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Eleições 2022 Auxílio Brasil

Lula e Bolsonaro são muito diferentes no quesito fake news

Presidente distribuiu informações erradas sobre economia durante debate no segundo turno

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São Paulo

Não dá para adotar falsas equivalências. Bolsonaro e Lula são muito diferentes, principalmente no quesito fake news, como ficou demonstrado no debate que deu início aos encontros dos presidenciáveis neste segundo turno, promovido por Folha, UOL, TV Band e TV Cultura, neste domingo (16). Mentir já foi chamado de a grande arte na política, mas Bolsonaro distribuiu fake news óbvias.

Não vamos tratar das mentiras sobre sua exemplar gestão da pandemia ou sobre dizer que Lula estava cercado de traficantes em sua visita à comunidade do Salgueiro, no Rio, nem ele insistir em não ter nenhuma relação com a institucionalização do Orçamento secreto.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL); candidatos à presidência participam de debate no segundo turno das eleições - Bruno Santos/ Folhapress e Marlene Bergamo/Folhapress

Bolsonaro voltou a exaltar a redução dos combustíveis, bem como os seus efeitos benéficos sobre a inflação. Todo mundo sabe que a queda tem relação zero com qualquer gestão admirável. O governo deu canetadas para reduzir o preço nas bombas, combinando o jogo com o centrão no Congresso. A estatal Petrobras está segurando os reajustes.

Reportagem da Folha assinada pelo repórter Nicola Pamplona mostrou, no início da semana passada, que o preço médio da gasolina nas refinarias brasileiras estava 10% abaixo da paridade de importação, conceito que simula quanto custaria importar o combustível.

O consumidor não pode se iludir. O que está ocorrendo é represamento de preços. O presidente não diz, mas vai ser preciso reajustar, e a conta vai vir mais salgada.

Bolsonaro também resolveu alardear os seus feitos em favor dos nordestinos, usando justo a transposição do rio São Francisco, uma obra lulista por excelência.

A transposição do rio São Francisco tem dois eixos: leste e norte. O presidente Michel Temer (MDB) inaugurou o eixo leste em 2017, na Paraíba, sob gritos de "Fora, Temer". Foi preciso colocar tapumes para afastar a população local, que atribui o mérito da obra a Lula.

Naquele momento, 94,52% do projeto original do eixo norte já estava concluído. Isso significa que a obra do eixo norte empacou no governo Temer e se arrastou pelo governo de Bolsonaro, que foi inaugurando os trechos finais a conta-gotas, já de olho nos votos que poderia conseguir no Nordeste.

Bolsonaro também não deu respostas a temas vitais. Não explicou de onde vai tirar o dinheiro para manter o Auxílio Brasil de R$ 600, valor que ele mesmo improvisou no meio da campanha eleitoral na tentativa de conseguir votos na baixa renda. Aproveitou para propagandear que prima pela responsabilidade fiscal, depois de furar o teto por quatro vezes e acabar com a credibilidade da regra fiscal.

É um fato. Lula ainda tem muito que explicar, sobre o passado e o futuro. O PT segurou a divulgação do texto final de seu programa de governo. Tem gente na frente ampla desgostosa com essa tática de segurar a divulgação das propostas. Muitas das que vieram a público são anacrônicas. Seria inocente imaginar que não haverá revisão lá na frente.

Exemplo. Lula voltou a defender a retomada do refino de combustíveis da Petrobras para evitar que o Brasil continue a depender da importação de derivados do petróleo e dos preços internacionais.

A preocupação é antiga, mas a solução desse problema tem um futuro mais complexo. O setor é forte emissor de gases de efeito estufa. Os combustíveis e produtos associados ao setor serão outros nas próximas décadas, talvez, em poucos anos.

Lula também frisa que pretende implementar uma agenda ambiental. Isso significa colocar o Brasil dentro da transição energética e restringir atividades que elevam a emissão de gases de efeito estufa. A pergunta virá em algum momento, mas o Brasil precisa investir bilhões de reais no refino de uma substância que em tese tem os dias contados?

Essa e outras contradições denotam um problema recorrente em muitas das propostas do PT: a insistência em manter o olhar no retrovisor, quando poderia adotar práticas inovadoras.

No entanto, durante o debate, Lula manteve a coerência na defesa do que acredita. Podemos discordar, mas lá estava ele defendendo seus pontos de vista. Quer reajuste do salário mínimo acima da inflação, mesmo que possa causar distorções à produtividade do trabalho, como dizem alguns economistas. Quer incentivar a indústria nacional, seja ou não uma prática eficiente para a economia.

No caso do Auxílio Brasil, manteve a proposta de taxar os mais ricos, adotando a tributação de lucros e dividendos. Vai ser fácil? Não. Pode dar errado? Sim. Mas Lula não está mentindo quando diz que vai tentar todas essas alternativas.

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