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Escritório na praia do Citi pode ser tiro no pé para jovens profissionais

Banco abre unidade em Málaga, na Espanha, para nível junior; concorrentes dizem que medida é ação de relações públicas

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Stephen Morris
Londres | Financial Times

O Citigroup abriu uma base na cidade litorânea espanhola de Málaga especialmente para abrigar financistas juniores de seu banco de investimentos.

Em meio a críticas de trabalho exaustivo nos bancos, as instituições de Wall Street estão envolvidas em uma grande batalha por talentos, e a iniciativa tem como alvo esse problema.

O banco americano selecionou 27 analistas, entre mais de 3.000 candidatos, para o programa de dois anos de duração que começou neste mês.

Prometendo jornadas de trabalho de oito horas e fins de semana de folga, a instituição quer se distinguir dos fatigantes sete dias de trabalho por semana comuns entre os jovens financistas de Londres e Nova York.

Pessoas caminham ao lado de um terraço de um restaurante em frente ao Mar Mediterrâneo em Málaga, Espanha - Jon Nazca - 9.jul.2022/Reuters

Ao instalá-los em Málaga —uma cidade ensolarada na costa sul da Espanha, que está longe dos maiores centros financeiros do planeta e onde a cultura e a gastronomia são importantes— o Citi também está procurando oferecer um estilo de vida mais atraente para os financistas menos interessados em retornar a escritórios em grandes cidades como Londres ou Manhattan.

No entanto, alguns bancos rivais descartaram a ideia como um simples truque que pode, mais tarde, prejudicar as carreiras daqueles que decidirem passar seus anos iniciais trabalhando menos de metade das horas e ganhando cerca de metade do salário inicial de seus colegas instalados nos escritórios principais do Citi.

"Não se trata de uma jogadinha, mas de uma realidade: as reações incríveis de nosso pessoal e de nossos concorrentes confirmam que o projeto está começando bem", disse Manolo Falcó, copresidente mundial do banco de investimentos do Citi.

"Sofremos alta rotatividade de mão de obra, como o resto do setor, e perdemos talentos para as empresas de capital privado e de tecnologia; por isso estamos ansiosos para determinar se é possível reverter isso ao oferecer um equilíbrio melhor entre trabalho e vida pessoal."

O debate sobre a exaustão dos jovens financistas foi reacendido no ano passado quando analistas do Goldman Sachs espalharam uma apresentação na qual detalhavam jornadas de trabalho brutais e faziam acusações de abuso no local de trabalho. Reclamações semelhantes foram ouvidas nos setores jurídico e de consultoria.

Os bancos responderam elevando os salários dos recém-contratados para US$ 100 mil anuais ou mais —acrescidos de bonificações polpudas—, e ofereceram benefícios adicionais como bicicletas de exercício gratuitas. No entanto, poucos deles assumiram o compromisso de reduzir as jornadas de trabalho do pessoal.

Este ano, o crescimento nas transações impulsionado pela disparada dos mercados de ações e pela era do dinheiro barato chegou ao fim, diante da alta na inflação e do medo cada vez mais profundo de uma recessão. Os bancos, entre os quais o Goldman Sachs, estão planejando demissões.

"As receitas do setor caíram significativamente e isso obviamente terá um efeito", disse Falcó. "Não me surpreende que haja quem esteja começando a enviar esse tipo de mensagem. Estamos monitorando a situação, por enquanto, mas contratamos mais pessoal júnior do que nunca, e continuamos empenhados em lhes oferecer carreiras de longo prazo".

Os 27 analistas bancários, de mercado de capitais e consultivos de Málaga –quase todos com idade inferior a 25 anos, exceto um que tem 32— representam uma pequena proporção da força de trabalho executiva do Citi.

As divisões bancária, de mercado de capitais e de consultoria recrutaram cerca de 160 pessoas na Europa, Oriente Médio e África este ano, e cerca do dobro desse número em Nova York.

"Em crises passadas, a indústria cometeu o erro de reduzir drasticamente o número de contratados no primeiro degrau de suas carreiras, e, quando os mercados se recuperaram, não tínhamos pessoas suficientes e gerações inteiras ficaram de fora", disse María Díaz del Río, diretora de pessoal da unidade em Málaga.

"Às vezes os bancos queimam seus analistas, e por isso queremos provar que eles podem trabalhar horas limitadas e ainda assim agregar valor", ela acrescentou.

"Quando estiverem trabalhando em acordo de fusão e aquisição, talvez lhes peçamos que estiquem um pouco seus horários, mas compensaremos lhes dando mais folgas. Eles estarão descansados na hora de cuidar de transações ativas, terão mais tempo para pensar e para exercitar a criatividade."

Ao fim dos dois anos, aqueles que apresentarem um bom desempenho terão a oportunidade de se candidatar a empregos em Nova York, Londres ou qualquer outro lugar.

"Há obviamente uma questão sobre quantos deles optarão por uma carreira de tempo integral no banco de investimentos", disse Falcó. "Quem quiser ir até o fim, terá de sair de Málaga um dia".

Tradução de Paulo Migliacii

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