Taxa de desemprego caiu com Lula e Bolsonaro, mas dados não são comparáveis

Mudanças metodológicas nas pesquisas do IBGE impedem confronto direto das estatísticas

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Rio de Janeiro

A taxa de desemprego caiu ao longo dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), indicam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

As estimativas oficiais, porém, tiveram mudanças metodológicas com o passar dos anos, e os resultados das duas gestões não podem ser diretamente confrontados, ponderam especialistas.

Lula aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto às vésperas das eleições, seguido por Bolsonaro –o primeiro turno será neste domingo (2). Da lista de candidatos em 2022, os dois são os únicos que já venceram disputas pela Presidência.

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Trabalhadores fazem fila em feirão de empregos em São Paulo - Zanone Fraissat - 13.jul.2022/Folhapress

A atual pesquisa sobre desemprego no Brasil é a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Com recorte trimestral, a amostra cobre o território nacional, além de trazer outros detalhamentos. A série histórica reúne dados a partir de 2012.

Nesta sexta-feira (30), o IBGE divulgou a edição mais recente da Pnad, com dados para o trimestre até agosto. Segundo a pesquisa, a taxa de desemprego das pessoas de 14 anos ou mais recuou para 8,9% no período.

No trimestre até dezembro de 2018, antes da posse de Bolsonaro, a taxa de desocupação era de 11,7%. Em discursos de campanha, o presidente procurou chamar atenção para a baixa do indicador.

A trégua da desocupação vem em um contexto de reabertura das atividades econômicas após as restrições causadas pela pandemia, que paralisou empresas e destruiu postos de trabalho. Durante a crise sanitária, a taxa de desemprego chegou a marcar 14,9%, máxima na Pnad.

"A gente tem um momento que permite a recuperação porque fomos muito ao fundo com a pandemia", diz a economista Vívian Almeida, professora do Ibmec-RJ.

Às vésperas das eleições, Bolsonaro também buscou aquecer a economia com cortes tributários e liberação de recursos, incluindo a ampliação do Auxílio Brasil em agosto.

"Bolsonaro pegou um país saindo de uma recessão. Depois, entrou em uma tremenda crise sanitária. A recuperação de agora [do mercado de trabalho] também tem o impacto dos estímulos adotados com fins de permanência no cargo", diz Sergio Firpo, professor de economia do Insper e colunista da Folha.

Nos dois mandatos de Lula (2003 a 2010), a pesquisa de desemprego divulgada pelo IBGE era a PME (Pesquisa Mensal de Emprego). A série histórica desse levantamento foi encerrada em fevereiro de 2016.

Uma das principais diferenças em relação à Pnad Contínua diz respeito à abrangência territorial.

Os dados da PME eram estimados a partir das áreas de seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio Janeiro, São Paulo, Porto Alegre).

Além disso, a taxa de desocupação era calculada entre pessoas a partir de dez anos de idade –a Pnad Contínua parte dos 14 anos.

No mês de dezembro de 2002, antes da posse de Lula, o desemprego estava em 10,5% no total das regiões analisadas, segundo a PME. Oito anos depois, em dezembro de 2010, o indicador caiu para 5,3%.

Na campanha deste ano, o ex-presidente também procurou destacar a baixa da desocupação ao longo das suas gestões.

"Teve uma série de fatores no governo Lula. A gente estava em um boom das commodities, conseguimos crescer e redistribuir renda de maneira impactante", diz Firpo.

"No começo do governo, ele [Lula] adotou políticas para arrumar a casa, de ajuste fiscal, que deram previsibilidade para os mercados. Depois, deu uma degringolada", pondera.

Almeida também cita mais de um ponto ao analisar o contexto da era petista. "Lula deu segurança [no começo do primeiro mandato] de que iria manter políticas econômicas adotadas antes. Também houve o impacto do boom das commodities", aponta.

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