Crescimento global emperra com guerra e desaceleração de EUA e China, diz FMI

Inflação é hoje maior ameaça à economia global, afirma fundo

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Washington

A persistência da Guerra da Ucrânia e suas consequências diretas, como a crise energética, o aumento no custo de vida e a desaceleração das maiores economias do mundo devem segurar o crescimento global até o ano que vem, segundo relatório do Fundo Monetário Internacional publicado nesta terça-feira (11).

A previsão do FMI é que o mundo cresça em média 3,2% neste ano e 2,7% no ano que vem —um corte de 0,2 ponto em relação à última previsão feita pelo órgão, com chance de o crescimento ficar abaixo de 2% em 2023.

O economista francês Pierre-Olivier Gourinchas, conselheiro econômico do FMI, sintetiza: "Em resumo, o pior ainda está por vir, e para muita gente 2023 parecerá uma recessão". Segundo o relatório, um terço dos países devem ver sua economia contrair neste ano ou no próximo, em meio ao aumento constante dos preços e ao encolhimento da renda das famílias.

Entre as principais causas da desaceleração global estão as vacilantes economias dos Estados Unidos, China e União Europeia, aponta o fundo.

Bandeiras da China e dos Estados Unidos durante encontro entre delegações dos dois países em Xangai - Aly Song - 30.jul.2019/Reuters

Nos EUA, a alta de juros para conter a inflação acelerada (que deve fechar 2022 a 8,1% no índice anual, prevê o fundo) deve segurar o crescimento do PIB a 1% no ano que vem, segundo o relatório.

Já a China deve crescer 3,2% neste ano e 4,4% em 2023, muito abaixo dos níveis vistos pré-pandemia, antes de 2020, em meio ao enfraquecimento do setor imobiliário, que representa um quinto da atividade econômica chinesa, e à continuidade da política de lockdown para conter o vírus, aponta o fundo.

Os países da zona do euro, por sua vez, devem ter o menor crescimento entre nações desenvolvidas, com apenas 0,5% de crescimento do PIB do bloco em 2023, segundo o FMI, e tem como principal causa a crise energética —a Guerra na Ucrânia fez o preço do gás quadruplicar na Europa, com a redução da oferta pela Rússia.

"A invasão Russa à Ucrânia continua a desestabilizar de forma poderosa a economia global. Além da escalada e da destruição sem sentido de vidas e de comunidades, levou a uma crise severa de energia na Europa e está aumentando drasticamente os custos de vida e dificultando a atividade econômica", segundo Gourinchas.

A guerra também tem pressionado o aumento no preço dos alimentos no mundo todo, com a dificuldade de exportação de grãos, afetando sobretudo países de baixa renda. A inflação está mais disseminada que as projeções anteriores, afirma o órgão, mas a boa notícia é que deve atingir um pico neste ano, com 9,5% no acumulado anual, antes de começar a desacelerar até um patamar de 4,1% em 2024, projeta o FMI.

O aumento desenfreado de preços é a ameaça mais imediata à economia global, ao espremer a renda e minar a estabilidade macroeconômica, mas a ação dos bancos centrais deve ser bem calculada, aponta o relatório.

Uma ação mais branda pode fazer a inflação avançar mais, erodindo a credibilidade dos bancos centrais e aumentando a expectativa de inflação. Já uma ação mais agressiva do que o necessário, com aumento exagerado das taxas de juros, por exemplo, empurra as economias para uma recessão desnecessariamente severa, segundo o FMI, o que acaba por afetar também os mercados financeiros.

"Sempre que necessário, as políticas financeiras devem assegurar que os mercados permaneçam estáveis, mas os bancos centrais do mundo precisam ter mão firme com a política monetária fortemente focada em dominar a inflação", diz o relatório.

É preciso ter em mente que a crise energética, sobretudo na Europa, não é passageira, aponta o FMI, e o realinhamento por motivos geopolíticos das cadeias de energia é permanente. Isso se torna mais importante agora no hemisfério norte, com a chegada do inverno, que deve ser desafiador. O FMI aponta que a sinalização de preços é essencial para reduzir a demanda e estimular a oferta de energia, mas que o controle de preços, com subsídios sem foco específico e proibição de exportações, deve ser custoso em termos fiscais e pode levar a um excesso da demanda, queda na oferta e racionamento.

Segundo o FMI, políticas fiscais podem ajudar as economias a se adaptarem a um ambiente mais volátil ao investir na capacidade produtiva, capital humano, digitalização de processos, energia verde e diversificação da cadeia de suprimentos. Investimentos nessas áreas "podem tornar as economias mais resilientes para quando chegar a próxima crise", diz o órgão.

Outro desafio global é o fortalecimento expressivo do dólar, sobretudo para mercados emergentes, com a moeda americana em seu nível mais alto desde o começo dos anos 2000, o que contribui para o aumento dos preços em países de baixa renda. O FMI aponta que uma resposta apropriada é manter a estabilidade de preços permitindo a flutuação das taxas cambiais e mantendo reservas estrangeiras para quando as condições piorarem ainda mais.

Segundo o fundo, a justaposição da crise energética, da crise de alimentos e das temperaturas extremas registradas no verão do hemisfério norte mostram como é preciso investir em políticas para evitar a catástrofe climática. "Os custos sobem drasticamente quanto mais atrasarmos a transição verde. A mensagem é clara: uma transição oportuna e com credibilidade, além de ser fundamental para o futuro do planeta, também contribui para a estabilidade macroeconômica."

O relatório foi divulgado em meio às reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, que ocorrem durante toda a semana na capital dos Estados Unidos, Washington, com políticos e economistas de todo o mundo. É a primeira vez que as reuniões acontecem de forma completamente presencial desde 2020, com eclosão da pandemia da Covid-19.

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