Descrição de chapéu The New York Times

Home office nos EUA é realidade nas grandes cidades, mas não nas pequenas

Mais frequente em centros urbanos, trabalho remoto vira fator de polarização no país

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Emma Goldberg
Nova York | The New York Times

A competição por vagas de estacionamento está cada vez mais acirrada. Os deslocamentos estão avançando. As salas de estar nos locais de trabalho estão se enchendo de agitação enquanto os sócios juniores jogam tiro ao alvo. Que discussão sobre a volta ao escritório? Em algumas partes do país, isso já está resolvido.

"Não conheço quase ninguém em Columbus que seja totalmente remoto", disse Grant Blosser, 35, que trabalha numa empresa de serviços financeiros.

Em outubro de 2020, Blosser começou a voltar ao seu escritório em Columbus (Ohio) cinco dias por semana. Ele fez piadas com os jovens analistas, um dos quais recentemente arrastou sua equipe para a hot ioga (isso "chutou nossas bundas"). Ele escutava no carro a seleção de seu clube do livro (atualmente, uma biografia de Winston Churchill). Foi um alívio, disse ele, sentir a "separação entre Igreja e Estado" que é sair de casa todos os dias.

O escritório da Squire Patton Boggs em Columbus, Ohio, 30 de julho de 2022. Mais de dois anos após a pandemia, os locais de trabalho corporativos americanos se fragmentaram. Alguns estão quase tão cheios quanto antes da Covid-19. Outros ficam abandonados - Ty Wright/NYT

"Quase todo mundo que conheço fica num escritório a maior parte do tempo", disse ele. "As notícias que li sobre as pessoas se arrastarem de volta ao escritório são sobre algumas empresas e algumas cidades."

Mais de dois anos após a pandemia, os locais de trabalho corporativos americanos se fragmentaram. Alguns estão quase tão cheios quanto antes da Covid-19; outros estão abandonados, as impressoras desligadas e os copos de café acumulando poeira. Os trabalhadores das cidades médias e pequenas dos Estados Unidos voltaram ao escritório em número muito maior que os das maiores cidades americanas.

Alguns executivos nas grandes cidades esperam que eles se recuperem, embora tenham sido impedidos por preocupações de segurança e saúde sobre deslocamentos em transporte coletivo, bem como mercados de trabalho competitivos, onde os funcionários são mais propensos a tomar decisões.

Em cidades pequenas –com menos de 300 mil habitantes–, a parcela de dias inteiros e remunerados trabalhados em casa caiu para 27% nesta primavera, de cerca de 42% em outubro de 2020. Nas dez maiores cidades dos EUA, os dias trabalhados em casa mudaram para cerca de 38%, contra 50% no mesmo período, segundo uma equipe de pesquisadores de Stanford e outras instituições lideradas pelos economistas Steven Davis, Nick Bloom e Jose Maria Barrero.

Os escritórios se encheram mais rápido nas áreas onde os bloqueios da Covid foram mais curtos e onde os deslocamentos são feitos de carro, segundo Davis. Muitas cidades da Califórnia e Nova York, em particular, têm demorado mais para retornar ao escritório do que as da Flórida e do Texas.

"'Estranho' é uma palavra. 'Ciúme' também é uma", disse Bret Hairston, funcionária de escritório em Columbus, descrevendo seus sentimentos sobre ir a um escritório regularmente enquanto sabia que muitas pessoas não faziam isso.

Um happy hour no escritório da Squire Patton Boggs em Columbus, Ohio - Ty Wright/NYT

Enquanto alguns executivos de empresas se viram envolvidos em discussões tensas sobre o futuro do escritório, outros estão convencidos de que, pelo menos para eles, o debate está resolvido. "De certa forma, é uma anti-história", disse Matt Lanter, 33, cofundador da OpenStore, empresa de comércio eletrônico em Miami cujos cem funcionários estão no escritório em tempo integral. "Não há realmente nada para falar, porque as pessoas estão literalmente no escritório nos últimos um ou dois anos."

Não é que os líderes cívicos de todos os lugares não queiram as pessoas de volta. É só que seus anúncios estão tendo resultados mistos. "O centro da cidade está de volta", disse o prefeito de Columbus, Andrew Ginther, nesta primavera. "De volta ao trabalho, de volta à diversão." O prefeito Eric Adams disse aos nova-iorquinos: "Vocês não podem ficar em casa de pijama". No entanto, muitos ficaram.

A lacuna regional nos padrões de retorno ao escritório é perceptível na parcela de anúncios de empregos online que permitem o trabalho remoto. Em San Francisco, na Califórnia, 26% das vagas de emprego agora permitem trabalho remoto, e em Nova York 19%. Em Columbus, apenas 13% das vagas de emprego permitem trabalho remoto; em Houston, o número é 12,6%; e em Birmingham, Alabama, apenas 10,4%, segundo outra equipe de pesquisadores liderada por Davis, Bloom e Raffaella Sadun, da Escola de Economia de Harvard.

Alguns trabalhadores estão atravessando a linha entre esses dois países. Ann Aly, que há vários anos voltou de Alexandria, na Virgínia, para sua cidade natal perto de Fort Myers, na Flórida, é a única pessoa que ela conhece que trabalha remotamente. Ela evita dirigir em qualquer lugar entre 7h e 9h30, porque as ondas de deslocamentos públicos criam um tráfego interminável. À tarde, passa na mercearia onde foi caixa, aproveitando as pequenas filas enquanto os outros estão no trabalho.

"Muitas pessoas realmente não entendem como isso funciona: como você trabalha remotamente? O que você faz? E como consegue não tirar um cochilo à tarde?", disse Aly, que trabalha em tecnologia. "Eu realmente não falo sobre isso com os vizinhos, a menos que eles perguntem, porque não quero necessariamente destacar essas diferenças sociais."

Os americanos sempre experimentaram o local de trabalho de maneiras totalmente diferentes: médicos passam longos turnos em pé, caminhoneiros na estrada e trabalhadores do conhecimento debruçados sobre computadores. Mas agora pessoas da mesma profissão podem ter arranjos de trabalho muito diferentes, dependendo de onde estão suas mesas.

Gabe Tucker, à esquerda, advogado, em seu escritório em Birmingham, Alabama - Charity Rachelle/NYT

Gabe Tucker, 26, é advogado na firma Fortif Law Partners em Birmingham, no Alabama, onde a porcentagem de anúncios de emprego que permitem o trabalho remoto é aproximadamente a metade da de Nova York. Todas as manhãs, Tucker veste uma camisa social, dirige por 15 minutos e chega ao escritório por volta das 8h. Sua rotina, em outras palavras, continua idêntica à que tinha antes do início da pandemia (com exceção de não precisar mais usar gravata). À noite, ele e seus colegas às vezes tomam uma bebida para comemorar o fechamento de um negócio. Eles voltaram ao escritório em junho de 2020, com máscaras e outras precauções contra a Covid.

"É um trabalho normal, praticamente", disse Tucker. "Achamos difícil trabalhar remotamente. Todos gostamos de estar perto uns dos outros."

Alguns pesquisadores temem que as diferentes expectativas sobre a flexibilidade no local de trabalho contribuam para mais uma forma de polarização da vida das pessoas durante a pandemia.

"Uma das coisas que nos controlam é ter que ir trabalhar", disse Bloom, professor de Stanford que estuda o trabalho híbrido, explicando que, para algumas pessoas, os locais de trabalho não servem mais como âncora social. "Metade do país tem uma experiência diferente da outra."

Traci Martinez, à direita, sócia-gerente do escritório de advocacia Squire Patton Boggs, no escritório da companhia em Columbus, Ohio - Ty Wright/NYT
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