Descrição de chapéu aeroportos

Única concorrente, espanhola Aena arremata Congonhas e mais dez terminais por R$ 2,45 bi

Fundo da XP leva Campo de Marte e Jacarepaguá, marcando entrada da empresa no setor de aviação

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São Paulo

Único interessado no leilão do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o grupo espanhol Aena arrematou nesta quinta-feira (18) a concessão do principal bloco com uma oferta de R$ 2,45 bilhões (ágio de 231%). A outorga mínima era de R$ 740,1 milhões.

O segundo bloco, formado pelo Campo de Marte (SP) e Jacarepaguá (RJ), foi arrematado pela XP Infra IV, única concorrente, com uma oferta de R$ 141,4 milhões —ágio de 0,01% em relação ao lance mínimo inicial, de R$ 141,3 milhões. O movimento marca a entrada da empresa no setor, por meio da XP Asset.

O terceiro bloco, Norte 2, que abrange os aeroportos de Belém (PA) e Macapá (AP), foi o único em que houve disputa entre empresas. O vencedor foi o consórcio NovoNorte Aeroportos, uma associação entre a Socicam (que administra vários terminais de passageiros, entre eles a rodoviária do Tietê, em São Paulo) e a Dix Empreendimentos (que opera aeroportos no Nordeste).

A oferta do NovoNorte foi de R$ 125 milhões (ágio de 119,78%). A segunda oferta, da Vinci, era de R$ 115 milhões.

No leilão da sétima rodada do programa de concessões aeroportuárias, foram ofertados 15 aeroportos, agrupados em três blocos. Os terminais foram concedidos à iniciativa privada por um período de 30 anos.

Os 15 aeroportos leiloados renderam um total de R$ 2,716 bilhões. O valor total a ser pago pelos vencedores representa um ágio médio de 116,94% em relação ao lance mínimo inicial total.

O leilão desta quinta-feira foi a terceira rodada de concessões em blocos, que contemplam seis estados brasileiros: Amapá, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo.

Representante da empresa espanhola Aena, que arrematou Congonhas, e o ministro de Infraestrutura, Marcelo Sampaio no leilão de concessão de aeroportos, realizado na sede da Bolsa de Valores de São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Juntos, os três blocos processam cerca de 16% do volume total de passageiros do Brasil, um patamar equivalente a mais de 30 milhões de pessoas por ano, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) de 2019 (ou seja, antes da pandemia).

O intuito do governo ao estruturar os blocos é juntar aeroportos cobiçados com terminais deficitários.

Um dos principais terminais do país, o aeroporto de Congonhas era considerado o maior atrativo para investidores que planejam ter atuação relevante no segmento. Ele faz parte do Bloco "SP-MS-PA-MG", que também inclui Campo Grande (MS), Corumbá (MS), Ponta Porã (MS), Santarém (PA), Marabá (PA), Parauapebas (PA), Altamira (PA), Uberlândia (MG), Uberaba (MG) e Montes Claros (MG).

O bloco atraiu o interesse do grupo espanhol Aena, que já atua em seis aeroportos na região Nordeste (incluindo Recife, João Pessoa e Maceió), com investimento total estimado em R$ 1,4 bilhão.

A Aena é operadora do aeroporto de Madri-Barajas, na Espanha, um dos mais importantes da Europa. O grupo, no entanto, tem avaliação negativa na administração do aeroporto do Recife. Conforme mostrou a coluna Painel S.A., no mais recente ranking de avaliação dos passageiros elaborado pelo Ministério da Infraestrutura, Recife aparece como o segundo pior avaliado, atrás de Belém.

Em fevereiro, a Anac decidiu penalizar a Aena Brasil por falta de qualidade em serviços prestados no terminal do Recife. Entre as falhas observadas pela agência estão problemas nos sistemas de processamento de bagagens no embarque e de devolução das bagagens no desembarque. Outra reclamação recorrente é a baixa qualidade do sistema de ar-condicionado.

Já o terminal de Maceió, de porte menor e também administrado pela Aena, está em terceiro entre os melhores do país.

O prazo para envio dos envelopes com os lances iniciais terminou na segunda-feira (15) e, segundo fontes que acompanharam o processo, a CCR desistiu de participar, frustrando a expectativa do governo.

O ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, disse que ficou satisfeito com o resultado do leilão e que a Aena tem feito um belo trabalho no Nordeste.

"Para nós é importante ter essa diversidade, com players de grande importância internacional. Esse avião, que é o Brasil, tem dado resultado a cada mês. O Brasil se torna um destino seguro para o capital do mundo."

Ele também aproveitou para elogiar o governo Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reelieção. Sampaio afirmou que o país acabou com a corrupção sistêmica, apesar dos diversos escândalos revelados pela imprensa no governo atual, e que tem a energia e os combustíveis fósseis mais baratos do mundo, o que não é comprovado por rankings internacionais. O ministro ainda comemorou medidas, como o marco do saneamento e a reforma da Previdência.

"Melhor do que ter dois ou três concorrentes é ter 231% de ágio", disse o ministro. Ele atribuiu o baixo número de concorrentes ao cenário mundial desafiador, com destaque para a Guerra da Ucrânia e seus impactos sobre a economia internacional.

A Aena disse que o grupo vê o Brasil com interesse e que a empresa pode contribuir com sua experiência na administração de aeroportos. A companhia diz que sabe como operar com toda a segurança que esse tipo de operação exige. O grupo também justificou o ágio de 231% pelo planejamento e pela complexidade do projeto.

Os representantes do consórcio NovoNorte afirmaram que têm competência para melhorar a qualidade de transporte para os moradores da região Norte, melhorando a qualidade de serviço prestada no aeroporto de Belém e aumentando o potencial para voos internacionais a partir do terminal.

Até o fim do ano, o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, disse que o plano é fazer a relicitação do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, de Natal (RN), fechando com 50 aeroportos leiloados em quatro anos, e lotes de rodovias, como o leilão da BR-381, no trecho de Minas Gerais.

XP vê oportunidade para exploração imobiliária

O bloco Aviação geral, arrematado pela XP Infra IV, contempla operações que não são de voos regulares —sobretudo de helicópteros e aviões particulares e de pequeno porte.

A estimativa é que a movimentação chegue a 700 mil passageiros em 2052. A outorga mínima era de R$ 560 milhões.

Os representantes do fundo da XP afirmaram que os aeroportos têm também apelo de exploração imobiliária, como na avenida Olavo Fontoura, na zona norte de São Paulo, e que uma parte da aviação executiva de Congonhas deve ser absorvida pelo Campo de Marte nos próximos anos, o que deve aumentar a receita da operação.

"Vemos oportunidades de negócios imobiliários no entorno do aeroporto de Jacarepaguá, dada a proximidade das atividades da indústria de petróleo lá perto", disse a jornalistas o chefe da área de infraestrutura da XP, Túlio Machado.

Jacarepaguá também é visto por eles como oportunidade de exploração imobiliária e atendimento por helicópteros para o transporte ligado ao setor de petróleo, na Bacia de Campos.

Segundo Machado, os recursos para o projeto virão de um fundo para investimentos em infraestrutura constituído pela XP recentemente, no valor de R$ 340 milhões.

Recursos adicionais do fundo poderão ser usados para participar de licitações em outros segmentos de infraestrutura, como elétrico e saneamento, afirmou ele.

Machado disse ainda que a XP enxerga possibilidades de investimentos no entorno do Campo de Marte, assim como a possível operação com aeronaves elétricas de decolagem e pouso verticais, os eVtols, em Jacarepaguá.

Com Reuters

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