Descrição de chapéu União Europeia inflação

Milhares de pessoas pedem aumento salarial em dia de greve na França

Paralisação afeta transporte público e eleva clima de tensão social no país

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Toni Cerdà
Paris | AFP

Milhares de pessoas protestaram na França nesta terça-feira (18), um dia de greve especialmente visível nos transportes, para reivindicar um aumento salarial que compense a inflação e criticar a resposta do governo à paralisação nas refinarias.

As demandas do protesto incluem, ainda, mais investimentos em escolas, hospitais e previdência social e abandono das reformas do seguro-desemprego e da mudança da aposentadoria de 62 para 65 anos.

A gota d'água para quatro sindicatos e várias associações foi, porém, a convocação de funcionários em greve nas refinarias realizada pelo governo para aliviar a escassez de combustível por semanas.

Manifestante segura uma placa com os dizeres 'Precisa-se de dinheiro' durante uma manifestação em Paris, França - Alain Jocard/AFP

Quase 300 mil pessoas, segundo a CGT, e 107 mil, de acordo com o Ministério do Interior, participaram dos protestos em várias cidades.

Em Paris, houve distúrbios. Dezenas de manifestantes vestidos de preto entraram em confronto com a polícia e quebraram vitrines de lojas e 11 pessoas foram detidas.

À medida que a marcha ficou mais tensa, repórteres da Reuters viram a polícia atacar os manifestantes, enquanto a BFM TV mostrou imagens de pessoas encapuzadas e vestidas de preto quebrando vitrines. Uma fonte policial disse que seis pessoas foram presas.

Jornalista ferido recebe atendimento durante protesto em Paris - Benoit Tessier - 18.out.2022/Reuters

Estudantes, funcionários públicos, comerciantes, trabalhadores do setor de energia e dos transportes, entre outros, foram convocados para defender o direito à greve e exigir aumento salarial.

A paralisação teve, porém, uma adesão desigual. O serviço de trens na região de Paris foi especialmente afetado.

De acordo com uma pesquisa da Elabe, 49% dos franceses desaprovam a greve, que no setor de transporte pode ser prolongada, informou o sindicato CGT nesta terça, poucos dias antes do início, na sexta-feira, de duas semanas de férias escolares na França.

O medo de perder poder aquisitivo foi a principal preocupação dos franceses durante o último ciclo eleitoral de abril a junho, e o apelo para economizar energia para evitar apagões no inverno (verão no Brasil) torna o ambiente ainda mais hostil.

Quando a França começava a virar a página da pandemia de Covid-19, a Rússia invadiu a Ucrânia, o que, junto com a resposta de Moscou às sanções ocidentais, fez disparar os preços da energia e dos alimentos.

Com a experiência do protesto social dos "coletes amarelos", cujo gatilho em 2018 foi o aumento dos preços dos combustíveis, o governo do liberal Macron aprovou rapidamente medidas para limitar a alta dos preços da energia.

Segunda maior economia da UE (União Europeia), a França registrou em setembro a menor taxa de inflação harmonizada da zona do euro, 6,2%, abaixo de outras economias como Alemanha (10,9%), Itália (9,5%) e Espanha (9,3%), conforme o Eurostat.

"Pedimos um salário mínimo de 2.000 euros (R$ 10.374), o que equivale a um aumento de 300 euros (R$ 1.556)", disse o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, na rádio RTL, defendendo ainda um reajuste de acordo com a inflação.

A demanda por um aumento de 10% motivou a greve da gigante energética TotalEnergies, que começou no início de setembro e causou, junto com a já cancelada greve da concorrente Esso-ExxonMobil, uma escassez de combustível.

A primeira-ministra da França, Élisabeth Borne, garantiu à Assembleia Nacional que menos de 25% dos postos de abastecimento continuam a ter problemas, contra 30% no fim de semana, e pediu o fim da greve.

O gestor da rede elétrica RTE advertiu que se a paralisação, que afeta parte das usinas nucleares, continuar, pode comprometer o abastecimento, às vésperas do inverno boreal.

"Superlucros"

Os grevistas da TotalEnergies rejeitam o acordo alcançado, com uma maioria sindical, de um aumento de 7% em 2023. O percentual foi considerado insuficiente, já que a empresa obteve mais de US$ 10 bilhões de lucro no primeiro semestre de 2022.

O diretor-geral da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, justificou o faturamento de de 5,9 milhões de euros em 2021 como o "menos elevado" dos gigantes europeus e que progrediu quase 52% após uma redução drástica durante a pandemia.

Ao se recusar a tributar esses "superlucros" em nível nacional, Macron colocou o governo "no campo dos grandes patrões, em total desconexão com grande parte dos franceses que sofrem com a inflação todos os dias", critica um editorial do jornal Libération.

O Executivo se dispõe até mesmo a recorrer a um polêmico método parlamentar —"provavelmente" nesta quarta-feira (19), segundo seu porta-voz— para evitar uma alta do imposto sobre os "superdividendos" das grandes empresas.

Ao ativar o método do 49.3, o governo poderia aprovar seu projeto inicial de orçamento para 2023 sem a necessária votação da Assembleia Nacional (Câmara do país), cujos deputados incluíram esta proposta no debate parlamentar em curso.

Com esse movimento, porém, o presidente corre o risco de reforçar sua imagem de "autoritário" e tensionar ainda mais o ambiente antes da explosiva reforma previdenciária no início de 2023.

O atraso na idade de aposentadoria de 62 para 65 anos que Macron deseja implementar enfrenta a oposição direta dos sindicatos, incluindo o reformista CFDT, e a oposição da esquerda e da extrema direita.

Suas primeiras tentativas em 2019 e 2020 também geraram protestos em massa nas ruas. Agora, o presidente francês, que fez dessa reforma um de seus cavalos de batalha, ameaça, inclusive, dissolver a Assembleia, onde tem maioria simples, se não for aprovada.

(Com Reuters)

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