Pai gay em vídeo da Ri Happy opõe consumidores pró e contra Bolsonaro

Hashtag #BoicoteRiHappy ficou entre as mais comentadas de sexta (8) no Twitter

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São Paulo

O ator e influenciador Ricardo Cubba –que interpreta a personagem "Menina Mofo", uma adolescente que vive conflitos cômicos com a mãe– postou um vídeo patrocinado pela Ri Happy em que entrevista o também influenciador e cantor Luke Vidal.

No quadro "Deixa Brincar", Cubba pergunta para Vidal como ele lida com as escolhas do filho de 8 anos na hora de brincar. Ele responde que os pais não precisam escolher as brincadeiras e sim deixar a criança livre. "Quando uma criança chama você para brincar, você deve se incluir no mundo dela. É muito importante você ter este tempo com seu filho".

Até aí, nada demais: um pai preocupado em se divertir com o filho da maneira como a criança quiser.

homem de peruca e barba está sentado ao lado de outro homem de óculos
Os influenciadores Ricardo Cubba e Luke Vidal, em vídeo patrocinado pela Ri Happy. - Reprodução

Mas as redes sociais não perdoaram o fato de Ricardo Cubba, um ator gay, estar caracterizado como Menina Mofo, com maquiagem, peruca e roupas femininas, entrevistando Vidal, que também é gay, e apresentá-lo como "uma referência da comunidade LGBTQIAP+" (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais e identidades não binárias).

O vídeo, que tem pouco mais de 1m20s de duração, em determinado momento coloca Vidal dizendo que "a brincadeira não tem que ter gênero, tem que agregar na vida da criança".

No Twitter, Fernanda Mendes, que se apresenta como presidente do PTB Mulher Municipal no Rio, foi uma das que puxou a hashtag #boicoterihappy. "Não entro mais. Meu dinheiro vocês não terão", tuitou, em um post com quase 14 mil visualizações.

No Instagram, onde se apresenta com o perfil "mamaededireita", publicou o vídeo com a mensagem: "É um absurdo sem fim. Deixem nossas crianças em paz!"

A Folha entrou em contato com Fernanda Mendes, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. Também procurou o grupo Ri Happy, dono das redes Ri Happy e PB Kids, mas a empresa não se pronunciou. Por meio de sua assessoria de imprensa, informou apenas que Ricardo Cubba é um dos influencers contratados pela marca e que está com a empresa desde abril.

A Ri Happy apagou o vídeo original das suas redes sociais, mas o assunto ficou entre os mais comentados do Twitter nesta sexta-feira (8). No perfil da empresa no Instagram, há uma enxurrada de críticas de cunho político. "Vitória do povo brasileiro. Ri Happy nunca mais", diz um usuário. "Vai lacrar com crianças lá em Cuba, Venezuela ou no Qatar!", disse outro no Instagram.

"Estão fazendo propaganda para quem não pode procriar ou não quer, aquela galerinha que apoia aborto. Não é o tipo de família que vocês estão focando, que gasta dinheiro em lojas de brinquedos", postou uma usuária.

No Twitter, porém, houve quem defendesse a iniciativa da empresa. "Brasil batendo recordes de fome, desemprego, corrupção no governo. E o gado está preocupado com uma propaganda incentivando a criança a brincar com o que ela quiser?", questionou um usuário. "Eu boicotaria o Jair Bolsonaro que fez os alimentos básicos virarem artigo de luxo com sua política genocida e desastrosa", tuitou outro.

Na opinião da pedagoga Maria Ângela Barbato Carneiro, doutora em Ciências da Comunicação pela USP (Universidade de São Paulo) e professora titular da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), onde coordena o Núcleo Cultura e Pesquisas Brincar, a propaganda procurou transmitir a mensagem certa, mas escolheu a forma errada.

"Se o objetivo é falar do brincar livre –que é realmente algo importante do ponto de vista pedagógico, para que a criança se desenvolva plenamente e descubra o mundo com os seus olhos, não com os olhos dos adultos–, por que a propaganda não trouxe crianças brincando? Exercitando este brincar livre, com os brinquedos que elas escolhessem?", questiona.

"Quando você traz um homem, de barba e bigode, vestido de mulher, de um lado você reforça estereótipos e preconceitos. Do outro, você deixa a criança confusa, porque ela ainda não tem maturidade para entender esse tipo de representação", afirma.

Para Maria Ângela, é importante que os pais ensinem as crianças a tratar com respeito quem é diferente delas. "Esta é a base de uma educação diversa", diz ela, e que se estende para quem tem uma raça, cor, religião, classe social ou orientação sexual diferente.

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