Descrição de chapéu Folhajus beleza

Vult e Dailus brigam há oito anos por esmalte 'brownie' na Justiça

Marcas disputam mercado de R$ 2 bilhões com produtos de mesmo nome

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São Paulo

"Madrugada" e nomes de origem gastronômica como "bombocado", "ganache", "brownie" e "rocambole" estão no foco de uma disputa na Justiça que se arrasta há oito anos. De um lado, a marca Vult, hoje controlada pelo grupo Boticário, e de outro a Dailus, da fabricante Puella. Ambas estavam usando os mesmos nomes nos seus esmaltes.

Mas a Justiça acaba de dar razão à Vult. Segundo decisão da 5ª Vara Cível do TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), a Dailus deve interromper o uso das cinco denominações nos seus esmaltes, uma vez que a Vult tem o direito de explorar os nomes nesta categoria de produto.

A marca do grupo Boticário possui registro junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Intelectual) para uso exclusivo das expressões "bombocado", "ganache", "brownie", "rocambole" e "madrugada" em esmaltes.

três mãos esmaltadas, uma sobre a outra
Mercado de esmaltes deve movimentar R$ 1,8 bilhão no Brasil este ano, segundo a consultoria Euromonitor. - Divulgação/Vult/Facebook

Pela decisão, a Dailus deve retirar seus esmaltes do mercado e pagar uma indenização de R$ 25 mil, sob pena de multa diária de R$ 2.000.

No centro da disputa das duas fabricantes de cosméticos, está um mercado que voltou a crescer neste ano no Brasil, depois de dois anos consecutivos de queda, por conta da pandemia, segundo dados da consultoria Euromonitor International. A venda de esmaltes no país neste ano deve girar em torno de R$ 1,8 bilhão (US$ 333 milhões).

O mercado nacional –o segundo maior do mundo, só atrás dos Estados Unidos– é pulverizado, embora conte com grandes marcas no topo do ranking, como Risqué, da Coty, e Colorama, da L’Óreal.

A Folha apurou que outras marcas de esmaltes também usam nomes patenteados pela Vult: como a Top Beauty, com "ganache", e a Cora, com "rocambole". Questionada se também vai acioná-las na Justiça, a Vult não respondeu.

Por meio da sua assessoria de imprensa, a marca do grupo Boticário enviou uma nota em que diz que "o processo reforça o compromisso da marca com os seus clientes e com o seu amplo portfólio de produtos" e que "os nomes utilizados pela concorrente devem ser alterados."

Justiça, no entanto, negou o pedido da Vult de condenação da marca Dailus por violação de "trade dress" (conjunto de imagem) das embalagens.

Segundo o acórdão, o laudo pericial concluiu que os esmaltes da Dailus são visualmente diferentes dos da Vult: "Ao contrário da Requerente [a Vult], [a Dailus] adota (i) tampa cilíndrica e alongada, sem angulação superior, na cor branca (ou, por vezes, na cor do esmalte); (ii) recipiente cônico, com base triangular; e (iii) duas aplicações da marca, em relevo, em duas das laterais do recipiente, bem como pelo fato de duas colidências [semelhanças entre marcas], como foi constatada nos objetos da lide, ser comum no segmento."

Pela decisão, a Puella, dona da Dailus, deve arcar com dois terços das custas e despesas do processo, enquanto a Vult paga o outro um terço.

De acordo com a sentença, "nos dias atuais, a marca não tem apenas a finalidade de assegurar direitos ou interesses meramente individuais do seu titular, mas objetiva, acima de tudo, proteger os adquirentes de produtos ou serviços, conferindo-lhes subsídios para aferir a origem e a qualidade do produto ou serviço, tendo por escopo, ainda, evitar o desvio ilegal de clientela e a prática do proveito econômico parasitário."

Questionada pela reportagem, a Puella informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "embora respeite as decisões judiciais, a empresa entende que neste caso houve claro equívoco de interpretação, na medida em que os termos cuja proibição se deu referem-se a ‘cores’ dos esmaltes, de uso comum", informou.

"Além disso, as cores utilizadas pela Dailus eram absolutamente distintas da concorrente", disse.

(A ESQUERDA) Esmalte 'brownie', da Vult. (A DIREITA) Esmalte 'brownie', da Dailus.
Esmalte 'brownie', da Vult, à esquerda, e esmalte 'brownie', da Dailus, à direita. Fabricantes de esmaltes brigam há oito anos pelo nome 'brownie' na Justiça - Divulgação

A empresa assegura, no entanto, que mudou os nomes das cores, interrompeu a produção e as vendas e informou os distribuidores, solicitando a devolução dos estoques.

"A partir de agosto de 2018, solicitamos o recolhimento dos esmaltes ‘bombocado’, ‘ganache’, ‘brownie’, ‘até a madrugada’ e ‘rocambole’. Eles tiveram seus nomes alterados para ‘doce de coco’, ‘gianduia’, ‘bolo de chocolate’ e ‘baile de máscaras’, respectivamente. O esmalte rocambole foi descontinuado na mesma data", diz a empresa.

Segundo a Puella, "o feito encontra-se em fase de cumprimento de sentença, aguardando decisão judicial quanto à impugnação oferecida pela Dailus."

A reportagem apurou, porém, que as buscas na internet por "esmalte brownie" ainda levam ao produto da Dailus.

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