presidente do BC, lembrando que o Brasil tem "uma memória de inflação muito maior" e mecanismos de indexação "muito mais vivos".

Campos Neto ressaltou que o choque de juros adotado pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) é mais agressivo do que o previsto inicialmente, após, segundo ele, a interpretação de que os EUA fizeram uma "leitura errada" da inflação em um primeiro momento.

De acordo com o presidente do BC, em termos de precificação de mercado, os juros americanos devem ficar entre 3% e 3,5%, podendo chegar a quase perto de 4%.

Em 15 de junho, o Fed promoveu um aumento de 0,75 ponto percentual da sua taxa de juros. Foi a maior alta aplicada pela autoridade monetária dos Estados Unidos desde 1994, indicando uma postura mais agressiva do órgão no enfrentamento à maior inflação no país em quatro décadas.

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