Campos Neto contrapõe Lula e defende foco na inflação

Petista quer incluir mercado de trabalho entre metas do BC

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu nesta quinta-feira (29) o objetivo principal da autoridade monetária, o de manter a inflação controlada, como o mais importante para a geração de empregos.

O posicionamento contrapõe declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que defende na campanha eleitoral que a preocupação com o mercado de trabalho esteja entre as metas prioritárias da autarquia.

Campos Neto afirma que o fomento ao emprego já é uma meta secundária do BC e que manter os preços sob controle é o mais relevante tanto para o mercado de trabalho como para investimentos de longo prazo no país.

Na terça-feira (27), durante entrevista ao SBT, Lula afirmou que, se eleito, pretende negociar novas atribuições para a autoridade monetária. "O BC tem como finalidade fazer com que a inflação seja controlada e o único mecanismo que ele tem é aumentar a taxa de juros", disse.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em Brasília - Adriano Machado - 25.mai.22/Reuters

"É preciso criar outro mecanismo, o BC precisa assumir outra responsabilidade. O mesmo banco que tem poder para taxar e dar meta de inflação precisa dar meta de crescimento econômico e a meta de emprego que nós vamos criar", afirmou Lula.

Hoje, as metas de inflação são fixadas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). O órgão colegiado é atualmente presidido pelo ministro Paulo Guedes (Economia) e composto pelo presidente do BC e por Esteves Colnago, secretário especial de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia.

O petista já deu declarações similares em pelo menos uma outra ocasião, ao conversar com influenciadores de redes sociais em abril. Dessa vez, o ex-presidente disse também que pretende dialogar com Campos Neto, a quem se referiu como uma pessoa razoável para conversar e um economista competente.

Apesar das declarações de Lula, a visão sobre eventuais modificações ligadas ao BC não são um consenso no PT. Economistas que trabalham na campanha do partido afirmam que tentar modificações ligadas à autoridade monetária pode significar gasto de capital político e criação de dificuldades na relação com o Congresso em um começo de governo que terá outras prioridades.

"A gente entende que o mais importante para gerar emprego, para gerar crescimento sustentável é ter a inflação sob controle", disse o presidente do BC durante entrevista a jornalistas nesta quinta para divulgação do relatório trimestral de inflação, após ser perguntado sobre o assunto.

"Mesmo em outros países onde isso não é tão implícito, a gente entende que, no final das contas, a prioridade é dada a esse fator. Sem um equilíbrio de preços, você tem dificuldade de atingir os outros objetivos", complementou Campos Neto.

Em jantar com empresários nesta semana, Lula também falou sobre a autonomia do BC. Segundo o ex-presidente, Campos Neto não tem mais independência do que teve Henrique Meirelles quando ocupou o comando do BC em seu governo, entre 2003 e 2010.

Sem opinar sobre a passagem de Meirelles pelo cargo, o atual presidente da autarquia disse ter "autonomia total" desde que assumiu o posto de comando, em 2019, mesmo antes da aprovação da lei, em vigor desde 2021.

"A aprovação traz um benefício adicional. Como coloca na lei essa independência, faz com que alguns prêmios de risco que possam acontecer no mercado em momentos de turbulência não aconteçam na mesma magnitude, sejam reduzidos. Isso acaba facilitando o mecanismo de transmissão de política monetária. Gera eficiência", afirmou.

A lei determina mandatos fixos de quatro anos ao presidente e aos diretores, que podem ser renovados apenas uma vez e não são coincidentes com o do presidente da República.

Nesta quinta, Campos Neto voltou a dizer que não tem interesse em ser mantido no comando do BC após 2024, quando termina o seu primeiro mandato.

Pix é conquista de funcionários do BC, diz Campos Neto

Quanto ao uso político do Pix pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua campanha de reeleição, Campos Neto afirmou que o sistema de pagamentos instantâneos é uma conquista dos funcionários do BC, que trabalharam "dia e noite" durante a pandemia para lançar a ferramenta em novembro de 2020.

"O Pix é uma conquista do Banco Central, dos funcionários do Banco Central", disse. "O Pix vai continuar existindo inclusive quando eu não estiver mais aqui, o Pix não foi um projeto meu", acrescentou.

Em maio, os servidores do BC publicaram uma nota de repúdio contra o uso político do Pix pelo governo ou seus aliados.

"Tal sistema de pagamento instantâneo foi criado e implementado pelos analistas e técnicos do Banco Central do Brasil, ou seja, por servidores concursados de Estado, não pelo atual governante ou por qualquer outro governo", afirmou Fábio Faiad, presidente do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), na ocasião.

A portaria do BC que instituiu o grupo de trabalho para desenvolver o Pix foi publicada em 3 de maio de 2018, quando a autoridade monetária era comandada por Ilan Goldfajn, durante o governo de Michel Temer (MDB).

O lançamento do Pix ocorreu em novembro de 2020, sob o governo Bolsonaro. Na época, o presidente deu uma declaração pública confundindo o sistema de pagamentos com um tema relacionado à aviação civil.

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