Afastado após uma investigação concluir que manteve uma relação íntima com uma subordinada, desrespeitando as normas da instituição, o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Mauricio Claver-Carone, afirmou em entrevista nesta quarta-feira (28) que o ministro da Economia, Paulo Guedes, ameaçou colocar o Brasil contra ele caso não aceitasse indicações do governo para cargos na instituição.
"O Brasil queria posições na vice-presidência. Se eu não nomeasse pessoas específicas, iam ser contra. Votei contra, porque francamente não eram pessoas qualificadas para essas posições, e me declararam guerra", disse em entrevista ao Canal NTN24.
Na entrevista ao jornalista Gustau Alegret, Carone declarou ainda que a Argentina pediu que apoiasse determinados contratos dentro da organização em troca de apoio.
Segundo ele, a Argentina pediu a nomeação do vice-presidente executivo e o Brasil queria cargos.
Claver-Carone também responsabilizou o governo americano de Joe Biden por sua saída, por meio de pressão para que vários países retirassem o apoio a ele.
"Houve uma pressão óbvia aqui da Casa Branca. Houve chamadas para países que estavam apoiando para irem contra mim", declarou.
Os diretores do BID votaram nesta segunda-feira (26) pela demissão do presidente.
Uma investigação ética independente teria encontrado evidências de que ele se envolveu em um relacionamento íntimo com uma autoridade sênior. Carone teria dado aumentos salariais a essa pessoa totalizando mais de 45% em menos de um ano.
Ele nega as acusações e afirmou que não há provas convincentes.
À Folha, o ministério da Economia afirmou que não comenta as declarações de Maurício Claver-Carone sobre Paulo Guedes, pois seu "contrato como presidente do BID foi terminado após recomendação unânime da diretoria, referendada em votação dos governadores do banco."
Segundo o órgão, a ação foi em resposta às conclusões de investigação independente conduzida a respeito de graves violações éticas enquanto ocupou a presidência da instituição.
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