Descrição de chapéu The New York Times

Clientes assaltam bancos no Líbano para pegar seu próprio dinheiro

Assaltos tornaram-se cada vez mais comuns com crise financeira e congelamento de saques no país

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Hwaida Saad Jane Arraf
Beirute | The New York Times

Clientes armados invadiram pelo menos cinco bancos libaneses na sexta-feira (16) para exigir acesso a seus próprios fundos, que ficaram presos pelo vertiginoso colapso financeiro do Líbano.

Esses assaltos se tornaram cada vez mais frequentes à medida que o país afunda numa crise econômica que levou os bancos a impor limites rígidos aos saques em dinheiro para evitar o colapso. O ministro do Interior alertou na sexta (16) que os ataques estão destruindo a ordem, mas para muitos libaneses os clientes desesperados se tornaram heróis populares.

Uma série de assaltos nesta semana foi realizada por depositantes, na maioria de classe média, que usavam armas reais e de brinquedo.

Pessoas reunidas em agência de banco em Beirute, no Líbano, para apoiar cliente que fez invasão - Ibrahim Amro/AFP

A moeda libanesa perdeu mais de 95% de seu valor desde 2019, atingindo uma nova baixa nesta semana de cerca de 38 mil por dólar.

Os bancos forçaram os depositantes com contas em dólares americanos a retirar seu dinheiro em libras libanesas e a uma taxa de câmbio muito abaixo da de mercado.

A Agência Nacional de Notícias do Líbano disse que um depositante invadiu um banco BLOM em Beirute na sexta, mantendo vários funcionários e clientes como reféns.

O canal online Líbano News identificou o homem como Abed Soubra. Com uma das mãos ferida envolta em bandagens, ele disse que retirar seus US$ 50 mil (R$ 264 mil) em moeda libanesa lhe custaria US$ 35 mil (R$ 185 mil) na taxa de câmbio do banco.

"Isso significa que eles iam me roubar", disse ele.

Também na sexta, um depositante armado com um rifle fez funcionários do banco e clientes como reféns em uma agência do Lebanon and Gulf Bank, de acordo com a MTV News do Líbano. Ele disse que após várias horas de negociações o banco concordou em liberar US$ 15 mil (R$ 79 mil) para seus irmãos em troca de o atirador se entregar.

O ministro do Interior do país, Bassam al-Mawlawi, convocou uma reunião de emergência do conselho de segurança do Líbano e culpou vagamente os instigadores que segundo ele estariam incitando os depositantes –possivelmente uma alusão a uma ou mais das muitas facções políticas ou milícias do país.

"Isso destrói a ordem pública e faz com que outros depositantes percam seus direitos", disse.

A associação bancária do país respondeu à onda de ataques dizendo que iria fechar os bancos durante três dias a partir de segunda-feira (19).

Um dos fundadores de um grupo de defesa dos depositantes, Rafic Ghraizi, disse que depois de quase três anos de bancos bloqueando os saques as pessoas estão desesperadas.

"Nenhuma ação foi tomada pelas autoridades libanesas ou pelo judiciário", disse ele a The New York Times. "Os depositantes não encontraram outra opção para tentar sacar seu dinheiro. A rua está fervendo", disse ele, referindo-se à crescente hostilidade pública.

Ghraizi disse que vê o fechamento de três dias pela associação bancária como uma escalada.

"É uma questão humanitária", disse ele. "Alguns depositantes precisam de seu dinheiro para cobrir despesas médicas de suas famílias."

No mês passado, Bassen Hussein, 42, invadiu um banco em Beirute com um rifle, fazendo reféns e ameaçando matar todos e se incendiar. Ele disse que precisava sacar suas economias de US$ 200 mil (R$ 1 milhão) para pagar uma operação para seu pai. Hussein foi detido pela polícia durante vários dias e depois libertado.

A ONU disse que mais de 80% dos libaneses estão vivendo na pobreza hoje. O governo também é incapaz de fornecer serviços básicos, com muitas horas de cortes de eletricidade por dia e escassez de medicamentos básicos.

O colapso econômico é atribuído ao caos político e à corrupção generalizada.

Um grupo de parlamentares saiu da Câmara na sexta-feira, interrompendo as negociações para discutir o orçamento deste ano. O país não implementou as medidas necessárias para se qualificar para uma ajuda de US$ 3 bilhões (R$ 15,8 bilhões) do Fundo Monetário Internacional.

Alguns dos atacantes tornaram-se heróis populares. Vídeos postados nas redes sociais mostram multidões reunidas diante de alguns bancos em apoio aos atacantes lá dentro.

Uma cliente, Sally Hafez, usou na quarta-feira uma arma, que afinal se revelou de brinquedo, para exigir US$ 13 mil (R$ 68,7 mil) de sua conta, dizendo que era para pagar o tratamento de câncer de sua irmã.

"Minha irmã está morrendo na minha frente e ninguém quer nos ajudar", disse ela à TV al-Jadeed do Líbano. "Não temos nada a perder."

Ela disse que implorou ao gerente do banco para ajudá-la, e ele disse que poderia liberar US$ 200 (R$ 1.057) por mês, o que segundo ela é menos que o custo de uma injeção do medicamento.

Hafez disse que fez questão de assinar um recibo de US$ 13 mil.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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