Bagunça eleitoral e juros nos EUA afastam investidor do Brasil, diz economista

Riscos fiscal também afugenta estrangeiros, afirma Roberto Dumas

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São Paulo

A expectativa de que os juros subam mais nos EUA do que no Brasil nos próximos meses, somada às incertezas fiscais e eleitorais brasileiras, deve manter investidores estrangeiros afastados por mais tempo. A afirmação é de Roberto Dumas, estrategista-chefe do banco Voiter e professor do Insper.

Ele afirma não ver perspectiva de forte recuperação do Ibovespa e do real neste ano, após a saída de capital estrangeiro que ajudou a derrubar os dois indicadores a partir do segundo trimestre.

Os estrangeiros já obtiveram ganhos de 40% em dólar no mercado brasileiro no primeiro trimestre, afirma Dumas, e não há motivos para arriscar novos investimentos neste momento.

Para ele, ainda há espaço para nova desvalorização dos ativos brasileiros, caso os juros subam ainda mais no exterior e as incertezas internas aumentem.

"Dá para esperar um pouco mais. Vou colocar dinheiro em mercado emergente, no Brasil? Não, vamos para os EUA. A taxa de juros lá está subindo mais do que aqui. Tem mais juro lá ainda para ser feliz", afirma o economista.

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Roberto Dumas, estrategista-chefe do banco Voiter e professor de economia internacional e de economia chinesa no Insper - Alberto Rocha-05.abr.2018/Folhapress

O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) anunciou nesta quarta-feira (27) um novo aumento de 0,75 ponto percentual da sua taxa de juros, elevando a meta máxima para 2,5% ao ano. Para Dumas, os juros podem ir a 4% ou 4,25%.

O cenário externo adverso se soma aos problemas internos. Dumas diz não ser contra as medidas do governo para socorrer a população mais pobre, mas afirma que a decisão de não cortar outros gastos mostra que não há compromisso com a retidão fiscal.

Também vê com preocupação as palavras e atitudes dos dois favoritos na disputa presidencial em relação à questão fiscal e diz que o governo pode dar com uma mão por meio da política fiscal, mas os juros altos e a inflação vão tirar de outro.

"Um fala que vai estourar o teto de gastos. O outro já está estourando de fato. Em época de eleição você quer gastar. É normal. Não é só o Bolsonaro. Aconteceu com Fernando Henrique, Dilma. Tudo bem, faz o que você quer. A gente [mercado] precifica", afirma.

Dumas afirma também que uma política fiscal expansionista leva o Banco Central a pisar no freio mais forte e pode levar os juros para o patamar próximo de 14% ao ano.

"Você puxa taxas de juros para controlar a demanda, aí vem alguém e joga mais dinheiro na economia, então tem de tirar com a outra mão. Tem um custo nisso aí que eu vou levar para 2023."

Embora descarte o risco de uma crise institucional semelhante ao que ocorreu nos EUA com a invasão do Capitólio, Dumas vê uma eleição mais inflamada e que passa uma mensagem negativa para o investidor.

"Esse risco o investidor não gosta. Rompimento, não acho [que vai ter]. Calor nas ruas, sim. Essa eleição está mais inflamada", afirma.

"Uma vez me perguntaram: você não acha que está tudo errado? Não quero entrar na discussão. Só não quero bagunça nas ruas. Resolvam de uma forma democrática."

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